quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Dinastia Tang, Marvila

É um restaurante chinês reputado, com um ambiente peculiar, um pouco requintado, diferente daqueles a que nos habituámos. Tem umas mesas baixinhas convidativas, ainda que não muito confortáveis. E come-se bastante bem. Fica na Rua do Açúcar.

Recomendo a sopa Wonton e o pato à Pequim.


terça-feira, 21 de novembro de 2017

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Algumas passagens do Diário da Peste de Londres, de Daniel Defoe

"À volta de 1720, aquando de uma epidemia de peste em Marselha, epidemia essa que causou para cima de 100 mil vítimas, Defoe lembrou-se de explorar o clímax pestífero de Londres, onde se manifestava o receio de uma recidiva da peste que em 1665 vitimou para cima de duzentas mil pessoas, pondo-se a reunir elementos para a composição de uma obra que fosse ao mesmo tempo uma advertência à população londrina e um rendoso negócio", da introdução de João Gaspar Simões



"Naquele tempo cada um estava tão preocupado com a sua própria segurança que raramente se via piedade pela desgraça alheia. Cada um via, por assim dizer, a morte à sua porta, por vezes mesmo na sua própria família, e ninguém sabia o que fazer ou onde refugiar-se.
Isto, repito, suprimia toda a espécie de compaixão; a conservação de cada um parecia, com efeito, a regra primordial: as crianças fugiam dos pais, ao vê-los na maior miséria; em certos sítios, embora com menos frequência, os pais fizeram o mesmo aos filhos - sim houve exemplos pavorosos. [...]
Falo, claro está, da generalidade, pois em muitos casos viu-se exemplos múltiplos de inquebrantável afecto, de piedade e de respeito pelo dever" p. 128

"Gostaria de poder registar aqui o próprio som dos gemidos e das exclamações que ouvi da boca dos pobres moribundos no momento mais profundo da sua angústia e da sua desgraça; muito desejaria que os leitores pudessem ouvir, como eu próprio imagino estar a ouvi-los, pois ainda lhes ouço o eco nos ouvidos" p 116

Daniel Defoe
Diário da Peste de Londres
tradução de João Gaspar Simões
ed. bonecos rebeldes (estranha editora esta de que nunca tinha ouvido falar!)
comprado num hipermercado

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Bolota Castanha

Aqui fica um post apenas para aguçar o apetite, de uma refeição na sempre excelente Bolota Castanha, na Terrugem (entre Estremoz e Elvas). É pena que as fotos não façam jus ao requinte dos pratos e do ambiente, mas um certo pudor impediu-me de usar a máquina com à-vontade. Em todo o caso dá para ter uma ideia da qualidade da refeição.

espinafres com gambas (e bechamel), a entrada de cortesia

Uns lombinhos (de javali?) com esparregado e puré de maçã

O café, que vem acompanhado por um chocolatinho e um cálice de licor de bolota

terça-feira, 1 de agosto de 2017

tik tak. Almoço na Ericeira

No fim de semana passado, antes de uma visita ao convento de Mafra, decidimos ir almoçar à Ericeira, que não ficava longe. Tentámos o Mar d'Areia, mas estava cheiíssimo. Aliás, toda a vila tinha uma imensidão de gente, os restaurantes a abarrotar. Acabámos por arranjar uma mesinha bem agradável no tik tak, que nos pareceu ter boa pinta.

As primeiras indicações foram promissoras: pão (bolas tipo mafra) e excelentes azeitonas. Para entrada, umas amêijoas à Bulhão Pato, bem confecionadas, pena terem um bocadinho de areia (não muita). 15 euros.

Como peixe do dia havia um pregado de dois quilos (a 45 euros por quilo, a refeição ficaria uma pequena fortuna). Optámos por uma espetada de tamboril com gambas - muito apreciada - e polvo grelhado - menos elogiado, mas bom, com acompanhamentos vários e em tão grande quantidade (dois polvos por cada dose) que até sobrou o suficiente para levar para casa e fazer uma generosa saladinha de polvo. Até me questionei se, ao verem que tínhamos miúdos, terão reforçado a dose...

