segunda-feira, 24 de março de 2014

Comida portuguesa para visitantes brasileiros 1 - Baixa

A pedido de MM, que está a viver no Rio de Janeiro e tem amigos que vêm de visita à capital portuguesa, aqui fica um post para orientar, no que diz respeito à comida, brasileiros que venham a Lisboa.

Em Lisboa há talvez milhares de restaurantes - nunca os contei, mas são muitos. Aqui referirei apenas os que conheço (ou se não conheço deixá-lo-ei bem claro), que recomendo e que praticam preços honestos. Não os da moda, ou aqueles que 'ficaria bem' referir.

Os estrangeiros que visitam Lisboa vêem no bacalhau e nas sardinhas os pratos nacionais 'obrigatórios'. Convém dizer que as sardinhas só são boas a partir de final de Maio e durante o Verão, quando estão gordas. Fora dessa época muitas vezes são congeladas, perdendo em termos de sabor. Também se deve alertar para o facto de não serem muito fáceis de comer, uma vez que têm muitas espinhas. Quanto ao bacalhau, dizem-me que o melhor, daquele que se solta em belas lascas, é o do João do Grão (Rua dos Correeiros, n.º 222), casa com muita tradição.

Mas, além do bacalhau e das sardinhas, há outros pratos típicos, como o cozido à portuguesa ou os carapauzinhos (ou jaquinzinhos, quando são muito pequeninos, daqueles que dá para comer de uma só dentada, cabeça e espinhas incluídas) fritos com arroz de tomate, de grelos ou de feijão. O cozido é sobretudo um prato de inverno e leva couves, cenoura, nabo, batata, vários tipos de carne (toucinho, entrecosto, carne de vaca magra, frango) e enchidos (chouriço, morcela, farinheira) - tudo cozido, como o nome indica. E ainda acompanha com arroz e feijão. É uma espécie de instituição nacional.
Além dos jaquinzinhos há a petinga (sardinha muito pequenina frita), que também é deliciosa.

Na zona da Baixa, onde trabalho, há muitos restaurantes de comida típica com qualidade. Frequento com regularidade três ou quatro: um deles é a Licorista, junto ao Rossio, na Rua dos Sapateiros, 218, logo a seguir ao arco do antigo palácio da Inquisição (que ficava do outro lado da Praça, onde hoje está o TN Dona Maria II). Em frente fica o Animatógrafo, um antigo cinema com uma bonita fachada arte nova em ferro forjado (dos melhores exemplos deste estilo na cidade), hoje transformado em peep show. A Licorista, outrora frequentada por Fernando Pessoa, tem sempre pratos do dia tentadores (favas, vitela, feijoada, ervilhas com ovos escalfados, arroz à valenciana...), filetes e um bom bacalhau à minhota, frito com cebolada e com batatas fritas às rodelas a acompanhar. O bacalhau, de resto, é a especialidade da casa.

Na mesma rua, um pouco mais à frente, para quem vem do Rossio (ou Pç. D. Pedro IV), fica a Adega da Mó (n.º 199), que de terça-feira em diante tem peixe bem fresco para grelhar e bons pratos do dia, como vitela estufada, arroz de polvo, borrego assado no forno... Além disso tem um empregado castiço, o Sr. Veiga, que fala várias línguas e trata os clientes com familiaridade - se for preciso até se senta à mesa e bebe um copo com eles, mas mantendo-se sempre atento aos pedidos.

Numa paralela, a Rua dos Correeiros, 30-34, fica o Rio Ceira, onde também se come bem - peixe frito, frango estufado, cozido à portuguesa (à quinta-feira) ou uma boa posta de bacalhau para cozer ou assar. À segunda-feira tem um coelho à caçador que é um verdadeiro petisco. Também costuma ter óptimo peixe frito: carapauzinhos, peixe-espada ou pescada fresca.

O Moma, na Rua de São Nicolau, 49, tem comida um pouco mais moderna, de inspiração vagamente italiana, mas com consistência. Normalmente tem sopa muito boa e boas sobremesas. Como prato principal já lá comi um bom esparguete com camarão frito, azeite e alho e um bom hambúrguer no prato. Infelizmente da última vez que o visitei foi muito demorado, o que estragou um pouco a boa impressão que tinha dele. Tenho de voltar, pois normalmente é uma boa opção, com uma esplanada agradável. Recentemente expandiu-se, com um novo espaço na R. dos Correeiros que me parece dedicado aos grelhados.

Na Rua da Conceição, n. 49, não muito longe da Sé, o Ruca tem umas gambas à guilho (ao alhinho) de que gosto muito, a um preço muito simpático. Vêm acompanhadas com arroz, mas atenção que são um pouco picantes. Também tem um polvo assado tenrinho, muito bom. No entanto, o aspecto algo escuro e antiquado da casa pode afastar alguns clientes.

Já perto da Pç. das Cebolas está a Nova Pombalina (R. do Comércio, n.º 2), onde os irmãos Manuel e Virgílio propõem belas sandes: a mais popular é a de leitão, mas também tem de carne assada com molho; serrana (queijo da serra e presunto); salpicão; lombinho (escalope de porco); queijo fresco, tomate e orégãos; frango estufado; atum com maionese, salada e ovo cozido. Além disso há excelentes salgadinhos, rissóis, croquetes, pastéis de massa tenra, pastéis de bacalhau - na sexta-feira passada comi dois, estavam óptimos -, sopa e sumos naturais ou vinho branco à pressão. Um lugar a visitar.

Na outra ponta da Baixa, no n.º 83 nas Portas de Santo Antão (uma rua antiga, com grande tradição e algum pitoresco, onde fica por exemplo o Coliseu dos Recreios, sala de espectáculos, ou a Sociedade de Geografia), come-se um dos melhores frangos de Churrasco da cidade, no restaurante O Churrasco (a que dediquei um post). Na mesma rua, no 150, está o Solar dos Presuntos, uma casa com prestígio, numa gama de preços mais alta. Dizem ser uma espécie de 'refeitório' da Maçonaria, mas várias outras figuras, como o treinador do Benfica, lá vão em busca de comida tradicional correctamente confeccionada.

Perto dali, nos Restauradores, está o Pinóquio, uma cervejaria típica, mas de grande qualidade. Obviamente os preços são mais elevados, mas come-se muito bem, seja marisco (como o camarão à Malaganha ou as amêijoas à Bulhão Pato) ou outras especialidades, como o pica-pau (carne do lombo cortada às tirinhas com molho). Tem esplanada.

Atenção: tirando o Pinóquio e o Solar dos Presuntos, que também são agradáveis ao jantar, todos estes são mais restaurantes de almoço, uma vez que a zona da Baixa à noite, inexplicavelmente, tem pouco movimento e torna-se um pouco triste.

Atrás mencionei que um dos restaurantes tem peixe fresco de terça-feira em diante, mas a observação é válida para a maioria dos estabelecimentos. A segunda-feira não é um bom dia para pedir peixe. Uma vez que os pescadores não trabalham ao domingo, o peixe à segunda-feira em princípio será congelado ou terá já uns dias.

filetes (muito bons) e sobremesa no Moma

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