quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Sandes de presunto com ovo estrelado



Na Praça de Algés há uma senhora que vende um pão de Mafra fabuloso. Desta vez o Comilão usou-o para fazer uma sandes de presunto (Paleta de Porco Preto Ibérico, selecção Continente, o melhor presunto do mercado a um preço razoável, entre 5 e 6 euros). Mas juntou um ovo estrelado e cogumelos finamente laminados. Na foto o presunto não se vê porque está escondido pelo ovo.

Estava bom, mas não tão bom como a bifana do Comilão. A receita é fácil: febras fininhas, bem batidas, fritas em margarina e azeite com louro e muito alho (cuidado para não queimar). Também se pode pôr um pouco de colorau. Batidas, as bifanas não só ficam mais tenras como absorvem melhor o tempero. Com um bom pão, fica uma bifana de primeira categoria.

Espetadas de frango



Aqui fica uma imagem das espetadas de frango à Comilão (desta vez fritas em azeite e alho e não na chapa). têm tiras de bacon, de pimento e cebola inercaladas no peito de frango cortado aos cubos e ligam bem com os molhos agridoce e barbecue do McDonalds. Acompanha com arroz basmati, para quem gosta.

Italiano em Haia



Na capital da Holanda, uma cidade hiper-moderna, o Comilão e a sua família ficaram alojados no Novotel em Shveningen. Ali perto, encontraram um restaurante italiano que parecia acolhedor. E entraram. Havia fotografias de O Padrinho nas paredes e um homem sentado que parecia um capo a comer um belo bife do que parecia ser a mais tenra vitela. Os pedidos foram: uma sopa do dia, spaghetti alle vongole (tradicional esparguete com amêijoas que o Comilão comeu pela primeira vez em Nápoles) e ravioloni. A sopa estava muito boa. O spaghetti estava saboroso mas picantíssimo, queimava a boca. O ravioloni, um ravioli grande recheado com ricotta e coberto com um molho de tomate e queijo, estava delicioso. Pena as malaguetas terem estragado as vongole veraci.

Pizza tartuffo

A Pizza Marzano (no talão aparece Cavaliere) fica no Boulevard des Italiens (Paris), perto da Ópera Garnier, e tem uma esplanada muito agradável nos dias de sol. A ementa constou de duas pizzas: uma com mozarella de búfala, tomate fresco e manjericão; a outra com fiambre, crème aux truffes (uma espécie de natas perfumadas) e mistura de cogumelos do bosque. Esta segunda estava perfeitamente divinal. Restaurante bonito e bem localizado, com bom serviço, boa comida e preços razoáveis. Um achado na super-dispendiosa Paris. Não liguem à pontuação do Trip Advisor.

Bacalhau com batatas fritas



Eis um prato simples e delicioso. Coze-se bacalhau desfiado. Faz-se uma cebolada à parte, com bacon, pimento encarnado e alho. Coloca-se a cebolada, dois ovos cozidos picadinhos e coentros. Rega-se tudo com bom azeite. Acompanha com batatas fritas aos palitos fininhos e uma salada mista (alface e cebola).

Nota: o nome simplório da receita, 'bacalhau com batatas fritas', é uma provocação aos novos chefs que usam descrições pomposas e detalhadas para os seus pratos.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O Chalet da Memória

O Comilão recebeu no seu aniversário O Chalet da Memória e encontra-se neste momento a lê-lo. O livro extraordinário de Tony Judt (sobre quem já coloquei um post) está a superar todas as expectativas (que eram altas). Concilia duas qualidades que, isoladamente, já não são comuns, a subtileza e a profundidade, e juntas são ainda mais raras.

A propósito das manifestações em Portugal de 15 de Novembro (greve geral e protesto violento contra as autoridades), aqui fica um excerto do ensaio 'Revolucionários':

«De um ponto de vista, tudo era como devia ser: pedras do pavimento verdadeiras, problemas verdadeiros (ou suficientemente verdadeiros para os participantes), violência verdadeira e, por vezes, vítimas verdadeiras. Mas a um outro nível, tudo parecia não ser muito sério: já na altura me era difícil acreditar […] que uma comunidade de estudantes impudentemente obcecados com os planos para as férias de Verão – no meio de manifestações e debates intensos, lembro-me de muitas conversas sobre férias em Cuba – queria realmente derrubar o Presidente Charles de Gaulle e a sua V República.»
(sobre o Maio de 68 em Paris)


«O que nos diz do mundo da Guerra Fria, na Europa Ocidental, o facto de eu – um jovem estudante de história, bem informado, de ascendência judaica da Europa de Leste, fluente em várias línguas e muito viajado pela minha metade do continente – desconhecer por completo os acontecimentos cataclísmicos que na altura se desenrolavam na Polónia e na Checoslováquia? Atraído pela revolução? Então, por que não ir para Praga, sem dúvida a cidade europeia mais empolgante naquela altura? Ou Varsóvia, onde os jovens meus contemporâneos arriscavam a expulsão, o exílio e a prisão pelos seus ideais e ideias?»

«Mesmo os poucos audazes que eu conheci que tiveram a infelicidade de passar a noite na prisão, geralmente já estavam em casa à hora de almoço. Que sabíamos nós da coragem necessária para suportar duas semanas de interrogatório nas prisões de Varsóvia, a que se seguiam penas de prisão de um, dois e três anos para estudantes que tinham ousado exigir coisas que nós tínhamos como garantidas?

Apesar das nossas grandiosas teorias de História, não percebemos um dos seus pontos de viragem mais influentes. Foi em Praga e em Varsóvia, naqueles meses de Verão de 1968, que o marxismo se estatelou. Foram os estudantes rebeldes da Europa central que começaram a minar, a desacreditar e a derrubar, não só uns quantos regimes comunistas delapidados, mas o próprio ideal comunista. Se nos tivéssemos importado um pouco mais com o destino das ideias que invocávamos tão superficialmente, podíamos ter prestado mais atenção às acções e opiniões dos que haviam sido criados à sombra delas.

Ninguém se deve sentir culpado por nascer no local certo na hora certa. Nós, no Ocidente, fomos uma geração com sorte. Não mudámos o mundo; em vez disso, o mundo, obsequioso, mudou para nós».

Viver num país comunista

Danuta Walesa, mulher de Lech Walesa, fundador do Sindicato Solidariedade, líder anti-comunista, prémio Nobel da Paz e antigo Presidente da Polónia, disse em entrevista à Tabu:


«A geração que nasceu depois do comunismo já não consegue sequer imaginar os sacrifícios que os seus pais e avós tiveram de fazer para comer um pouco de carne, para ter senhas de racionamento, para saber se havia leite em pó ou fraldas para os bebés… Isso é óptimo. Mas, ao mesmo tempo, é pena que esta geração mais nova não tenha consciência do que custou alcançarmos o que hoje temos.»

