sábado, 29 de maio de 2010

jantar no eleven


Para celebrar uma data especial, a minha mulher decidiu levar-me ao eleven, no cimo do Parque Eduardo VII. Chegámos às oito e meia, ainda estava dia. A empregada que nos recebeu parece ter ficado muito desconfiada de termos uma mesa reservada em nosso nome. Terá achado que não tínhamos categoria suficiente? Ao longo da refeição, verificando que muitas mesas ficaram por ocupar, pensei se nos teriam mandado para trás caso não tivessémos feito reserva.
Já sentados, aceitámos um flûte de espumante rosé espanhol (ainda pensei que fosse cortesia da casa, mas não). Como ficámos instalados junto à janela pudemos assistir ao início da trajectória celeste de um luar alaranjado fantástico.

Primeiro trouxeram os pãezinhos à escolha: baguete, tomate, azeitonas e passas e pinhões (sobre este último não tenho a certeza). Boa manteiga. Depois vieram uns amuse bouche, servidos nas sacramentais colheres de sopa chinesas. Havia um de camarão confitado (parecia ter um sabor de fumado) sobre um quadradinho de gelatina de tomate, e com presunto crocante, outro de foie gras com rodela de laranja também crocante e uma almôndega de vitela panada.

Muito bons, talvez só não tenha gostado tanto do de foie gras. E depois, já servido em prato próprio, mas também em versão amostra, uma 'terrina' de peixe (garoupa, pregado ou outro ainda mais raro? Talvez peixe-galo ou, penso que é isso, raia. Como vinha em forma de medalha, tipo sabonetinho redondo de hotel, não deu para perceber) com caviar de espargos, ou qualquer coisa parecida. Estava agradável, mas não me pareceu nada de extasiante. Atenção que estes pratinhos eram minúsculos. Como se diz na gíria, não davam para encher a cova de um dente.
Para entrada propriamente dita mandámos vir a mais cara, uma salada de lavagante. Para quem não sabe, o lavagante é um marisco tipo lagostim, mas maior, e com duas 'bocas' ou pinças sobredimensionadas. Parece ter umas luvas de boxe calçadas. A salada estava óptima: além do lavagante, tinha uma cama de folhas de vegetais tenríssimas e um molhinho tipo vinagreta muito bom. Penso que também trazia o dito presunto crocante (crocante talvez em excesso, pois custava a saborear, o que é pena) e uns espargos bravos verdes 'glaceados' que o empregado que serviu explicou ser tempura (uma requintada técnica japonesa de fritura) de espargos. Sim senhor.
Para pratos principais mandámos vir um entrecôte e um bacalhau confitado. Quando o bacalhau chegou, pensei: 'Isto tudo?!'. Na segunda-feira tinha ido almoçar ao Cerveirense, na Rua de São Nicolau, pela primeira vez e pedido 'Bacalhau assado com migas'. Era um bacalhau na brasa e lascado, mesmo à maneira, uma travessa enorme (€10). O do eleven era bem diferente. Vinha sobre uma cama (melhor, um berço) de grelos e trazia uma 'telha' de batata (umas batatinhas minúsculas, cortadas transparentes, a formar uma espécie de bolacha belga. Quase não lhe consegui sentir o sabor). O bacalhau estava bom, mas era ridiculamente pouco. O mesmo não se pode dizer do entrecôte: um medalhão alto, cortado redondo, tipo aqueles ovos estrelados numa forma, como agora se usa. A carne era muito boa. Acompanhava com uma rede que ainda presumi ser de batata, mas não, e penne recheados de espargos, que não provei.
Para sobremesa pedimos um sortido. Trazia vários doces: panacotta, gelado de pistáchio, algum bolo, várias outras coisas que não retive, em quantidades reduzidas. Infelizmente o crumble de morango e ruibarbo não estava representado. A lista aconselhava a pedir-se a sobremesa com o resto dos pratos, dizendo que poderia demorar a fazer. Naturalmente não o fizemos porque ao escolher o prato principal não estávamos preocupados com a sobremesa... Questionando o empregado, ele disse que não havia qualquer problema de pedir no momento. Vieram ainda para a mesa, sobre uma bonita salva prateada, as mignardises, miniaturas de bolos (ou devo dizer pâtisseries françaises?) que teoricamente acompanham o café. A tarte de maçã era particularmente boa.
Uma palavra para a casa de banho: os lavatórios eram grandes tachos de cobre e o sabonete líquido (e creme hidratante) Kenneth Cole. Tinha um cheiro característico que associarei sempre àquela casa de banho e àquela noite. O cheiro misterioso, li no rótulo, era de tangerina azul, algo de que nunca tinha ouvido falar.
O serviço era muito simpático (à excepção da senhora da entrada que nos olhou de lado) mas quase exasperantemente lento. Parece que estes restaurantes sofisticados não conseguem funcionar com normalidade. Para tudo tem de se pedir licença. A conta demorou a chegar. Resultado: €159. E foi porque chamámos a atenção para um erro cuja rectificação reduziu o total em €10.
Veredicto: boa comida, em quantidades reduzidas (seria desejável doses um pouco maiores até para se sentir os sabores sem a angústia do seu desaparecimento iminente). Felizmente o pão é servido ao longo da refeição. Serviço simpático, mas demorado e aparentemente pouco rotinado. Estupidamente caro.

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