quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Wittkower, Sculpture

Era um dos livros recomendados pelo professor de História da Escultura na faculdade. O Comilão encontrou-o há tempos na banca do Joe, que tem sempre bons livros, em Tavira (primeiro sábado do mês, junto ao mercado).

Do mesmo autor, existe na biblioteca do Comilão outro clássico, Architectural Principles in the Age of Humanism (e ainda gostaria de ter Born Under Saturn).

Sculpture - Processes and Principles é uma transcrição das aulas de Rudolf Wittkower, coligida já após a sua morte. Propõe um ângulo original, porque em vez da história desta disciplina, preocupa-se sobretudo com as práticas (processos) e as técnicas. Tudo é explicado com clareza. Aqui ficam alguns excertos:

«Em velho (diz-nos Baldinucci) Giovanni Bologna gostava de contar aos seus amigos como um dia, em Roma, ele tinha feito um modelo de sua própria invenção e tinha-o acabado, como diz a expressão, coll'alito (que pode ser traduzido por 'com muito cuidado', como se respirasse). Mostrou esta bela obra acabada ao grande Miguel Ângelo, que lhe pegou e a esmagou por inteiro; então fez uma nova com uma extraordinária facilidade, mas completamente diferente da que o jovem Giovanni Bologna lhe tinha mostrado, e disse: 'Primeiro aprende a fazer o esboço e só depois o acabamento'» p. 153

«Para o escultor, a parte da cabeça humana (e talvez até de toda a figura humana) mais difícil de representar é o olho. Isto deve-se, evidentemente, ao facto de, de todas as partes do corpo humano, o olho ser a única que se define apenas em termos de cor e não de forma: a íris e a pupila» p. 188

«A relação entre o bozzetto e a execução ilustra um afastamento decisivo de um início relativamente clássico em direcção a um estilo não-clássico, inteiramente pessoal e emotivo. Bernini começava com uma figura clássica em mente. Mas à medida que o trabalho preparatório avançava, ele era, passo a passo, afastado da forma e do espírito do protótipo clássico» p. 191

«Mesmo antes de a comissão para o busto se confirmar, Bernini começou a fazer modelos de barro de molde a estudar a atitude geral do busto sem ter em consideração a parecença. Pouco depois de o Rei lho ter encomendado, foi vê-lo a Saint Germain. Nesta e em várias outras visitas subsequentes fez esboços do Rei enquanto este jogava ténis ou presidia a reuniões ministeriais. Ele defendia que o carácter único de um homem não se revelava numa pose artificial e autoconsciente, mas apenas enquanto se desempenham as tarefas habituais. Ele queria ver o seu modelo a deambular, pois - dizia - o movimento traz à tona aquelas qualidades que são suas e só suas». p. 193

«Ele explicava que fazia esboços espontâneos para se imbuir das características do Rei, mas nunca usaria esses esboços enquanto estivesse a trabalhar o mármore» p. 193

«No Outono de 1667 o Papa Clemente IX decidiu embelezar a Ponte S. Angelo [...]. Dez anjos meditando sobre os instrumento da Paixão seriam colocados na ponte. Bernini foi escolhido para dirigir a empreitada e os mais proeminentes escultores foram convidados a participar. Os dois anjos esculpidos por Bernini (com alguma ajuda) nunca foram colocados na ponte; quando o Papa os viu no estúdio do artista disse que trabalhos daquela qualidade não deviam ser expostos às inclemências do tempo» p. 195

François Raguenet, em 1700, sobre Bernini: «Ele tratava o mármore com tal suavidade que parecia cera ou até mesmo carne» p. 204

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