sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

A catedral subterrânea (Victor Hugo)



«Na Idade Média, quando um edifício ficava concluído, havia quase tanta construção dentro da terra como fora dela. A menos que fossem erguidos sobre pilotis, como Notre-Dame, um palácio, uma fortaleza, uma igreja tinham sempre um duplo fundo. Nas catedrais, era de alguma forma uma outra catedral subterrânea, baixa, sombria, misteriosa, cega e muda, sob a nave superior que regurgitava de luz e retinia de órgãos e címbalos noite e dia; por vezes era um sepulcro. Nos palácios, nos bastiões, era uma prisão, por vezes também um sepulcro, por vezes as duas coisas juntas. Estas poderosas edificações [...] não tinham apenas alicerces, mas, por assim dizer, raízes que se iam ramificando no solo em salas, em galerias, em escadas, como a construção de cima. Assim, igrejas, palácios, bastiões tinham terra até meio do corpo. As caves de um edifício eram um outro edifício onde se descia em vez de se subir, e que assentava os seus pisos subterrâneos sob as camadas dos pisos exteriores do monumento, como estas florestas e estas montanhas que se reflectem na água espelhada de um lago sob as florestas e montanhas da margem»

Victor Hugo, Notre-Dame de Paris (foto: cripta da igreja d'Anzy-le-Duc)

Existe uma passagem do Baudolino, de Umberto Eco, situada numa cisterna de Istambul, que também explora esta simetria.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Histórias insólitas dos escritores e da literatura

Li nas férias do Verão - já lá vão uns meses - este livro comprado na Férin. Está recheado de anedotas deliciosas e curiosidades sobre os escritores, as suas vidas e as suas manias. Penso que os tópicos a seguir elencados dão uma ideia da variedade do conteúdo.




Alexandre o Grande morre com a Ilíada nas mãos – 123
Demeny salva a obra de Rimbaud (e Max Brod a de Kafka) – 125
Tolstoi usa barba para disfarçar a boca desdentada, resultado de uma doença venérea contraída durante a juventude num bordel de Kazan – 126
Lou Andrée Salomé, amiga de Nietzche, amante de Rilke e pupila de Freud – 128
Victor Hugo sabe da morte da filha pelo jornal. Torna-se apaixonado pelo ocultismo – 131
O bibliófilo José Mindlín – 137
Kafka e a dismorfofobia - 147
Hábitos e manias dos escritores – 171-172
Manuscritos perdidos (entre eles o segundo volume de Almas Mortas de Gogol) – 174-175
Ler no WC – 182
Victor Hugo começa a escrever Os Miseráveis a seguir a ser apanhado em flagrante a cometer adultério. A amante é presa, ele é amnistiado. Mais tarde, é atribuído o seu nome à rua onde mora – 184
Corneille terá escrito as obras de Molière? – 188
Ésquilo morre atingido por uma tartaruga na cabeça – 191
Kawabata gasta o dinheiro do Prémio Nobel em pintura que vê numa galeria em Paris – 197
Os escritores e as drogas – 205-207 (artigo 'Paradis artificiels')
Obsessões de Victor Hugo e de Schoppenhauer – 207
Os ‘biscates’ dos escritores – 211-213
O medo de Hans Christian Anderssen de ser enterrado vivo – 214
A génese de Anna Karenina – 214
Impotentes – 216-217
Racine e o livro proibido – 240
Rambo e Rimbaud – 241
Os livros mais vendidos – 243
Obras-primas recusadas - 244
O que comem os escritores - 245
O encontro pouco frutuoso entre Joyce e Proust – 247
Um sonho premonitório – 248

Dante Gabriel Rossetti manda desenterrar Lizzi para recuperar o seu manuscrito – 252

Marc Lefrançois
Histoires insolites des écrivains et de la litérature
302 págs., €17,5
4 estrelas