quinta-feira, 22 de julho de 2010

Michelangelo Merisi (1571-1610)



Este cesto com frutas (Biblioteca Ambrosiana, Milão) é a primeira-natureza moderna, um género que o Comilão aprecia particularmente (por que será?). Foi pintado cerca de 1596 por Caravaggio, um artista com uma especial predilecção por fortes contrastes de luz e temas violentos (David com a cabeça de Golias, Judite a degolar Holofernes, A crucifixão de S. Pedro...).

O cesto de frutas é mais sereno. Faz lembrar o Baco doente de 1593, uma vez que as folhas começam a murchar e a maçã apresenta sinais de decomposição, e é provável que tenha servido de estudo para outra pintura desse mesmo ano, o Baco com cesto de frutos.

Em Roma, no ano de 1600, Michelangelo Merisi conheceu o estrelato, com a comissão de O Martírio e A Vocação de S. Mateus, para uma capela da Igreja de S. Luís dos Franceses. Em 1605 atingiu o pico da fama, como mostra o retrato do Papa Paulo V.

Disse que Caravaggio tinha uma predilecção por temas violentos. Ele próprio, como homem, não era nada meigo. Apesar de privar com altas figuras da Igreja, tinha uma especial predilecção pela convivência com os vagabundos e os criminosos dos bairros pobres de Roma. O seu Pedro de O Martírio de São Pedro (crucificado de pernas para o ar para não se confundir com a crucifixão de Cristo) era um desses homens, e houve quem dissesse que o modelo de A Morte da Virgem fora uma prostituta encontrada morta.

Caravaggio envolvia-se com frequência em rixas perigosas. Matou um homem em 1507, na sequência de uma disputa originada por um jogo de ténis. Fugiu para a ilha de Malta, onde fez o retrato de Fra Antonio Martelli e foi ele próprio ordenado cavaleiro (mais tarde essa honra ser-lhe-ia retirada). Aí deixou mais duas obras: A decapitação de S. João Baptista (mais um tema sangrento) e outra representação do mesmo santo, mas enquanto jovem.

Ainda em Malta, na sequência de outra rixa, Caravaggio acabou por ser preso. Porém conseguiu evadir-se para a Sicília, onde hoje há numerosas pinturas suas. Daí, tentou rumar novamente a Roma, talvez na esperança de obter um perdão do Papa pelo seu crime. Foi parar à praia deserta e pantanosa de Porto Ercole. Morreu de febre tifóide no hospital daquela localidade a 18 de Julho de 1610. Fez nesta segunda-feira 400 anos.

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