«Não compreendo sequer como se pode apoiar um partido comunista perante a experiência daquilo que aconteceu noutros países, perante o fracasso económico, o facto de não haver nada nas lojas e de haver todo o tipo de constrangimentos, as perseguições, as humilhações, a proibição de livre expressão e pensamento…»

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Honra ao Honorato

No passado sábado o Comilão e a sua família foram almoçar ao Honorato, perto do Príncipe Real. Bem cedo, para evitar as extensas filas.
Convém fazer as apresentações: quem já lá foi diz que o Honorato é o melhor hambúrguer de Lisboa. E além disso pratica preços acessíveis, o que não é secundário. A entrada é discreta (ao que parece, tanto o dono como os clientes querem guardar segredo para afastar as multidões, o que não é fácil) e a decoração moderna (os tijolos prateados não são o meu ideal de beleza, mas tudo bem).
O Comilão pediu o hambúrguer honorato (com cebola em vez de milho). E o que dizer dele? Uma maravilha: a carne (com o tempero do sal e pimenta a sobressair de vez em quando), o pão (cortado em três, em vez de ao meio), o tempero, o queijo, as batatas fritas na hora. Até a maionese é deliciosa, com um travo suave a alho. Ainda para mais tem serviço à mesa, profissional e atencioso, o que não seria de esperar numa casa com estas características.
Em suma, talvez não seja apenas o melhor hambúrguer de Lisboa e arredores, mas quem sabe também é o melhor do mundo àquele preço (8 euros). Di-lo quem já provou o do Shake Shack, em Madison Square Garden (NY), do célebre guru Danny Meyer).
No Honorato cada hambúrguer também existe em versão mini, o que mostra uma preocupação simpática com as crianças. O Comilão dá nota máxima.


o hambúrguer Honorato, com belas e abundantes batatas fritas

P.S. - em visitas posteriores o Comilão ficou menos convencido da excelência da carne. Bons hambúrgueres, não há dúvida, mas...

Hambúrgueres artesanais Honorato
Rua da Palmeira, 33-A
Lisboa
preço: 28 euros (para três)
Veredicto: melhor é impossível
5 estrelas *****

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Por que evito usar o guarda-chuva


Numa bela pintura de Gustave Caillebotte de 1877, um casal elegante passeia de braço dado por uma praça de Paris. Ambos vestem impecavelmente (sobretudo ele: cartola, casaca, laçarote, colete, camisa branca). O chão está brilhante da chuva, mas o casal mantém-se impassível. Não é minimamente perturbado pelos pingos que caem do céu, porque o protege um amplo guarda-chuva que o homem segura na mão esquerda. Ao longe vê-se um transeunte a atravessar a rua encurvado para não se molhar: não tem a mesma sorte.

Um guarda-chuva permite andarmos à chuva sem nos molharmos, o que é uma sensação magnífica.

Nos meus tempos de estudante não percebia isso. Nos dias chuvosos, a minha mãe obrigava-me a levar um guarda-chuva para a escola, só que às vezes era um modelo de mulher (a minha mãe negava-o, contra todas as evidências). Eu levava o guarda-chuva contrariado e acabava por perdê-lo ao fim de dois dias.

Até que, já na universidade, ela me arranjou um de que eu gostava; azul-escuro, debruado com um tecido que fazia lembrar as meias de losangos escocesas, e um bonito cabo de madeira envernizada. Andava sempre na bagageira do meu carro.



Só comecei a valorizar o guarda-chuva em Londres, numa casa perto do Fortnum&Mason (a mercearia de luxo) que só vendia artigos para a chuva. Na montra havia uns manequins com gabardinas e dezenas de umbrellas pretas perfeitamente alinhadas. Depois, em Nova Iorque, entrei um dia numa perfumaria para comprar um perfume para a minha sogra e vi lá uns magníficos guarda-chuvas, com cabos irregulares de madeira natural. Espreitei discretamente para as etiquetas: custavam entre 400 e 700 dólares.

Hoje já não sei o que é feito desse meu guarda-chuva favorito. É possível que tenha ficado esquecido na bagageira quando vendi o carro. De qualquer maneira estava muito velhinho. Por isso, quando chove, ando com um daqueles que se encolhem para caber numa mala de senhora. Comprámo-lo em Delfos, na Grécia. Nessa viagem esperávamos apanhar um tempo primaveril, com o céu azul e o sol a brilhar. Não íamos preparados para o mau tempo, pelo que tivemos de comprar um guarda-chuva que estava pendurado à porta de uma loja. A loja era estranhíssima: uma espécie de túnel mal iluminado, onde se vendia de tudo um pouco, de detergentes a bibelôs e brinquedos, tudo aparentemente de má qualidade (ao contrário do guarda-chuva, diga-se). Para pagar, dirigi-me a uma pequena cabina de alumínio ao fundo da loja, uma espécie de guichê das finanças. Uma velhinha surgiu da sombra. Não se percebia por que não havia de estar simplesmente atrás de um balcão e tinha de passar o dia enjaulada naquela marquise.

Numa loja bem diferente, em Bruges, vi um guarda-chuva magnífico, inventado no Japão (marca Senzº). Resiste a ventos de 80 km/h e tem um formato assimétrico. É mais extenso para um dos lados do cabo do que para o outro, para resistir melhor ao vento e de forma a cobrir a pessoa sem invadir demasiado o espaço alheio. Essa assimetria faz com que se parece ainda mais com o símbolo do Batman do que um chapéu de chuva vulgar.



Por que razão não o comprei, se era tão bem concebido e acessível? Porque, para dizer a verdade, sempre que posso evito usar o guarda-chuva - o que faz com que o de Delfos, embora não seja o mais bonito do mundo, chegue perfeitamente para as encomendas. Quando vou para o trabalho não me dá jeito nenhum andar com a pasta do trabalho numa mão e o cabo do guarda-chuva na outra. Com as duas mãos ocupadas, puxar da carteira, abrir uma porta, acenar a um conhecido, atender uma chamada ou tirar o cabelo da testa tornam-se exercícios de malabarismo só ao alcance de um virtuoso, que eu não sou. Já para não falar das passagens estreitas, em que o guarda-chuva fica preso, ou da preocupação para não vazar o olho de um transeunte incauto, até porque o guarda-chuva limita - e muito - o campo de visão (essa é sem dúvida uma das suas maiores desvantagens).

