quarta-feira, 28 de julho de 2010

Manuel Teixeira Gomes (1860-1941)


No ano em que se cumprem 150 anos do nascimento de Manuel Teixeira Gomes (não é um número redondo, mas para isso teríamos de esperar outros 50...), aqui fica uma biografia breve feita com base no artigo da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. A fotografia é de 1923, ano da eleição como Presidente, e foi tirada na legação portuguesa em Londres.

Nasceu em Vila Nova de Portimão em 1860, filho de um proprietário rural que era também cônsul da Bélgica no Algarve e importante exportador de frutos secos. Com apenas 10 anos o pai mandou-o para Coimbra, para estudar no seminário. Deixou o curso superior a meio, o que originou uma querela com a família. Estabeleceu-se em Lisboa, onde conheceu escritores como Fialho de Almeida e João de Deus, cumpriu o serviço militar e depois esteve no Porto, onde voltou a contactar com o meio literário. Reconciliado com a família, regressou a Portimão, onde teve vagar para se dedicar à escrita.


Com 23 anos partiu de viagem. Demorou-se em Itália, mas passou também pelo Norte de África e Médio Oriente. De regresso, esteve a aprender o negócio da família, onde acabaria por suceder ao pai. Foi o primeiro embaixador (na altura chamava-se ministro plenipotenciário) em Londres da República, sucedendo no cargo, que viu interrompido pela chegada de Sidónio Pais ao poder (1917), ao marquês de Soveral. Contribuiu para a não concretização da aliança anglo-germânica e defendeu os interesses coloniais portugueses, uma tarefa nada fácil. Também teve um papel importante na participação portuguesa na Grande Guerra. Em Londres, como conta José Quitério (baseado em Urbano Rodrigues), frequenta o Carlton, cujo cozinheiro é nada menos do que o célebre Auguste Escoffier, com quem trava conhecimento. No ano de 1923 é eleito Presidente pelo Partido Republicano. Antes, o Rei Jorge V convida-o a ficar hospedado em Balmoral, a residência de férias da coroa britânica, na Escócia, e afecta um navio de guerra para o seu regresso à pátria.


Como Presidente, Teixeira Gomes não teve a vida facilitada. Chama Afonso Costa de Paris para formar um governo consensual, mas falha na tentativa de conseguir um acordo entre os partidos. O seu grande triunfo é conseguir a elevação da sua Portimão natal a cidade. Entretanto, a instabilidade política não lhe dá tréguas. Em 1925 ocorre uma tentativa falhada de golpe militar (no ano seguinte, a revolução do 28 de Maio poria fim à Primeira República). Em Dezembro de 1925 renuncia ao cargo e apanha o primeiro barco que parte para o estrangeiro. Antes disso passa uns dias na sua casa da Gibalta, perto de Caxias. Viaja durante seis anos e estabelece-se em Bougie, Argélia. Morre cego e só no quarto n.º 13 do Hotel de L'Étoile, de onde nos últimos tempos já não saía. Os seus restos mortais foram transladados para Portimão num navio da Marinha Portuguesa, com honras de Estado.

Homem de gosto refinado, reuniu uma colecção notável que distribuiu pelos museus nacionais (no do Oriente pode ver-se a colecção de caixas de rapé, a segunda maior do mundo, proveniente do Museu Machado de Castro). As fotografias mostram-no rodeado de bronzes. Foi amigo de Columbano, a quem escreveu numerosas cartas, e Teixeira Lopes. A revista Ficções publicou no seu número fora de série 'de comer' (Julho de 2002) o seu conto Gente Singular, que relata uma estranha visita a um cónego de Faro.

Sem comentários:

Enviar um comentário