terça-feira, 31 de março de 2015

Restaurante Bolota, Terrugem

No passado fim-de-semana visitei com a família (pais, filhos, patroa) o restaurante Bolota, na Terrugem (entre Estremoz e a fronteira). Gerido por Júlia Vinagre, é uma casa alentejana de algum requinte e com credenciais firmadas. Conheço-a há bastantes anos: por que lá fomos pela primeira vez, se foi por acaso ou indicado, já não me lembro. O que é certo é que se revelou uma agradável surpresa.

Para começar há pão, tostas e vários patés: um óptimo de iogurte e hortelã, um de azeitonas,  um também óptimo de chouriço e carne, tipo recheio de croquete para comer com pão. Depois provei os sacramentais espinafres gratinados com gambas, sempre bons. Seguiu-se uma bela sopa de cação, que adoro. Como prato principal, costeletas de borrego grelhadas (marinadas antes, como me foi explicado) com puré de fruta que liga muito bem e esparregado. E para terminar, os sorvete sortidos. Ou melhor, para terminar mesmo houve descafeínado, um bombom de chocolate e corn flakes e o característico licor de bolota. E quase me esquecia que ainda provei o excelente bife dos petizes (sugerido pela empregada).

Estava tudo muito bom, talvez só as costeletas pudessem estar menos secas. Nisso, as do Fialho, em Évora, são as melhores que conheço. Também provei os lombinhos de javali (javali fatiado fino com molho), que estavam muito bons, e não provei o lombo de bacalhau com legumes fritos, mas costuma ser delicioso.

Além da óptima comida, a Bolota tem um ambiente muito cuidado, com os marcadores, os cortinados, tudo alusivo ao nome. Serviço simpático e atencioso (por exemplo: tendo sido pedida uma alteração ao menu, a empregado disse de imediato que não havia qualquer problema).

O menu com entrada ou sopa, prato, bebida e sobremesa custa 20€. Os pratos rondam os 17-20€.
Peguei num bloco de notas antigo à procura de um desenho do nosso cão, o Paco, que nos deixou na passada quinta-feira, 26/03/2015, com 16 anos, e encontrei estas palavras escritas há cerca de dez anos.
São a segunda parte de um poema, mas li-as e achei agora que funcionavam bem sozinhas.

Devo esclarecer que embirro com os cantores portugueses que cantam em inglês (iludidos de que assim poderão chegar a um público mais vasto), com os artistas que dão títulos estrangeiros às suas obras (porque é mais fácil e dá um ar modernaço), com os curadores nacionais que dão nomes em língua estrangeira às exposições que organizam (porque é sofisticado). Mas na altura escrevi em inglês e, apesar de ter o seu quê de pretensioso, gosto do resultado. Aqui fica:

Ask the rooftops to forgive the cold rain,
for she has nowhere else to cry.
Forgive the scaffolds for their victims
for their victims had to die.

I am the forgotten words of the poet
who took no notes in the dark.

(em breve partilho o desenho)

quarta-feira, 25 de março de 2015

Huizinga, Homo Ludens


Há dias estive na Book House, no Saldanha Residence, uma  livraria que gosto sempre de visitar porque tem excelentes livros brasileiros de História, Filosofia e Ensaio (nomeadamente da Companhia das Letras) que não se encontram noutros sítios. Nessa última visita vi uma série de títulos que me interessaram - neste último dia do pai recebi um deles, Homo Ludens, de Johan Huizinga, autor do qual já possuía uma biografia do seu compatriota Erasmo de Roterdão e o clássico L'Automne du Moyen Âge.

O livro pertence à colecção 'Estudos' da editora Perspectiva, que tanto aprecio: temas interessantes de humanidades, capas simples (brancas, pretas e amarelas), formato sobre o comprido.

Esta obra em particular trata, como o nome indica, do jogo como algo fundamental da natureza humana (mas não apenas, uma vez que os animais também brincam), sem adoptar um prisma utilitarista de certas correntes, segundo as quais o jogo serve para treinar, para aprender, etc. Ao estudar o significado da palavra em várias línguas, o autor vai revelando as suas conotações sagradas e religiosas.

Agora um excerto:

«Tal como não há diferença formal entre o jogo e o culto, do mesmo modo o 'lugar sagrado' não pode ser formalmente distinguido do terreno de jogo. A arena, a mesa de jogo, o círculo mágico, o templo, o palco, a tela, o campo de ténis, o tribunal, etc., têm todos a forma e a função de terrenos de jogo, isto é, lugares proibidos, isolados, fechados, sagrados, em cujo interior se respeitam determinadas regras. Todos eles são mundos temporários dentro do mundo habitual, dedicados à prática de uma actividade especial». p. 13

Johan Huizinga
Homo Ludens
Perspectiva, 2007
243 p.
(o exemplar da foto não é o meu)

terça-feira, 10 de março de 2015

Ideia para um anúncio


Um turista prepara-se para tirar uma fotografia a um monumento (uma catedral, por hipótese). Entretanto vem um carro que pára mesmo à frente da catedral e estraga-lhe a foto, por isso ele fica à espera que o carro se vá embora.

O carro sai e a vista fica desimpedida. Ele vai a correr tirar a fotografia mas vem outro carro e ocupa o lugar do anterior. Primeiro o turista fica chateado, mas depois apercebe-se de que o carro é tão bonito que não estraga a fotografia - na verdade, valoriza-a.

Quando ele vai finalmente fazer a foto, o carro começa a andar e ele perde a oportunidade. A igreja fica sem carros à frente, mas ele já não quer tirar a fotografia: sem o belo carro o monumento parece-lhe vulgar, perdeu a magia.

terça-feira, 3 de março de 2015

Variação sobre uma máxima


O pior cego não é o que não quer ver:
é que tenta impedir que o outro veja.