O Comilão terminou ontem Shalimar o Palhaço, o primeiro livro do Salman Rushdie que leu. O exemplar foi adquirido na livraria Quinito, em Tavira. Trata-se de uma boa história, bem escrita (por vezes muito bem), sobre o conflito de Caxemira, com ramificações para o terrorismo internacional. Curiosamente, os capítulos sobre Caxemira são talvez os mais chatos, porventura devido à proliferação de palavras locais cujo significado o leitor não domina (o Comilão é demasiado preguiçoso para ir pesquisar). As melhores páginas são as que descrevem Estrasburgo antes da II Guerra. Têm uma leveza e um encanto que nunca mais são atingidos.
A escrita de Rushdie faz por vezes lembrar um pouco o Bomarzo de Mujica Láinez, pela densidade e, sobretudo, pelas suas simetrias (ou contrapontos): a cada coisa bela corresponde uma horrível, cada acontecimento feliz tem o seu reverso...
Aqui fica um exemplo da qualidade literária alcançada pelo autor, uma verdadeira pérola:
«Lembras-te, maej - disse ele -, quando eu era o palhaço mais triste de Pachigam e as pessoas ficavam todas contentes quando eu saía do palco?
Ela fez um barulhinho com os lábios como que a não dar importância.
- Tu eras o filho mais profundo - disse ela, orgulhosa. - Costumava afligir-me a pensar que podias afundar-te tanto dentro de ti que desaparecias.
[págs. 364-365]
Shalimar o Palhaço
Salman Rushdie
Dom Quixote
479 págs., €9,90 (promoção)
3,5 - 4 estrelas
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