Isso faz-me lembrar uma cena a que assisti há tempos no Chiado: uma senhora dos seus 60 anos desce a Rua Garrett com o seu guarda-chuva aberto, embora estejam a cair apenas uns pinguinhos. Sem reparar, espeta com ele com toda a força na cabeça de um rapaz, que ainda tenta desviar-se, mas a mulher é impiedosa na sua perseguição/ distracção. «Cuidado! Não vês por onde andas?!», resmunga a senhora, enquanto o rapaz, incrédulo, leva a mão à cabeça para ver se está a sangrar. A senhora continua incomodada. Noutros tempos, não teria seguido caminho sem pregar uma valente bengalada ao rapaz pelo seu atrevimento. Com o cabo do chapéu de chuva, naturalmente.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Pierre Hermé




O Comilão não é o maior apreciador de macarons, os célebres bolinhos em forma de hambúrguer que fazem as delícias das senhoras sofisticadas. Porém, há dias, em Paris, foi-lhe oferecido experimentar os da melhor casa, a Pierre Hermé. De início o Comilão rejeitou, mas depois foi tentado pelo requinte da caixa, digna de uma jóia, e o aspecto dos bolinhos. E, de facto, correspondeu à aparência. Uma textura de uma suavidade incrível e um sabor subtil, mas muito agradável. Continua a não ser a pastelaria favorita do Comilão, mas a qualidade do produto é do outro mundo. E já percebo melhor o furor que os macarons possam causar. Curiosamente, a primeira casa Pierre Hermé abriu no Japão, quando o pasteleiro estava proibido pelo seu contrato com a Ladurée de abrir em nome próprio Paris. Inaugurou recentemente uma sucursal no 16ème, de onde vieram os ditos macarons que convenceram o Comilão.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Como manter o gás do champagne

Aqui fica uma sugestão para quem não tem uma rolha própria para selar as garrafas de champanhe. Os franceses usam um método artesanal, que ninguém sabe explicar como e por que funciona. Quando se abre uma garrafa e não se bebe o champanhe até ao fim, coloca-se simplesmente um garfo sobre o gargalo, com o cabo para baixo. No dia seguinte, diz quem já experimentou o método, o champanhe mantém-se como se a garrafa tivesse acabado de ser aberta.

Em Paris, o Comilão bebeu um excelente Taittinger (lê-se Têtangê) Brut Réserve a acompanhar uma refeição de confit de canard (perna de pato) acompanhado por cebola confitada e batatinha salardaise (salteada com ervas). Uma combinação excepcional.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Um teste entre amigos

Um dia, enquanto jantavam, lembrou-se de fazer um pequeno teste aos amigos, para perceber os seus verdadeiros sentimentos para com ele. Colocou um pedaço de alface num dente, o que lhe dava um aspecto cómico e desgraçado que o tornava motivo de chacota, e ficou à espera da reacção. Ao fim de um minuto, depois de alguém ter contado uma piada, um dos amigos aproximou-se e disse-lhe baixinho:
- Tens uma coisa num dente. É melhor ires a um espelho tirar isso.

Aí percebeu tudo - este era seu amigo sincero; o segundo, que tinha rido demasiado da piada, nem por isso... preferia rir-se às suas custas enquanto pudesse; o terceiro também não lhe tinha dito nada, mas por timidez e reverência. Era, por assim dizer, o fiel seguidor.

100 maneiras

Há dias o Comilão e a sua mulher foram jantar ao Bistro 100 Maneiras, ali perto do Chiado. Chegámos sem mesa marcada, às 9 e tal da noite de uma sexta-feira, mas não houve problema. Para entrada vieram três coisas:

Salada de cogumelos com espargos e ovos escalfados - servida de forma original dentro de um boião hermético daqueles usados para fruta em calda, por exemplo. Uma verdadeira maravilha para o paladar, com o intenso sabor a bosque dos cogumelos (selvagens?) bem equilibrado com os espargos & companhia.

Queijo de cabra grelhado na selva - servido numa tábua, com tostas, nozes e doce (de abóbora?). O empregado acende um ramo de alecrim seco quando está a chegar à mesa, que deita o seu fumo para perfumar o queijo. Muito bom.

Bolinhas de bacalhau - muito saborosas, mas o recheio demasiado líquido

Prato principal (também para dividir) - leitão cozinhado a baixa temperatura (quadradinho). Pele estaladiça e saboroso, com óptimos acompanhamentos (camadas de batata tipo brandada), mas algo enjoativo depois de todas as entradas.

Sobremesa - gelado (bom), servido numa cesta bolacha e com uma calda

Decoração tipo 'pós-moderna', com requinte, não exactamente o meu gosto mas também não demasiado 'amaricada'.

Serviço descontraído (positivo) e atencioso.

Uma nota: Ljubomir Stanisic estava ao balcão com um grupo de amigos a abrir garrafas de champanhe umas atrás das outras. Estranho!

Bistro 100 Maneiras (antigo Bacchus)
Preço: 75 euros (refeição para dois)
Veredicto: comida muito boa, sendo a salada de cogumelos o prato que mais brilhou
4-4,5 estrelas

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A porta do congelador, 7 de Outubro de 2002

Por detrás da porta do meu congelador
está o cadáver de um peixe louco,
um saco com costeletas de porco
e meia dúzia de carcaças duras.


Por trás da porta do meu congelador
há um pedaço de Polo Norte
e 16 cubos de gelo
para beber em refeições futuras.


Para lá da porta do congelador
o relógio parou.
Há um silêncio de câmara mortuária
e vive-se permanentemente às escuras.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Maionese de pescada

Dois lombos de pescada congelada Pingo Doce, um boião de maionese, dois ovos cozidos, batata cozida, meia dúzia de camarões descascados, fatias de maçã, azeitonas (um ingrediente importante), um pouco de salsa e, para o toque final, fímbrias de pimento encarnado para decorar o prato (a receita é mais ou menos copiada do 2Good, no Restelo)

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

São Bernardo de Claraval

Revolvendo uns trabalhos antigos da universidade, encontro o seguinte numa nota de rodapé:

«Tu encontrarás mais nas florestas do que nos livros; as árvores e os rochedos ensinar-te-ão coisas que nenhum mestre te dirá»

São Bernardo (1090-1153)

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Jeffrey Archer cita Woody Allen

O Comilão está a ler Contos do Gato Vadio, de Geoffrey Archer, um livro muito giro, alegadamente escrito pelo autor com histórias que lhe foram contadas durante os dois anos em que esteve preso. Provavelmente as histórias não são verdadeiras - mas que importa, se dão gosto ler?

