terça-feira, 20 de julho de 2010

Murakami: Kafka à beira-mar



Devo começar por dizer que as expectativas eram altas. Talvez por isso o Kafka à beira-mar me tenha desiludido um pouco. Não que seja um mau livro, mas pôr um homem a falar com gatos? Francamente! Pontos fortes: lê-se bem e tem uma história engraçada. De uma forma geral está bem escrito. Algumas das coincidências e facilidades que ali encontramos só podem acontecer num livro, ou seja, tem situações pouco realistas. Que contrastam com certas notas realistas, como as descrições algo gratuitas de actos violentos com muito sangue, por exemplo.

Tenho de reconhecer que aquela música que nunca ouvimos, mas tentamos imaginar sem nunca sabermos como será pois não existe - ou existirá? - dá um toque mágico ao romance. Agora, parece-me que quer demasiado ser um romance contemporâneo. Possui meia dúzia de apontamentos, para não dizer tiques, de livro que se quer afirmar do seu tempo. A saber: fast food, ginásio, filosofia (quanto a mim metida a martelo, sem profundidade e posta na boca dos personagens de forma pouco credível), referências à II Guerra, sexo/masturbação, violência com sangue (não um sangue abstracto, mas concreto, espesso, com densidade), roupa de marca, muitas referências musicais, como se fosse a playlist de um iPod. Se fosse um filme teria banda sonora, o que não é necessariamente mau, mas também não é uma qualidade enorme, até porque nem sempre a música surge a propósito. Nada tenho contra estas características, mas parece-me demasiado fácil, se não preguiçoso, cumprir-se estes critérios e já está: obtém-se um 'romance contemporâneo'.

Mas também há que dar mérito ao autor. Com Kafka à beira-mar o Comilão estabeleceu um novo recorde de leitura: 150 páginas num dia. Já houve seguramente dias em que leu mais, mas, talvez por as páginas serem mais densas, nunca ascenderam a tantas. E além disso nunca ficou registado.

Kafka à beira-mar
Haruki Murakami
Casa das Letras
589 págs., €21,20
3,5 estrelas

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