quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Restaurante Andorinhas, Ajuda

É estranho nunca ter falado aqui do restaurante Andorinhas, na Calçada da Ajuda (lá para cima, do lado esquerdo de quem sobe), de que tanto gosto e que conheço há vários anos.

Estive bastante tempo sem lá ir e regressei recentemente, pela primeira vez ao almoço, com a família. Continua na mesma: bom, movimentado, com o Sr. João ao comando.

É um restaurante para ir com amigos, pois tem várias entradinhas, como gambas descasacadas (queria escrever descascadas, mas descasacadas também é apropriado) com azeite e alho, cogumelos, favinhas, saladinhas de polvo e de ovas - enfim, um não mais acabar de pires com coisas boas.

A lista também apresenta uma grande variedade de opções de peixe e de carne - comida tradicional como filetes, lulas de várias maneiras e feitios, secretos... Mas curiosamente optámos por um prato que nem aparecia na lista, o entrecosto frito no tacho com amêijoas, que eles fazem muito bem.

Foi um bom regresso a um clássico. Os preços rondarão os 15 euros por pessoa.

O tachinho de entrecosto com amêijoas



p.s. (22.05.2017) um familiar que esteve nas Andorinhas há pouco tempo disse-me que mudou de gerência e que já não estava tão bom. É difícil, de facto, manter o nível de qualidade que tinha sob a batuta do sr. João, mas é de elementar justiça dar o benefício da dúvida aos novos proprietários.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Leon Goldensohn, Entrevistas de Nuremberga


A Tinta da China continua a fazer um bom trabalho, agora com a edição paperback de Entrevistas de Nuremberga (edição de capa dura em 2006). Era um livro que o Comilão queria adquirir há bastante tempo, mas demasiado caro (cerca de 30 euros). Estava à espera de uma oportunidade e ela surgiu nesta reedição que custa cerca de metade do preço da primeira, com a vantagem de ser mais bonita (a outra tinha uma capa amarela com foto de Goering, esta tem uma bela foto a preto e branco dos julgamentos).

A história deste livro remonta a 1946, altura em que Goldensohn foi destacado como psiquiatra dos arguidos. Tirou notas nas entrevistas realizadas nas celas dos prisioneiros mas nunca chegou a transformá-las em livro, pois morreu de forma inesperada em 1961. Em 1983 a viúva deu os papéis aos filhos, que por sua vez os passaram ao irmão mais novo de Leon, o neurologista Eli. A organização desses papéis ficou depois a cargo do historiador Robert Gellately, que também assina a excelente introdução. Explica as negociações que levaram a estes julgamentos, o enquadramento legal (mas de uma forma interessante) e a forma como o autor obteve estes depoimentos.

Em baixo, um link para um bom artigo sobre a história das Entrevistas:


Agora uma selecção de excertos feita especialmente para si pelo Comilão:

Karl Doenitz, o almirante que entregou a rendição:
«O leste está a começar a ameaçar o ocidente. A luta pelo poder está a ser travada entre duas culturas e dois tipos de seres humanos diferentes. Um dia ainda me vão agradecer por ter enviado a marinha para ocidente e por ter deslocado os nossos exércitos por forma a evitar uma rendição frente aos russos» (pp. 55/56)

Hans Frank, advogado pessoal de Hitler e administrador-geral da Polónia durante a guerra:
«Estão numa situação trágica, estas 21 pessoas que já dominaram uma parte do mundo. Já é possível observar os preparativos que podem vir a causar uma guerra mais cruel do que a última. […]  A bomba atómica. Mas espero que a humanidade tenha mais sanidade mental» (p. 65)
No Verão de 1923, surgiu a inflacção. Como se deverá lembrar, a França invadiu o Ruhr em Janeiro de 1923. Durante um terrível período houve fome. Um dólar americano valia 400 mil marcos. Mais tarde, em Novembro de 1923, um dólar passou a valer mil milhões de marcos. Foi nesta altura crucial que Hitler conquistou maior influência» (p. 68)

Walther Funk, ministro da Economia:
«Sempre tive o sentimento de que Ohlendorf era espiritualmente deprimido. Comentei por várias vezes com a minha mulher, quando Ohlendorf lá ia jantar a casa, que me parecia que aquele homem não conseguia mesmo ser feliz. Ohlendorf devia estar muito deprimido por causa dessa experiência. Não conseguia ter um riso solto. Um homem assim ou está deprimido, ou doente, ou é mau. Pensei que alguma coisa lhe perturbava a alma» (p. 133)

