sexta-feira, 21 de maio de 2010

Gente da Idade Média



Acabei ontem de ler este Gente da Idade Média.
Achei demasiado generalista e autojustificativo (o autor passa grande parte do tempo a dizer que não sabe, não lhe cabe ou não pode falar de determinado assunto). Em todo o caso, o pressuposto é interessante - fazer um retrato das vidas dos homens, mulheres e crianças comuns daquela época, estimados nos 90% da população geralmente esquecidos pelos historiadores.
Contém bastante informação útil, mas quase sempre avulsa. Para isso muito conta a atitude pedagógica do autor e o seu interesse pela etimologia. A ilustração da capa é um pormenor de A Dança dos Camponeses, de Pieter Brueghel.
2,5 estrelas (avaliação feita em função do tamanho do livro)
Aqui ficam alguns excertos curiosos:

«a extrema precariedade deste calçado explica que o mudassem mais ou menos de três em três meses e que a profissão de sapateiro fosse uma das mais activas e também uma das mais prósperas»

«Dada a densidade da edificação os incêndios eram, com efeito, o flagelo das cidades medievais: no século XIII, Rouen ardeu por completo quatro vezes. [...] Por outro lado, como a superfície em planta era pequena, tornava-se necessário construir por andares, por vezes a sobressair dos de baixo a fim de ganhar espaço; daí a imagem, romântica e excessiva, das casas 'medievalescas', barrigudas e a tocar-se de lado a lado da rua nos pisos superiores»

«As tapeçarias que no fim da Idade Média tornaram célebres as oficinas de Itália, de Arras, da Flandres ou do Anjou tinham uma função principalmente isotérmica, pois criavam uma camada de ar entre a câmara e a sua gélida parede»

«O termo tripalium, do qual ela [a palavra trabalho] provém designava um tripé utilizado, em particular, para imobilizar a garupa do cavalo enquanto o ferravam»

«Os ilustres carolíngios desunharam-se, além-Elba, em ignóbeis colheitas de eslavos, sclavi, que deram o seu nome aos rebanhos humanos levados para o islão ou para a cristandade do Oriente»

«Quanto ao gato, que ainda no fim do século XI a Igreja e, atrás dela, a opinião pública assemelhavam ao sabbat, à magia e ao Diabo, arranha, rouba e provoca crises de alegria»

«Como as comunidades monásticas não comiam carne, eram os frades, comedores de peixe e distribuidores de esmolas, que reinavam amplamente sobre os direitos de pesca»

«O grego monos (só) deu 'monge'»

«Quanto às sujidades, tratavam delas os cães e os porcos vadios - a fazer fé no abbé Suger, homem sério; só no século XIV passou a haver limpadores de ruas»

«a 'festa dos loucos', a 1 de Janeiro, na qual tudo era posto de pernas para o ar (recordação da investidura dos novos magistrados em Roma); o Carnaval, no Domingo Gordo, protesto satânico contra a Quaresma de privações que se avizinhava (nome proveniente, sem dúvida, de carnem levare, tirar a carne)»

«só no fim dos tempos romanos é que a palavra 'bárbaro' perdeu o significado de 'barbudo' ou 'tartamudo' e adquiriu um conteúdo negativo»

«já foi muito justamente lembrado que passaram tantos anos entre o merovíngio Grégoire de Tours e S. Tomás de Aquino como entre este e Jean-Paul Sartre»

Gente da Idade Média
Robert Fossier, Professor Emérito na Sorbonne
Teorema
474 págs.
25€

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