Aqui fica uma passagem bem engraçada, ainda que o mérito não seja de Archer, como se perceberá:

«Lembrei a Bob algo que Woody Allen disse sobre o assunto. O Sr. Allen não conseguia compreender por que razão Deus dera ao homem um pénis e um cérebro, mas não o sangue suficiente para ligar os dois».

(Também poderia ser «... mas não o sangue suficiente para os dois poderem funcionar ao mesmo tempo»)

Coragem e tolerância, duas frases de R. W. Sockman

Eis uma frase muito verdadeira:
«Quando estás em minoria, mostras a tua coragem; quando estás em maioria, a tua tolerância»
Ralph Washington Sockman, pastor metodista americano (1889, 1970)

São poucos os que conseguem reunir as duas qualidades.

Também escritor e autor de programas de rádio, Sockman tem outra frase interessante:

«Quanto maior a ilha do saber, maior a linha de costa do maravilhamento»

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

47 palavras com 2 ou mais GG

garganta, Gólgota, gigante, Gilgamesh, gangrena, gárgula, Gilgit, Gogol, (Van) Gogh, Guggenheim, gago, grego, engasgar, galgo, galga (calão para fome), ganga, gorgulho, Gôngora, Gonzaga, garganeiro, regurgitar, gigabyte, Grisogono (jóias), Gungunhana, gongo, Galápagos, garagem, Ganges, Górgona, Gengis (Khan), Gregório, Gagarine, gulag, Ganges, gargalo, Ngorongoro, Gauguin, gasganete, gigolo, Glasgow, grogue, gang, galego, gasganete, Glenmorangie, gorgonzola, gringo

A origem do Google (transcrição de uma notícia publicada no semanário Sol):

«Em 1938, o matemático norte-americano Edward Kasner decidiu pedir ao seu sobrinho de nove anos que inventasse um nome para um número muito grande. O número em questão era 10 elevado à centésima potência e o rapaz sugeriu uma palavra tão estranha quanto a grandeza numérica apresentada pelo tio: 'googol'. A ideia de imensidão foi então adaptada para Google».

terça-feira, 14 de agosto de 2012

La Brasserie de l'Entrecôte

O Comilão já lá tinha ido há uns anos e saído satisfeito. Desta vez a Brasserie de L'Entrecôte, na Rua do Alecrim, estava oportunamente aberta às 11 da noite, hora a que o Comilão e a sua mulher se despacharam para ir jantar fora sem os comilõezinhos. A ementa não tem grande história: entrada de salada e bife com molho de ervas e pimenta. Antes há um pãozinho, manteiga e uns patês (três variedades, bons) que se pagam à parte (mas ninguém avisa). Um extra de salmão fumado para a salada acresce cerca de 5 euros por pessoa. O bife é muito bom, o serviço é médio, o preço exagerado. Uma nota para as batatas fritas: todos os dias a Brasserie recebe cerca de 50 kg de batatas descascadas e partidas. São fritas na hora, sequinhas e estaladiças. Das melhores batatas fritas aos palitos disponíveis no mercado.

Brasserie de l'Entrecôte Chiado
Rua do Alecrim, 117
21 347 36 16
Total: €60,90 (duas pessoas) -  bife, 2 cervejas/ pax, 2 cafés. SEM VINHO NEM SOBREMESA
3 estrelas
Veredicto do Comilão: belo bife (se bem que o molho talvez se imponha demasiado), óptimas batatas fritas, ambiente simpático, mas exageradamente caro

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Espetadas de frango

Foi no sábado passado. O Comilão e sua mulher foram ao supermercado comprar o jantar e, à falta de melhor ideia, compraram peitos de frango que o Comilão ia transformar em espetadas. O processo é simples: limpar, cortar em tiras, marinar o frango (sal, sumo de limão, louro, pimenta e um pouco de colorau) e esfregá-lo com alho. Depois colocá-lo em espetos de pau (os que havia). Aquecer bem a chapa de ferro fundido (Le Creuset) e untá-la com óleo vegetal embebido num guardanapo de papel. Quando a chapa estava bem quente, colocou-se as espetadas. Acompanharam com arroz basmati, muito indicado. Há um ingrediente fundamental que ainda não foi mencionado e que tem de ser adquirido previamente: molho barbecue. O do MacDonald's serve perfeitamente.

Espetadas de frango com molho barbecue
Simples, barato, rápido e saboroso.
Uma refeição 4 estrelas

terça-feira, 31 de julho de 2012

Empadaria do Chef

Estava curioso por ver como eram as empadas. A empregada perguntou se podia ajudar e eu disse-lhe isso. Ela mostrou-me uma, orgulhosa do tamanho. Mas eu queria era vê-la por dentro, o recheio. Mas para isso tive de pedir. Galinha tradicional, a receita de José Avillez (pelo menos vi a assinatura dele no rectângulo de papel que cobre o tabuleiro). A empada é boa (creme, pedacinhos de galinha e de chouriço) e vem quente, talvez até demasiado. Mas a meio eu já estava a ficar empanturrado, pois pedi para acompanhamento arroz branco e batata palha, em vez de salada. As batatas sabiam a velho, o arroz não.

Empadaria do Chef
Armazéns do Chiado
€6,75
2,5 estrelas (nem bom nem mau)

Uma actualização (28.I.2013): A empada de frango Thai, com leite de coco (mas não se sente) e legumes, não é má. Desta vez já não havia bata-palha, só arroz e salada. Merece subir para 2,5-3 estrelas.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

60 minutos, órix-de-cimitarra no Texas

Ontem o Comilão viu uma peça jornalística muito interessante sobre reservas de caça a um animal em vias de extinção, o órix-de-cimitarra, no Texas (60 minutos, Sic Notícias). Uma conservacionista quer proibir que os animais sejam criados para serem abatidos, embora uma autoridade na matéria tenha mostrado sem margem para dúvidas que os números dos animais subiram acentuada e sustentadamente. Mas o testemunho mais interessante foi o do homem que levou aqueles animais para o Texas:
- Não gosto da ideia de eles serem abatidos. Mas sou experiente (ou sábio) e inteligente quanto baste para saber que tem de haver um incentivo à sua criação. E sei que, a partir do momento em que a sobrevivência dos animais depender exclusivamente do nosso altruísmo eles vão ficar ameaçados.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Moneyball

