sexta-feira, 29 de novembro de 2013

As mil e uma noites

«Em nome de Deus, o Misericordioso, todo de misericórdia. Louvor a Deus, senhor dos mundos. A oração e a salvação estejam com o melhor dos Enviados, nosso senhor e mestre Maomé e com a sua família. Que a oração e a salvação se juntem a ele até ao dia do Juízo».

Não, o Comilão não se converteu ao Islão. São apenas as primeiras linhas de As Mil e uma Noites.

Na origem da história estão dois reis irmãos.O mais velho, Shahriyâr, convida o mais novo, Shâh Zamân, a visitá-lo. Após dez dias de preparativos, o cortejo parte em direcção ao reino do irmão mais velho. «A meio da noite, ele apercebeu-se de que se tinha esquecido de uma coisa que o fez voltar atrás. Ao entrar no seu palácio, encontrou a sua mulher deitada no leito real com um escravo das cozinhas. Este espectáculo mergulhou-o nas trevas».

Shâh Zamân foi visitar o irmão, mas acabou por perceber que também este era escandalosamente enganado. E assim partiram os dois, até encontrarem uma mulher que os seduziu. Também ela, descobriram, enganava o génio com quem era casada...

«De regresso ao seu palácio, Shâriyar mandou decapitar as suas mulheres, servas e escravas. [...] Pôs-se então cada dia a desposar uma jovem, filha de príncipe, de chefe militar, de comerciante ou de gente do povo, a desflorá-la e a executá-la nessa mesma noite. Isso durou três anos. A cidade foi tomada pelo tumulto. Às tantas já não havia virgens na cidade. O vizir, encarregado de fornecer-lhe as raparigas, ficou preocupado. Uma das suas filhas, Shahrázâd, propôs-se a ir».

A mais antiga referência que se conhece é um manuscrito do século IX com a página do título, ainda com o número mil, e o início do texto. No século X, o historiador Mas'ûdî faz uma referência em Prados de Ouro: «Quanto ao resto, todos ou quase todos os que estão ao corrente da História têm este género de tradições por puras invenções, fabricadas ou embelezadas por pessoas que procuravam, ao ler ou ao debitar estes relatos, aproximar-se dos príncipes e assegurar as suas empresas ou dos contemporâneos. É o caso dos livros que nos chegaram a partir das tradições do persa, do sânscrito ou do grego. Assim é a obra chamada Hèzar afsâné, o que se diz, em árabe, Mil Relatos Extraordinários. Este livro é conhecido pelo nome de Mil e uma Noites. Conta a história de um rei, do seu vizir, da filha deste Shérâzâd e da sua serva Dînâzâd. Também se pode contar neste categoria Farzî u-Sîmâs, com as suas histórias dos reis da Índia e seus vizires, o Sinbad e outras recolhas do mesmo género.
[...]
No final do século X, um livreiro de Bagdad, Ibn an-Nadîm, deixou-nos no seu catálogo de livros conhecidos um desenvolvimento sobre os relatos que circulam nos serões e os contadores de histórias extraordinárias».

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