Como não podia deixar de ser, o Comilão devorou o último livro do Comilão-mor, que também dá pelo nome de José Quitério. A obra chama-se Escritores à Mesa (e outros artistas) e versa sobre trechos literários de Camões, Camilo (o eleito de Quitério), Eça, Fialho, Aquilino, Pessoa, José Gomes Ferreira, etc., onde se fala de comidas e bebidas. O próprio autor escreve numa prosa escorreita e saborosa, usando um vocabulário rico a que não faltam certos arcaísmos. O capítulo 'Claude Lorrain, mestre pasteleiro', merece aplauso. O Comilão já conhecia os dotes de Lorrain como pintor de efeitos luminosos em fins de tarde clássicos, mas desconhecia a sua mão para a cozinha. Foi o inventor da massa folhada.
Transcrevo um excerto que também me chamou a atenção pelo total desconhecimento do biografado:
«Em 17 de Maio de 1997, no seu Rio de Janeiro, morreu Guilherme Figueiredo. Quem?
Nascido em Campinas a 13/02/1915, Guilherme Figueiredo naturalizou-se carioca aos cinco anos e formou-se em Direito pela Universidade do Rio. Não consta que tenha feito carreira jurídica, o que só lhe fica bem. As letras foram sempre a sua paixão, estreando-se em 1936 com um pequeno volume de poesia. [...]
Espírito aberto, cordial, crítico, bem humorado e generoso, aconteceu-lhe às tantas uma desgraça, a de ser irmão mais velho do general João Baptista de Figueiredo, o último Presidente da República (1979-1986) da ditadura militar. Logo a ele, democrata praticante e inimigo da censura. Dizia sobre esta: 'Sim, admito a censura. Mas a do público que não vê peça ruim e não lê livro ruim [...]'. Desde logo punha os pontos nos is: 'Não sou irmão do Presidente, ele é que é meu irmão.'»
Escritores à Mesa (e outros artistas)
José Quitério
Assírio e Alvim
274 págs., €15,5o
3,5 estrelas
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