«Os macacos gostam de rir de nós, mas a menor suspeita de troça da nossa parte irrita-os profundamente. Nunca devemos rir-nos de um macaco, porque não o podem suportar». p. 64
(Um longo parêntesis:
O meu amigo Jorge Sande Lemos contava que o tio, que era diretor dos caminhos de ferro de Angola, certa vez em Benguela foi convidado para jantar em casa de um português lá radicado, provavelmente negociante. Para o prevenir, esse homem explicou-lhe que tinha um chimpanzé, creio, como criado, que ia servir à mesa. O convidado que não estranhasse - mas, sobretudo, que nunca se risse dele.
Excerto de entrevista do jornal Sol a Maria da Paz, tratadora de primatas do Jardim Zoológico:
Ouvi uma vez uma história de um homem, em África, que tinha um chimpanzé como criado, vestido a rigor, que servia à mesa e tudo. É possível treinar um primata a esse ponto?
Ter um chimpanzé vestido como criado, sim. Ter um chimpanzé treinado para levar coisas à mesa, sim. Agora, fazer uma refeição completa, já não acredito. Provavelmente teria um chimpanzé vestido como criado e se calhar levou alguma coisa à mesa. Não acredito que tenha levado tudo. Apesar de serem treinados, os chimpanzés não têm perfil submisso a esse ponto. Mas isso é uma situação muito estranha. Hoje em dia ainda há pessoas que dizem com orgulho que têm saguins e cercopitecos em casa. É horrível. Os animais têm de viver uns com os outros. Nós nunca vamos ter a capacidade de lhes dar o que eles precisam. O cão foi domesticado há milhares de anos e mesmo assim às vezes há problemas, quanto mais um animal selvagem.
Segundo a história que ouvi, o dono do chimpanzé dizia aos seus convidados: ‘Por favor, ajam com naturalidade, nunca se riam dele’. O escritor Axel Munthe também disse que os macacos gostam muito de se rir de nós, mas não gostam nada que as pessoas se riam deles. Isso é verdade?
Há uma coisa que é mostrar os dentes, que para nós é rir e para eles é um comportamento agressivo. ‘Estou-te a mostrar os dentes porque te vou morder. Vê como tenho dentes grandes para te morder’. Portanto, se eu me rir para ele, ele vai-se comportar como com os outros da sua espécie, pode-se tornar agressivo. Ele está a ler que é um comportamento da ameaça. Se eles se riem de nós? É preciso ter uma intimidade muito grande com os animais para perceber que eles se riem de nós – e não se riem como nós nos rimos, mas às vezes fazem determinadas coisas mesmo para nos chatear.)
Voltando a Axel Munthe e ao seu Livro de San Michele:
«A insónia não mata um homem, se este não se mata a si mesmo, e a falta de sono é uma das causas mais frequentes do suicídio. Mas mata a alegria de viver, mina as suas forças, suga-lhe o sangue do cérebro e do coração, como um vampiro. Lembra-lhe, de noite, o que o sono benéfico lhe deveria fazer esquecer. Faz-lhe esquecer, de dia, aquilo de que se devia lembrar.» p. 212
E ainda:
«Norstrom dizia sempre que eu tinha dois cérebros, que funcionavam alternadamente na minha cabeça: o cérebro bem desenvolvido dum imbecil e o cérebro mal desenvolvido duma espécie de génio.» p. 210
The precociously bright son of a Swedish pharmacist, Axel Munthe worked under Jean Martin Charcot, and in 1880, became the youngest doctor in French history. By the 1890s, he was world-famous for his healing powers, believed by some to be supernatural. He moved in the most colourful and exalted circles of fin de siecle Europe, counting amongst his friends Henry James, Howard Carter, Rainer Maria Rilke, Lady Ottoline Morrell and Count Zeppelin. Though physician to the Swedish court, where he became the lover of the Crown Princess Victoria, Munthe was more at home with nature than with people. He travelled through remotest Lapland, as well as across Europe, and his great love was animals, whom he went to great lengths to protect. In 1929 he published 'The Story of San Michele', an account of his life, shot through with his love for Italy and Capri, where he built a bird sanctuary and the house of his dreams, the Villa San Michele. The book became an international best seller, translated into 40 languages, and has become one of the classics of the last century.