quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Tony Judt (1948-2010)


Morreu na sexta-feira passada o historiador Tony Judt. Em Portugal era conhecido sobretudo pelo livro Pós-Guerra - História da Europa desde 1945 (edições 70), que lhe valeu o Prémio do Livro Europeu. A capa mostra uma fotografia de dois meninos de mão dada (a caminho da escola, presume-se) numa cidade destruída. Mas o texto de Judt que mais tem apaixonado as pessoas, sobretudo agora que ele morreu, chama-se Night e foi publicado no número de 14 de Janeiro de 2010 da New York Review of Books. O Comilão leu-o, na altura, sentado a uma mesa do Meu Café, em Campo de Ourique. Esse testemunho arrepiante começa precisamente assim:

«Sofro de uma perturbação motora neurológica, no meu caso uma variante da esclerose lateral amiotrófica (ELA): a doença de Lou Gehrig. [...] Ao contrário de quase todas as outras doenças graves ou mortais, uma pessoa pode contemplar assim à vontade e com o mínimo de desconforto a evolução catastrófica da sua própria deterioração.[...]
Pelo meu presente estado de declínio, estou efectivamente tetraplégico. [...] No mínimo, estou irremediável e completamente dependente da bondade de estranhos (e mais alguém).
Durante o dia posso pelo menos solicitar uma coçadela, um ajuste, uma bebida ou simplesmente uma deslocação gratuita dos meus membros - uma vez que a imobilidade forçada ao fim de horas se torna não apenas fisicamente desconfortável como psicologicamente quase intolerável. [...]
É então que chega a noite. Adio a hora de ir para a cama até ao último momento possível ainda compatível com a necessidade de sono da minha enfermeira. Uma vez 'preparado' para a cama sou levado para o quarto na cadeira de rodas onde passei as últimas dezoito horas.[...] Se permito que um membro qualquer seja mal colocado ou não insisto o suficiente para que o diafragma fique cuidadosamente alinhado com a cabeça e as pernas, acabarei por sofrer durante a noite as agonias dos danados.»

A caricatura é de David Levine.

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