terça-feira, 3 de maio de 2022

A dama do nariz grande

Era primavera, a natureza parecia em festa. Um cavalheiro cujo nome não foi retido pelas crónicas não se cansava de apreciar o belo espetáculo oferecido pelos arbustos floridos em Holland Park.

- Vejam bem estas camélias! Seria preciso a pena de um Dumas para lhe fazer justiça! Ou o pincel de um pintor de génio...

A dois passos de distância, uma jovem senhora acompanhava a digressão do homem sobre as virtudes das plantas. Porém sem entusiasmo. Tratava-se de Lady N., famosa pelo magnífico apêndice nasal com que a Providência a brindara. A sua postura era recatada, como sempre, mas nem todo o recato do mundo era o suficiente para disfarçar a indiscreta protuberância.

- O aroma deste jasmim - divino! - é de levar uma pessoa às lágrimas... - continuava o homem. - Por favor, veja por si.

E desviou-se para dar passagem à senhora.

- Infelizmente não tenho olfacto - respondeu ela.

O seu apurado sentido de cavalheirismo levou-o a tentar reparar o agravo de imediato.

- Ó minha senhora, não imagina como lamento tamanho desperdício.

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