O preço acabou por ser um bocadinho puxado: 69 euros, mas com amêijoas, tanta comida e num sítio tão agradável, dificilmente poderia ser muito menos. Os empregados também se mostraram sempre simpáticos e eficientes. O tik tak ficou aprovado.



terça-feira, 25 de julho de 2017

No mercado de Algés

Já era fã do mercado de Algés antes da remodelação - e depois dela continuei a ser, embora mais dos vendedores das bancas (peixe, fruta, hortícolas) do que dos restaurantes.

Mas também já tenho comido bem nos restaurantes. Por exemplo, gostei muito do bao de barriga de porco vendido no sushi - um pão muito leve com carne tostada e alguns temperos orientais no interior.

As sobremesas da pastelaria também são muito boas - embora a um preço elevado.

E adorei este entrecosto comprado num estabelecimento chamado Petiscos, ou coisa parecida.

Comi os pickles com a casca de limão e tudo!


terça-feira, 30 de maio de 2017

A Rússia e a superfície da lua

Aqui fica o arranque promissor de "Estaline e os Cientistas", de Simon Ings:

"Entre 1550 e 1800, a Rússia conquistou todos os anos um território com a dimensão da Holanda atual, até que, no século XVIII, os escritores europeus se deram conta de que aquele país se tornara maior do que a superfície visível da Lua" (Prólogo, p. 1)

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Duas frases de Nietzsche

Eis o que sinto em relação a alguns que parecem esforçar-se por complicar o que é simples:

"Eles turvam as águas, para fazê-las parecer profundas"

"Quem sabe que é profundo, procura a clareza; quem quer parecer profundo para a multidão, procura a obscuridade. Porque a multidão considera qualquer coisa profunda se não conseguir ver o chão lá em baixo: a multidão é tímida e tem receio de ir para a água"
Os arautos do politicamente correto que gostam muito de invocar obras de arte revolucionárias (mas só porque já foram assimiladas), livros proibidos (mas só porque se tornaram de leitura obrigatória) e autores malditos (porque hoje já são consensuais...), são os mesmos, quando aparece algo que foge aos cânones ou que os incomoda, a arremessar pedras e a arrasar os prevaricadores. Gostam de arvorar-se em tolerantes, mas à primeira oportunidade não perdoam.

quarta-feira, 15 de março de 2017

O exibicionismo de um crítico (há quem goste; eu não)

Não é costume fazer aqui crítica à crítica, mas neste caso não consegui ficar indiferente perante tanta tontice e exibicionismo.

http://observador.pt/especiais/uma-noite-no-novo-restaurante-cabaret-de-jose-avillez-atencao-este-artigo-contem-spoilers/

Claro que o artigo de Tiago Pais tem aspetos engraçados, nomeadamente a forma como introduz a pessoa que o acompanhou e depois a transforma num leitmotiv ao longo do texto:

Decidi que não vou escrever “companhia/companheira” no resto do texto. Haja paciência. De agora em diante, passará a ser identificada como Nini, que dos hipotéticos diminutivos do seu nome verdadeiro é o que me parece mais apropriado à temática cabaret-gourmet.

Mas o artigo também tem aspetos irritantes - e de que maneira! A começar pelo título, onde surge o tão em voga 'contém spoilers'. Talvez funcione com o tipo de gente que anda atrás destas modas - e por isso vejo comentários do género "que delícia de texto". Mas não comigo.

Pior do que os modismos, porém, é a vaidade que revela esta narrativa sobre o 'privilegiado' a quem é concedida uma espécie de entrada VIP para um espaço ultra-sofisticado e secreto.

apenas umas horas depois, receberia um telefonema da sua assessora de comunicação, Mónica Bessone, com uma notícia e um convite:
 Tiago, o novo espaço já está em soft opening. Não posso revelar grande coisa, para já, mas queríamos muito que viesse conhecê-lo e jantasse cá uma noite destas.