«Quase não convivíamos com pessoas do partido, e os nossos hóspedes eram maioritariamente artistas , como Richard Strauss, o maestro Wilhelm Furtwängler e outras pessoas do mundo artístico, inclusive autores, redactores e cientistas» (p. 148)

«A nossa cozinheira era maravilhosa e já tinha trabalhado para um irmão do imperador Francisco José. Fazia pão que era uma maravilha. Eu gostava de comer e de beber bem. Também apreciava bons charutos. A minha adega era famosa por ter lá vinhos raros das regiões do Reno e de Moselle, para além de alguns licores Chartreuse oriundos dos mosteiros onde eram produzidos originalmente»


«A minha casa em Wannsee foi saqueada pelos russos. Eu tinha uma biblioteca com catorze mil livros. Parte desses livros eram primeiras edições. Tinha uma grande colecção de biografias musicais e uma grande selecção sobre economia e filosofia. Ainda lhe sei dizer onde estava colocado cada livro. A minha casa em Bad Tölz também tinha uma boa biblioteca, mas era mais pequena. A casa foi decorada pela minha mulher. Mobilou-a com peças da Idade Média, incluindo um altar barroco de Würzburg. […] A biblioteca está em ordem e os móveis intactos» (p. 149)

Hermann Goering:
«Sou um capitalista e um cavalheiro culto»

«Quando me rio das provas sobre as atrocidades […] não se deve ao facto de achar isso engraçado mas porque é da minha personalidade rir-me em face da adversidade». Considerou a o extermínio dos judeus  um acto «bárbaro» e que seria condenado como «o maior acto criminoso da história».

Rudolph Hoess:
«Eu era penas o director do programa de extermínio em Auschwitz». Vivia com a sua família numerosa (mulher e cinco filhos) numa casa com jardim nas imediações do campo. O psiquiatra perguntou-lhe se costumava pensar nas execuções e cremação dos corpos. «Não tenho devaneios desses». Revela também que nunca teve pesadelos.

Joachim von Ribbentrop:
«Enquanto fui ministro dos Negócios Estrangeiros, ninguém criticou nada do que eu fazia ou dizia. Agora, de repente, todos estes arguidos acham que são mais inteligentes do que eu».

Marechal Willhelm Keitel:
«Hitler tinha charme, adorava crianças, encantava as mulheres. Em questões políticas, nada o fazia parar. Noutros aspectos, tinha emoções suaves e comoventes»

O livro mais valioso da minha biblioteca

O melhor presente que o Comilão recebeu neste aniversário foi da sua mulher: um livro que andei a catrapiscar durante algum tempo, mas que estava manifestamente fora do meu alcance. Trata-se de um de três volumes da Flora Americana de Johann Zorn (1739-1799), farmacêutico, botânico e ilustrador alemão. O título original da obra é Dreyhundert auserlesene amerikanische Gewächse (Trezentas plantas americanas escolhidas), publicado em Nuremberga em 1787. Contém 100 belíssimas gravuras de plantas das Américas cuidadosamente pintadas à mão.

As imagens falam por si.







terça-feira, 28 de outubro de 2014

Favas no golfe do Jamor

Na passada sexta-feira o Comilão almoçou no simpático restaurante do golfe do Jamor. Primeira nota: fica enquadrado num cenário muito bonito, sobretudo num dia de sol. A simples caminhada até ao restaurante é um prazer. Possui uma esplanada coberta para fumadores e apreciadores de refeições ao ar livre. Mas o Comilão e os seus amigos ficaram no interior, que faz lembrar o do 1.º Direito, em Monsanto.

A ida foi combinada também em função do prato do dia, favas com entrecosto. E valeu a pena. Estavam óptimas, muito tenras e bem confeccionadas, com a carne no ponto, a desprender-se dos ossos com facilidade, e enchidos saborosos. Foi pedido um pouco de arroz branco, bem soltinho, que acompanhou na perfeição. Para entrada há uns bons queijinhos frescos acompanhados por pão de fatia.

O serviço é atencioso.

Em suma: um almoço muito simpático, num lugar onde voltarei com gosto.

PS: Segunda visita ao golfe do Jamor. Pratos do dia: perna de porco assada no forno e pataniscas com arroz de tomate. Tudo bastante bom, sem deslumbrar. Simpatia mantém-se. Boa mousse de chocolate. Preço total de refeição para duas pessoas (com queijo fresco de entrada e mousse de sobremesa): 24 euros.

Aqui fica outra foto, desta feita de um belo arroz de pato, que só pecava pelo excesso de gordura que se acumulou no fundo do prato. De resto, excelente.