Há sítios onde nos fazem sentir à-vontade e há outros onde nos fazem sentir que, por muito boa intenção que tenhamos, não pertencemos ali. Parece que os restaurantes do Alto Alentejo são peritos nisso: há os clientes habituais, que são tratados com todas as mesuras; e os clientes pontuais, que só são servidos por obrigação, mas com má cara. A Adega Típica Quarta-feira, na Rua do Inverno, em Évora, também é típica nesse aspecto. Logo à entrada percebeu-se uma desconfiança muito alentejana: 'Quem são estes forasteiros e o que vêm cá fazer?'. A resposta não era muito difícil. Íamos jantar.
Num Guia dos Restaurantes falava-se na simpatia do proprietário. Não diria que o homem é uma besta, mas... enfim, gosta de mandar no restaurante como um homem às direitas manda na sua casa. O filho, que serve às mesas, esse é uma joia de pessoa (simpático, bem mandado, o oposto do pai). Segundo problema: o cliente não escolhe nada. Quando perguntámos se havia uma lista, o proprietário rosnou: 'Isto agora é assim'. Menu fixo, entenda-se. Se quiseres, queres, se não quiseres vai-te embora. Come & cala. Também só há um vinho (com nome de pessoa, que não fixei).
Entradas: paio - não provámos; queijinho derretido com orégãos (no forno?) - mediano, excessivamente salgado; cesto de pão - regular; cogumelos assados no forno - bons, mas o Comilão já comeu melhores, também em Évora.
Prato principal: cachaço de porco preto assado no forno com batata assada. O equivalente a duas costeletas juntas. Desfazia-se na boca, muito bom. Acompanha com arroz (de cenoura, penso), a dita batata e um esparregado delicioso, parecido com migas de espargos bravos. Bravo.
Sobremesa: na casa chamam-lhe 'uma mariquice'. Consiste de uma tigela de salada de frutas e um 'pijama' de doces tipo conventuais todos muito bons e muito doces, ou seja, algo enjoativos. No final, como cortesia, um pequeno cálice de licor de vinho Mouchão. A conta é feita a olho: '40'.
Veredicto: boa comida, mau proprietário.
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