UAU!, este tipo recebe telefonemas da assessora de comunicação do Avillez!

Outra coisa ridícula é o autor querer mostrar a erudição do seu palato, quando diz isto:

Já as pedras têm, no recheio, um estranho sabor a peixe. Discutimos o que será. Fígado de tamboril? Quase: “É fígado de bacalhau”, esclarecem-nos.

Ou esta passagem, talvez ainda mais patética:

Mais um desafio: que é pombo, disso não há dúvidas, que traz lascas de foie gras também não. O puré que acompanha não é tão fácil de identificar. Será cheróvia? Será nabo? Nabos somos nós e a cheróvia não sabe assim. Fui ver, era tupinambo.

Quanto ao restaurante em si, pareceu-me ser tudo aquilo que não me encanta: muito investimento num ambiente artificial, muitos maneirismos, uma comida cheia de efeitos. Tal e qual como o texto do crítico do Observador.

terça-feira, 14 de março de 2017

O 28 de maio e o fim da I República

Tem sido uma agradável surpresa a leitura de Ditadura ou Revolução? A verdadeira história do dilema ibérico nos anos decisivos de 1926-1936, do engenheiro electrotécnico aposentado José Luís Andrade.




Deixarei aqui apenas dois excertos que podem interessar aos meus estimados amigos e seguidores.

«"O 14 de Maio de 1915, que derrubou Pimenta de Castro, foi muito mais sangrento do que o 5 de Outubro de 1910; os combates que se seguiram ao assassinato de Sidónio, em Dezembro de 1918 e princípios de 1919, com o esmagamento da revolta monárquica de Monsanto, em Lisboa, e o derrube da Monarquia do Norte, foram uma autêntica guerra civil; a noite sangrenta de 1921, com o assassinato do fundador da República Machado Santos, do chefe do Governo António Granjo e de outros políticos moderados, foi uma selvajaria sem precedentes. De cada banho de sangue, o Partido Democrático saía mais confirmado na força do seu poder sobre o Estado, mais decidido a dominar a sujeitar a Igreja, e mais afastado e isolado do povo e do país" [esta é uma citação de João Seabra]
«Mas a verdade é que, apesar das dúvidas quer à esquerda quer à direita, muita gente, inconformada e enjoada com a triste realidade em que o País se tornara, conspirava para derrubar os 'bonzos' e levar à derrocada do Partido Democrático. E crescia assim, cada vez mais, o entusiasmo pela simplicidade e transparência da solução militar» pp. 63-64

Em Espanha:
«Sem que tivesse ainda assentado a poeira da agitação provocada por uma tão profunda mudança de regime, logo se iniciaram manifestações violentas do mais desenfreado anticlericalismo, com assaltos, pilhagens, vandalização e incêndio de igrejas, mosteiros e conventos. No dia 11 de Maio, grupos organizados com motivações anticlericais incendiaram em Madrid numerosas igrejas, conventos, estabelecimentos de ensino e outros edifícios de instituições religiosas. Como se isso não fosse suficiente, o ódio desenfreado levou-os a praticar carnavalescas representações sacrílegas, arrastando pelas ruas relíquias, ossadas, imagens e mesmo os próprios sacerdotes e religiosos». pp. 218-219

Imbecis superficiais e imbecis profundos. Dez aforismos de Karl Kraus

Aqui fica uma seleção dos melhores aforismos de Karl Kraus (pensador e escritor austríaco, 1874-1936), que encontrei no Citador (www.citador.pt)




Existem imbecis superficiais e imbecis profundos.

Educação é aquilo que a maior parte das pessoas recebe, muitos transmitem e poucos possuem.

O segredo do demagogo é de se fazer passar por tão estúpido quanto a sua plateia, para que esta imagine ser tão esperta quanto ele.

Uma das causas mais comuns de todas as doenças é o diagnóstico.

