No sábado voltámos ao Torricado, restaurante do chefe Luís Suspiro no Campo Pequeno. Sentámo-nos na esplanada (o toldo faz efeito de estufa), com o grelhador por perto. Cheirava lindamente a peixe no carvão. Pedimos para entrada dois pastelinhos de massa tenra (uma maravilha), um couvert 'remendado' (com pão e broa, manteiga derretida e outra pasta sofrível) e ovos mexidos com farinheira, feijão verde e coentros (a combinação parece boa, mas o resultado podia estar melhor; talvez fosse da qualidade da farinheira).
Como prato principal, sardinhas. Atenção: não eram apenas sardinhas, mas 'Torricado de sardinhas', ou seja, quatro peixes em cima de um pão torrado com azeite depois esfregado com alho e talvez ervas aromáticas. Batata a murro e saladinha com pimentos encarnados e rodelas de cebola finíssimas a acompanhar. Tudo posto numa bela travessa oblonga. A combinação da sardinha com o pão estava divinal.
Um aspecto desagradável: o chefe não parava de dar ordens aos empregados e de os censurar. Sei que isso é normal num restaurante, mas na cozinha, à porta fechada. Não é nada simpático estar a almoçar calmamente e ter de ouvir: 'Ó Carla, anda cá. Tu sabes o que é que fizestes? Vai já pedir desculpa àquele senhor, ouviste? Vai!, estás à espera do quê?'. Uma pena...
O mesmo chefe estava a contar a um cliente: 'Sabe que eu nasci no Ribatejo, sou ribatejano de gema... Quando era miúdo, fazíamos grandes almoços de família nas margens [penso que empregou uma expressão mais castiça, tipo 'arribas', que me fez pensar num declive suave e arenoso] do Tejo, debaixo dos salgueiros. Montávamos um grelhador e enquanto um ficava a assar as sardinhas e os pimentos, os outros iam lá servir-se e buscar o vinho ao garrafão. Cada um tinha uma fatia de pão, um copo e uma navalha. Púnhamos a sardinha com o pimento, tudo em cima do pão - não havia cá pratos! -, e regávamos aquilo tudo com azeite. Ficava com um sabor especial de que nunca mais me vou esquecer'. A descrição deixou-me fascinado.
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