- Vamos ensaiar. Eu sou um jogador e tu vais despedir-me, diz Brad Pitt.
O outro começa com uma grande conversa. 'Foste muito importante para a equipa, blá, blá, blá'.
- Não é assim. Eles são jogadores de basebol. Tens de ser directo: 'Fulano tal, foste despedido'. Como é que preferias morrer: com cinco balas no peito ou uma na cabeça?
- Tenho mesmo de escolher?

sexta-feira, 13 de julho de 2012

A guerra do futebol


Apesar da minha admiração pelo escritor/ repórter polaco R. Kapuscinski, creio não lhe ter ainda dedicado qualquer post. Agora que estou a ler The Soccer War é uma boa oportunidade para o fazer. K. fala das suas experiências de quase-morte em África, por doença ou às mãos de milícias brutais (embora o título se refira a um episódio passado na América do Sul, mais concretamente nas Honduras).
A peça The burning roadblocks (Os bloqueios de estrada em chamas) é simplesmente arrepiante:

«I was driving along a road where they say that no white man can come back alive. I was driving to see if a white man could, because I had to experience everything for myself. I know that a man shudders in the forest when he passes close to a lion. I had to do it myself because I knew no one could describe it to me. And I cannot describe it myself. Nor can I describe a night in the Sahara. The stars over the Sahara are enormous. They sway above the sand like great chandeliers. The light of those stars is green. Night in the Sahara is as green as a Mazowsze meadow.
[...]
Burning logs blocked the road. There was a big bonfire in the middle. I slowed down and then stopped; it would have been impossible to have carried on. I could see a dozen or so young people. Some had shotguns, some were holding knives and the rest were armed with machetes. [...]
I was in the hands of UPGA activists. They must have been smoking hashish because their eyes were mad and they did not look fully conscious. They were soaked in sweat, seemed possessed, frenzied.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

A Viena no Tempo de Mozart e Schubert

O Comilão fez a promessa de deixar de comprar livros e, com uma ou outra recaída, tem-na cumprido. O último foi o Reborn (Diários) da Susan Sontag, capa dura da SGF, por apenas 6 euros. Uma oportunidade a que era difícil resistir. Antes disso o Comilão comprou Klimt, de Gilles Néret (Taschen, 9 euros). Em tempos havia lido um livro do mesmo autor dedicado a Toulouse-Lautrec. Os motivos por que deixou de comprar livros - e as vantagens que daí decorreram - serão escalpelizados noutro post.

Mas este post é dedicado a A Viena no Tempo de Mozart e Schubert, de Marcel Brion. Vejo-me obrigado a dizer que não tem a riqueza e curiosidade de A Holanda no Tempo de Rembrandt (ver post anterior), e aproxima-se mais de uma história convencional. Em todo o caso constitui uma leitura interessante, de que destacarei as seguintes passagens:

Maionese de pescada

Na última quarta-feira o Comilão e família foram almoçar ao 2Good, um restaurantezinho com esplanada no Restelo, como é costume. A escolha do Comilão recaiu sobre a maionese de pescada com maçã e espargos (de conserva). Como se vê pela foto acompanhava com juliana de alface. Uma combinação muito saborosa e um prato fresco ideal para estes dias de Verão. O Comilão também provou o prato do dia de carne, que era vitela assada (boa, mas podia ter mais sal).

4 estrelas
2Good
Rua Duarte Pacheco Pereira

sexta-feira, 6 de abril de 2012

A Holanda no tempo de Rembrandt

Rembrandt van Rijn, o grande pintor holandês, viveu entre 1609 e 1669 (ano em que foi inventado um sistema de iluminação pública eficaz), um período que praticamente coincide com o século de ouro. É esse século que este livro pretende descrever e caracterizar, através dos espaços (públicos e privados), dos costumes e dos personagens. O resultado é uma história próxima, atenta aos detalhes e pintada com realismo, como a pintura da época.

Aqui ficam alguns excertos saborosos:

«No começo do século XVII o solo da maioria das cidades ainda era de argila ou areia , mas as municipalidades começam a pavimentar a praça principal e as ruas mais importantes que lhe dão acesso: procuram assim favorecer o tráfico comercial»

«Encontram-se ainda ruas não calçadas, verdadeiras cloacas; sobretudo nos bairros velhos e pobres com casas de madeira de tipo medieval [...] que ficam tão próximas no topo que de uma a outra é possível um aperto de mão»

«Já não se construía se não em tijolo, um arenito claro serve comumeente para a ornamentação das fachadas»

«O clima exerce uma acção corrosva tão rápida que é comum alcatroar o exterior das paredes; com isso a cidade ganha uma tonalidade sombria»

«A igreja protestante não é um lugar santo no sentido em que a entendiam os católicos. Nelas se passeava-se quando fazia mau tempo. Ali se faziam assembleias , davam-se concertos»

Os guardas nocturnos e os polícias não gozavam de boa reputação. As diligências usavam velas para aproveitar o vento

»Nas moradias burguesas a cozinha foi promovida a uma dignidade fabulosa e tem algo de templo e de museu»

«Há quase um século utilizam-se facas de mesa. O uso de colher é mais raro. Na casa de muitos pequenos burgueses são consideradas jóias [...] come-se com os dedos e a faca. O garfo só aparecerá por volta de 1700, e por muito tempo será um luxo. Desse modo não se pode dispensar o guardanapo»

«Só os muito pobres, ou alguns camponeses, ainda utilizam, segundo a tradição medieval, uma baixela de madeira» 90

«A batata, introduzida na colecção botânica de Leiden por Clusius a partir do final do século XVI, era tida como venenosa; ricos amadores a cultivavam em seus jardins, assim como o tomate, a título de planta ornamental» 96

«o consumo nacional de cerveja é enorme» 97

«Passadas as dez horas, só ficam nas ruas os guarda nocturnos, os malfeitores em seus cantos escuros e alguns debochados mais ou menos clandestinos» 107

«Os pregadores condenavam até o costume dos passeios no campo [ao domingo] [...]. Desse modo, o domingo é sinistro» 112

«Junto da mãe em trabalho de parto cuida-se para que as velas tenham uma chama azul, sinal de que nenhum mau espírito ronda as cercanias. Logo se enterrá no pátio a placenta»122

Golius «passou três anos no império otomano e de lá trouxe a mais importante colecção de manuscritos orientais na Europa»145

Paul Zumthor
A Holanda no Tempo de Rembrandt
Colecção A Vida Cotidiana
Companhia das Letras (Brasil)
4 estrelas

quarta-feira, 21 de março de 2012

Peixe na Linha





No passado sábado o Comilão e família foram almoçar ao Peixe na Linha, entre a Parede e S. Pedro do Estoril. O restaurante fica mesmo em cima da praia (acede-se por uma escada íngreme) e, nas mesas junto à janela, como aquela onde nos sentaram, dá para ver, nos dias favoráveis (como foi o caso) os surfistas nas ondas. Um bonito espectáculo.
A comida também é um regalo, sobretudo o peixe grelhado. O Comilão e a sua mulher e filho comeram robalo grelhado que só pecou pela falta de batatas (duas pequeninas). O feijão verde salteado com azeite e alho estava particularmente bom. O vinho foi um Monte da Ravasqueira Rosé (regular). Para sobremesa houve, mais uma vez, tarte de limão merengada (excelente). A comida é boa e o ambiente também. Simples mas cuidado, com algum requinte mas sem pretensões, limpo e luminoso. Ou seja, quer se olhe para dentro quer se olhe para fora os olhos vão-se deparar com um cenário bonito. Serviço eficiente e simpático.