O vício e a virtude são parentes como o carvão e o diamante.

Um provérbio só pode nascer num estádio da língua em que ela ainda é capaz de silêncio.

Escolho o meu inimigo pelo alcance da minha flecha.

A técnica é um criado que faz tanto barulho a arrumar a sala ao lado que os patrões não conseguem fazer música.

A carreira é um cavalo que chega à porta da eternidade sem cavaleiro.

Os alunos comem o que os professores digerem.

quinta-feira, 2 de março de 2017

A Europa (e o mundo?) sob o jugo de Hitler e Estaline

Um excerto de The Dictators: Hitler's Germany and Stalin's Russia, de Richard Overy:

«Ambos os ditadores também refletiram brevemente sobre o que teria acontecido se tivessem cooperado em vez de lutado entre si. 'Juntos com os alemães', diz-se que notou Estaline, 'teríamos sido invencíveis'. Hitler, em fevereiro de 1945, pesando as opções que poderia ter tomado no passado, assumiu que 'num espírito de implacável realismo de ambas as partes' ele e Estaline 'poderiam ter criado uma situação em que um entendimento teria sido possível'».



Assustador... embora, em última análise, tivesse de haver uma luta pelo domínio que acabaria por derrubar um dos ditadores (ou mesmo os dois).

Aproveito também para partilhar um link para um artigo fabuloso de Antony Beevor sobre os nazis e as drogas que ajuda a explicar:
1. a aparente invencibilidade e super-humanidade dos soldados da Wermacht
2. o crescente alheamento de Hitler da realidade

http://www.nybooks.com/articles/2017/03/09/blitzed-very-drugged-nazis/

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Casa Luciano, Ayamonte

É uma falha imperdoável não ter ainda falado aqui da Casa Luciano, em Ayamonte. Aliás, em Ayamonte come-se bem: calamares, presunto, tortilla campera, gamba blanca com sal grosso, ensaladilla russa e outros petiscos. Mas a Casa Luciano, além de tapas de grande qualidade, serve também uma bela paleta de cordero lechal assada no forno.

Ler os clássicos

É sobejamente conhecida a definição de clássico proposta por Italo Calvino: «Um clássico é um livro que nunca acaba de dizer o que tem a dizer». Tornou-se ela própria um clássico. E, de tão citada, acabou por perder alguma da sua força e do seu significado.

Pois também eu tenho refletido sobre o assunto e cheguei a outra conclusão:

Um clássico é um livro cujo conteúdo toda a gente conhece, mesmo quem não o leu. Diria mesmo mais: sobretudo quem não o leu. Porque esses têm uma ideia esquemática e estabilizada, enquanto quem leu tem uma ideia de proximidade, mais escorregadia e menos hierarquizada, que habitualmente obsta a essas generalizações, definições e conceitos.

É um pouco como se uns conhecessem o mapa e os outros tivessem andado mesmo no território.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

O peixeiro de Agustina

Por estes dias voltei a abrir o Dicionário Imperfeito de Agustina, editado pela Guimarães de Paulo Teixeira Pinto em 2008. E deparei-me com esta entrada de que gostei imenso:

«Pessoa comum
Uma vez, estando na praça do peixe, o peixeiro, que era uma pessoa muito viva - e eu sou péssima para contas, fui sempre, o que me inferiorizava mais era dizerem-me que a matemática é a ciência que está mais perto de Deus, e eu sentia-me a uma distância dele que me vexava imenso... - Mas, como ia dizendo, perguntei quanto era, ele disse: 'É tanto', e eu estava, enfim, a fazer as contas muito lentamente, e ele pegou numa lousa e perguntou: 'Sabe ler?' Mas não o disse por malícia nem por agressão. Aquilo saiu-lhe naturalmente. Fiquei feliz, ao concluir que não tenho realmente a cara de uma intelectual. Sou uma pessoa tão comum, que até se lhe pode fazer esta pergunta.»

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