sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Umberto Eco e J.-C. Carrière, A Obsessão do Fogo

Enquanto não termino a leitura deste livro fascinante, deixo alguns excertos que revelam a riqueza do conteúdo:

«Irá o livro desaparecer com o aparecimento da internet? Escrevi sobre o assunto a seu tempo, isto é, no momento em que a questão parecia pertinente. [...] Com a internet, regressámos à era alfabética. Se alguma vez julgámos ter penetrado na civilização das imagens, eis que o computador nos reintroduz na galáxia de Gutenberg e toda a gente se vê de ora em diante obrigada a ler. [...] Se passar duas horas no seu computador a ler um romance, os seus olhos tornar-se-ão bolas de ténis» (UE, 19-20)

«Num determinado momento, os homens inventaram a escrita. Podemos considerar que a escrita é o prolongamento da mão e, nesse sentido, ela é quase biológica. É a tecnologia da comunicação imediatamente ligada ao corpo» (UE, 23)

«Assim, os nossos bons velhos DVD passarão, também eles, para a arrecadação, a menos que conservemos os antigos aparelhos que nos permitam visioná-los.
Está é aliás uma das tendências do nosso tempo: coleccionar o que a tecnologia se esforça por desactualizar. Um dos meus amigos, um cineasta belga, conserva na sua cave dezoito computadores, simplesmente para poder continuar a visualizar trabalhos antigos. Tudo isto para dizer que não há nada de mais efémero que os suportes duradouros» (JCC 29)

«O culto da página escrita e mais tarde do livro é tão antigo quanto a escrita. Já os romanos desejavam possuir e coleccionar os rolos de papiro. Se perdemos livros foi por outras razões. Eles desaparecem por razões de censura religiosa ou porque as bibliotecas tinham tendência para arder à mais pequena oportunidade, tal como as catedrais, uma vez que umas e outras eram em grande parte construídas de madeira. [...]
Foi provavelmente a chegada dos bárbaros a Roma por repetidas vezes e o seu hábito de incendiar a cidade antes de a abandonar que fez pensar em encontrar um lugar seguro para aí colocar os livros. E o que seria mais seguro do que um mosteiro?» (UE 34-35)

«Descobrimos nos museus que as camas dos nossos antepassados eram de pequenas dimensões: logo, essa gente era mais pequena. O que implica necessariamente um outro timbre de voz. Quando escuto um disco antigo de Caruso, pergunto-me se a diferença entre a sua voz e a dos grandes tenores contemporâneos se deverá unicamente à qualidade técnica da gravação e do suporte, ou ao facto de as vozes humanas do início do século XX serem diferentes das nossas. Entre a voz de Caruso e a de Pavarotti, há décadas de proteínas e de desenvolvimento da medicina» (UE, 36-37)

««Pedi uma vez a estudantes de som, como exercício, que constituíssem certos ruídos, certos ambientes sonoros do passado. [...] Frisando que os pavimentos eram de madeira, as rodas das carruagens de ferro, as casas mais baixas, etc.» (JCC, 37)

«Joguei com o meu neto que, aos sete anos, se exercitava num desses jogos electrónicos por que tem afeição e fui severamente batido por dez contra 280. Contudo, sou um antigo jogador de flipper e muitas vezes, quando tenho algum tempo, jogo no meu computador a matar monstros do espaço, em todo o tipo de guerras galácticas, até com algum sucesso». (UE, p. 52

«Nas suas deslocações no final do século XVIII, os aristocratas transportavam consigo bibliotecas de viagem em pequenas malas. Em trinta ou quarenta volumes, em formato de bolso, eles não se separavam de tudo aquilo que uma pessoa virtuosa devia conhecer» (JCC, p. 58)

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Comer em Roma

Já lá vão uns meses desde que o Comilão e a sua senhora visitaram a Cidade Eterna. Mas vale a pena dedicar um post ao que se come por ali.

Aqui ficam imagens de quatro refeições:
- Orso d'Oro (3 estrelas). Os antipasti da casa tinham uma variedade notável
- Navona Notte (4 estrelas) - muito bom e muito em conta. Pratos recomendados: a terrina de melanzane (beringela) com mozzarella para entrada, as pizas, o tiramisù. Os pratos mais caros não são necessariamente os melhores
- Uma trattoria cujo nome não recordo, onde comi uns ovos estrelados com trufa memoráveis e uns ravioli negros com gambas