Peixe na Linha
Praia da Bafureira, S. Pedro do Estoril
tel.: 21 468 53 88
Preço da refeição para quatro pessoas: 140€
Grau de satisfação: 3,5 estrelas (tendo em consideração o preço elevado)

segunda-feira, 19 de março de 2012

Marisqueira Nunes, Pedrouços

Este foi um fim-de-semana de luxo para o Comilão & companhia. Na sexta-feira houve jantar no Nunes Real Marisqueira, em Pedrouços (para quem nunca ouviu falar, o suplemento Tentações, da revista Sábado, considerou o seu um dos dez melhores bifes de Lisboa). Trata-se de uma marisqueira vulgar, mas com produtos de qualidade, a começar pelo pratinho presunto de Pata Negra (12€) servido com o couvert. Os preços, naturalmente ressentem-se. O Comilão e sua mulher começaram pelas amêijoas, frescas mas no meu entender demasiado grandes e com pouco paladar (falta de sal e, sobretudo, de alho). Ao mesmo tempo vieram umas gambas al ajillo, essas sim de categoria. Para rematar uns secretos de porco preto belota, muito bons, que apenas pecavam pela pouca quantidade e escassez de acompanhamento (que se resumia às batatas fritas). E, por fim, uma tarte de limão merengada, muito boa.

Nunes Real Marisqueira
Rua Bartolomeu Dias, 120
tel.: 21 301 98 99
55 euros, duas pessoas (sem presunto nem cafés)
3,5 estrelas
veredicto: boas matérias-primas, bom serviço, pratica preços um pouco excessivos

quarta-feira, 7 de março de 2012

Bife da vazia no Piazza

No passado domingo o Comilão foi almoçar com a família e os pais. A primeira escolha era a esplanada italiana do Espelho d'Água, em Belém, mas estava cheia. Assim, optámos por outra esplanada, a do Piazza di Mare (antigo Spazio Evasione), que agora está coberta, o que faz algum efeito estufa. O Comilão tinha-se decidido por uma lasanha ou qualquer coisa do género, mas depois viu passar para outra mesa algo que lhe pareceu um bife com óptimo aspecto e mudou de ideias. E ainda bem. O bife estava magnífico, no ponto, com as bonitas marcas paralelas da grelha, suculento (não tão tenro, mas face às outras qualidades não teve importância) e muito saboroso. Acompanha com uma também óptima batata assada e tomate assado (bom). Enfim, uma refeição magnífica, finalizada com uma delícia de panacotta com molho de alperce (razoável, já se sabe que a panacotta não sabe a nada). Tudo foi regado com um Mateus Rosé. Serviço bastante simpático. Os outros convivas comeram fetuccine com cogumelos (mediano=), robalo grelhado (enrolado, sem espinhas, 22€) e lasanha bolonhesa. O ambiente estava demasiado quente, o que não foi desagradável. A esplanada tem o problema do preço (130 euros refeição para quatro pessoas e meia).

4 estrelas

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Duas refeições no Algarve

O Comilão e sua família passaram os últimos dias no Algarve. Em casa cozinharam-se: bifes com natas e cogumelos (bons), lombos de bacalhau no carvão (além despegá-los da grelha ser uma tarefa penosa, não estavam memoráveis) e esparguete com molho de tomate, farinheira frita e ovos mexidos com pimento, cebola e os cogumelos que tinham sobrado (foi comer até não poder mais). Nestas mini-férias também houve refeições fora. A primeira no restaurante Noélia e Jerónimo, em Cabanas de Tavira. Para entrada vieram umas gambas fritas muito boas (noutra ocasião havíamos pedido uma salada com gambas e manga que não ficava atrás), depois filetes de peixe-galo com arroz de coentros, também muito bem fritos os filetes e óptimo o arroz, e ainda umas costeletinhas de borrego com migas de espargos. A própria Noélia tinha vindo à mesa dizer que não sabia se ainda tinha espargos, mas afinal as migas vieram bem recheadas. Confessou-nos depois ter ido a casa buscar os que lá tinha. As costeletas também estavam boas, embora não fossem muitas. Por fim o tiramisu da casa com café e leite creme, muito agradável.

Já no domingo decidimos experimentar o Zé Maria, em Tavira, que se auto-intitula o rei dos grelhados. Como aperitivo vieram umas tiras de lula grelhadas, com azeite e cebola picada, fresquíssimas. Depois uma travessa cheia de peixe, também grelhado: salmonete, meio robalinho e outros peixes que o Comilão não sabe nomear, no total de uma boa meia-dúzia. Acompanha com salada, batata cozida e uma espécie de torricado (estava muito saboroso, mas foi pena o pão estar duro). Por fim ainda veio uma travessa com umas quatro costeletas do fundo (porco), bem grelhadas e penso que uma sobremesa. Uma refeição enfarta-brutos, mas de qualidade. E ambiente agradável, debaixo de um toldo com vista para um parque de estacionamento e uma escola. Mas o grande trunfo é sem dúvida o peixe.

