sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
o sentido do equilíbrio
No seu célebre e admirável conto Funes el memorioso, Jorge Luis Borges fala de um índio dotado de uma memória prodigiosa. Este homem não se recorda apenas de imagens, lugares, pessoas, conversas. Recorda-se também de cheiros, sabores, sensações térmicas (o Comilão considera essa referência ao frio e calor um contributo inestimável de Borges para a literatura). E, nessa mesma linha, o Comilão gostaria de dar mais uma achega. Além dos sentidos tradicionais, há um aspecto que muito contribui para a nossa percepção do mundo: a sensação da gravidade e o equilíbrio. A anulação do peso do corpo, a sua 'levitação', constitui um dos grandes prazeres que a vida pode proporcionar ao homem, ainda que pouco reconhecido. Por isso as crianças adoram pular em colchões, por isso os rapazes passam horas nas ondas, por isso boiar é tão relaxante, por isso as pessoas não gostam de viajar de costas para o comboio, por isso os velhos apreciam as cadeiras de baloiço, que imitam o movimento pendular de um navio.
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