Restaurante Zé Maria
Rua Maria Campina, 14
Tavira
3,5-4 estrelas
€33,40

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

The Perennial Philosophy



O Comilão está neste momento a ler The Perennial Philosophy, de Aldous Huxley, um autor cuja faceta ensaística muito aprecia. «The most needed book in the world.... A masterpiece», diz o NYTimes. Ao contrário da descrição do Guardian, o livro não é «a sweeping history of religious belief». Nada disso. É, sim, uma compilação de textos comentados (com as críticas de Huxley ao progresso) sobre como atingir o Absoluto, a Revelação, Deus, se preferirmos, e os meios para lá chegar. A grande insistência de Huxley é na negação da individualidade, do egoismo, da vaidade, para conseguir uma comunhão perfeita com o Universo. Aqui fica uma passagem que deu que pensar ao Comilão:

«Nós, como indivíduos separados, não devemos tentar pensar nela [Mente Universal] mas antes permitir que ela pense em nós» pág. 73

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Francis Bacon



No passado domingo o Comilão e sua mulher viram o documentário Arena, sobre o pintor britânico Francis Bacon, homónimo de um filósofo do século XVI-XVII. O documentário é interessante, mas fica bastante aquém de um da BBC que o Comilão viu no dia 11 de Setembro de 2001, o dia dos atentados. De qualquer modo, tem informação valiosa: a incursão de Bacon como designer de mobiliário, as suas várias relações (o pintor australiano, o aviador, o deputado...), por vezes violentas, e profissões, telefonista de um gentlemen's club, acompanhante (prostituto) e autor de pequenos crimes (furtos, presume-se). Um dos seus amantes morreu na manhã da inauguração da exposição no Grand Palais (só Picasso teve a honra de expor ali em vida) e outro no dia anterior à inauguração da Tate. É preciso azar. Bacon estava ele próprio em Espanha quando morreu, em 1992 (na altura o seu amante era um milionário espanhol muitos anos mais novo, José, que se tinha ausentado em negócios).
Há uns meses o Comilão tinha lido o livro de John Russell sobre o pintor (colecção World of Art da Thames & Hudson). Aqui fica um excerto:

«Stravinsky uma vez escolheu do clássico de Huizinga O Outono da Idade Média o facto de a vida nesse tempo se caracterizar por uma qualidade de silêncio quase inimaginável na segunda metade do nosso século [XX]. Em contraposição com esse silêncio, a música na Baixa Idade Média tinha um poder quase sobrenatural: nós que estamos constantemente rodeados de música, desejada ou imposta, teríamos dificuldade em reconstituir o estado de espírito de Dionísio o Cartuxo quando entreou na Igreja de S. João em Hertogenbosch e o órgão estava a tocar. Stravinsky, na sua obra tardia frugal, escusa e breve, diz Não ao fluxo auditivo indiferenciado que nos rodeia. [...]

[Bacon] visa colocar perante este fluxo indiferenciado de lixo viral a grande imagem solitária que arrebatará o olho vagueante e nos levará a dizer, 'Isto confere um novo sentido à vida'».

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Fires




O Comilão acaba de ler Fires - Essays, Poems, Stories, de Raymond Carver. «You should read Fires now», pode ler-se na contracapa e o Comilão seguiu esse conselho. O livro começa com o ensaio My Father's Life, que tem esta particularidade: não contando nada de extraordinário ou fora do comum, é um relato fascinante de uma relação entre pai e filho. O segundo ensaio é sobre o percurso do escritor. O terceiro é sobre o professor (já mencionado no segundo) que encorajou Carver a escrever e lhe emprestava o escritório para ele o poder fazer tranquilamente. Um professor da velha guarda, exigente mas também generoso.

O Comilão estava a pensar ontem à noite que uma das características da escrita de Carver é ater-se aos objectos, às coisas, ao mundo material, com descrições precisas. Não elabora muito sobre sentimentos ou outras coisas impalpáveis, mas eles estão lá (projectados nas coisas?).

Depois dos ensaios vêm os poemas - têm passagens interessantes, mas não é, para o Comilão, o género mais conseguido - e depois dos poemas as histórias. A que o Comilão guarda melhor na memória chama-se Too Much Water So Close to Home, sobre um grupo de amigos que vão pescar e encontram no rio o corpo de uma rapariga morta. O Comilão já a conhecia, por ter lido e por ter visto um filme nela inspirado (Jandabyne), mas foi instrutivo relê-la.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Lixo

O escritor estava à procura daquelas páginas que tinha acabado de rever a altas horas na noite anterior. Tinha-lhe dado um trabalhão. Em cima da secretária havia duas versões: uma limpa, sem as alterações feitas, outra com as alterações e emendas a caneta encarnada. Como não encontrava a versão que tinha sido revista, já desesperado foi perguntar à empregada:
- Natacha, viu aqui umas folhas corrigidas? Eram iguais a estas - mostrou-lhe as folhas 'limpas' - mas já tinham umas alterações feitas a caneta encarnada.
- Ah, essas deitei fora, disse a empregada muito segura de si. Achei que não ia precisar delas, quando tinha essas tão direitinhas.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Live Forever



O Comilão recebeu como presente atrasado (do seu amigo o Venerável JB) o há muito desejado Live Forever, dedicado à artista norte-americana Elizabeth Peyton (n. 1965). E, quanto mais explora o livro, mais deliciosa acha a obra desta artista da qual se diz que se tornou célebre pelos retratos de amigos do meio da moda e da música. Essa descrição omite a subtileza e mestria com que Peyton usa a técnica da aguarela ou a dignidade que imprime ao simples lápis de cor. Os seus retratos - que trazem algo de novo a um género tão difícil para o artista de hoje - são simplesmente brilhantes, em mais de um sentido. Respeitam e estão imbuídos de toda a tradição retratística, mas ao mesmo tempo regeneram-na e dão-lhe uma frescura e leveza muito actuais.


O belíssimo livro da Phaidon, inspirado numa grande exposição do New Museum de Nova Iorque (que o Comilão já visitou) faz inteira justiça a essa obra notável. Em 2002 o Comilão tinha visitado outra exposição da artista no MoMA quando este se encontrava deslocado em Queens (NY), mas não encontra referências relativas a essa mostra.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Fornos do Padeiro

Na passada sexta-feira o Comilão e família, a convite de seus pais, foram jantar leitão da Bairrada a... Paço de Arcos. Os Fornos do Padeiro ficam numa zona algo incaracterística e devem o seu nome a uns fornos em tijolo notáveis (possivelmente reconstrução de uns anteriores que ali houvesse) que há no interior. Cá fora, o restaurante é assinalado por uma grande chaminé, também de tijolo. O espaço é amplo e agradável, com apontamentos típicos, como cadeiras em verga, que fazem lembrar um pouco a decoração d'O Madeirense. O couvert inclui bom pão (e broa de milho), azeite para molhar o pão, azeitonas, queijo de Azeitão e croquetes-bola de leitão (o Comlião comeu um e não ficou fã). O prato-forte é mesmo o leitão da Bairrada, feito como manda a lei. Acompanha com o molho de pimenta, óptimo, batatas fritas às rodelas, óptimas, rodela de laranja (aconselhável) e salada de alface juliana. O leitão não fica atrás do que se come nas famosas casas da Mealhada. O Comilão não pagou a refeição, mas deve ter rondado os €30 por pessoa, até porque vieram para a mesa duas garrafas de Murganheira tinto (óptimo).

Fornos do Padeiro
Estrada de Paço de Arcos, 6 B
Tel.: 21 4694148
Encerra à segunda-feira
Especialidade: leitão da Bairrada
Veredicto: 4 estrelas

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

The Paris Review Interviews




O Comilão acaba de receber uma encomenda da Amazon amaricana (sic) há muito aguardada: os quatro volumes das entrevistas da Paris Review em coffret. Agrada-me particularmente a cor dos livros: amarelo, azul turquesa, encarnado quase laranja e roxo. Quanto às entrevistas propriamente ditas, o Comilão só leu a de Truman Capote e o início de outra (Robert Stone), mas delicia-se com o texto de enquadramento cheio de detalhes de reportagem. Ficou por cerca de €40 (na Fnac cada volume custa cerca de €25 e obviamente não existe o coffret).

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

No primeiro lugar

«O segundo maior prazer da vida é ler livros.
O primeiro é comprá-los»
anónimo

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Últimas aquisições

O Comilão aproveitou os saldos da Fnac para comprar meia dúzia de livros. Aqui fica, a quem interessar, a sua enumeração:
- Walt Whitman, Selected Poems (Dover Thrift Editions) €2,80, de quem o Comilão nada tinha
- Justin Kaplan, Walt Whitman, a Life (Perennial Classics) €10, uma biografia por um escritor vencedor do Pulitzer e do National Book Award
- Great Short Works of Herman Melville (Perennial Classics) €10
- Aldous Huxley, The Perennial Philosophy (Perennial Classics) €10, uma obra que o Comilão procurava há muito tempo
- Gustave Flaubert, Madame Bovary (Flammarion, GF) €1,50, só adquirido por estar danificado de uma forma curiosa (mal cortado em cima)
- G. W. Sebald, História Natural da Destruição (Teorema) €10, um autor que o Comilão tanto admira

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Bibliotecas cheias de fantasmas





É este o título de um livrinho de Jacques Bonnet, detentor de uma biblioteca com mais de 20 mil volumes (!). E o Comilão que pensava que tinha muitos livros... A palavra 'fantasma' aparece definida no capítulo 9. O que se segue é uma citação de uma citação:
«Fantasma: Folha ou cartão que se coloca no lugar de um livro tirado de uma prateleira de biblioteca, de um documento que foi retirado.» Petit Larousse

Este Bibliotecas Xheias de Fantasmas (nova grafia do Comilão) é um livro curiosíssimo sobre bibliomanias, leitores vorazes, coleccionadores de livros açambarcadores (aqui designados por 'acumuladores') e escritores peculiares. Curiosamente, o livro começa com estas palavras:

«A 1 de Setembro de 1932, o jornal O Século publica um anúncio para o preenchimento do lugar de conservador-bibliotecário no Museu Condes de Castro Guimarães, em Cascais, a 30 quilómetros de Lisboa. A 16 de Setembro, Fernando Pessoa envia a sua carta de candidatura, um documento de seis páginas [...]». A carta era tão peculiar que Pessoa não ficou com o emprego.

O autor, proprietário dessa colossal bibliopteca, é um homem imensamente erudito. E não perde uma ocasião de o mostrar, o que resulta, por vezes, num exercício de exibicionismo. A melhor passagem, quanto ao Comilão, é a seguinte, e encontra-se nas págs. 67-68:

«Em cada livro que se abre pela primeira vez há um efeito de «cofre arrombado». Sim, é exactamente isso, o leitor frenético é como um assaltante que passou horas e horas a escavar um túnel para chegar à sala dos cofres de um banco. Ele encontra-se perante centenas de cofres todos parecidos e vai abrindo-os um a um. De cada vez, o cofre finalmente perde o seu anonimato para se tornar único: há um que tem quadros lá dentro, outro esconde maços de notas, um outro jóias, ou cartas atadas com uma fita, gravuras, objectos sem valor, baixelas de prata, fotografias, moedas antigas, flores secas, dossiês, copos de cristal, brinquedos de criança, etc.Há qualquer coisa de inebriante sempre que se abre um novo, ao descobrir o seu conteúdo, e qualquer coisa de exaltante ao compreendermos que não estamos, ao fim de um tempo, face a uma sequência de cofres mas sim em presença das riquezas e das miseráveis banalidades a que se pode reduzir a existência humana».


Mais uma consideração nada marginal para os apreciadores de livros: como objecto é muito bonito, com a sua capa baça que parece coberta por uma poeira fina.



Jacques Bonnet
Bibliotecas Cheias de Fantasmas
Quetzal
164 págs., €14,50
3,5-4 estrelas

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Uma mulher muito fácil

A Tânia era uma rapariga tão fácil, tão fácil, mas tão fácil, que os amigos lhe chamavam (à boca fechada) 'Instantânia'.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Mercearia do Peixe, Caxias

No dia 24 de Dezembro o Comilão tinha passado por ali e visto uma grande algazarra. Assim, no dia 31 de Janeiro o Comilão e sua família para lá se dirigiram. O espaço é agradável: uma tenda, com chão de calçada, dando para o jardim em frente, embora à altura dos olhos haja uma barra da estrutura que tapa a vista para o exterior (no caso das mesas encostadas à janela). A primeira impressão, contudo, foi olfactiva: um cheiro desagradável que parecia a peixe frito. Aos poucos fomo-nos habituando, mas nunca desapareceu.

Comida: há entradinhas na mesa (para o Comilão apenas pão e manteiga). Mandámos vir pregado grelhado para duas pessoas (29 euros, dez euros mais barato que o robalo ou a dourada de mar): «É um peixe tipo solha, com carne muito branca. Eu trago para verem», disse o empregado. A propósito, o serviço é prestável e simpático (empregados portugueses). Voltando ao peixe: o Comilão já tinha visto pregado frito, assim grelhado nunca. Mas a verdade é que estava muito bom. Confirmou-se a carne branca e tinha o bom sabor da grelha. A pele desprende-se bem (ao contrário da do linguado, que às vezes fica agarrada). Acompanhou com meia garrafa de Quinta da Aveleda (verde).

O Mercearia do Peixe gaba-se de ter «peixe fresco todos os dias e carnes de excelência».

Mercearia do Peixe (Cascata Real)
Av. António Florêncio dos Santos,7
Caxias (perto do Jardim da Cascata)
Estacionamento fácil
Veredicto: almoço agradável, boa comida, serviço simpático e preço razoável. Pena o cheiro
Pontuação do Comilão: 3,5 estrelas