Excerto do livro História para amanhã, de Roman Krznaric (edições 70)
«Poucas pessoas ouviram falar em John Woolman. Nascido em Nova Jérsia em 1720, Woolman era membro da Sociedade Religiosa dos Amigos, uma seita protestante radical mais comummente conhecida como os quacres. Os quacres distinguiam-se pela rejeição da ideia de um clero ordenado, pelo que podiam ter uma relação direta com Deus, e pela sua dedicação à promoção da justiça social. Mas eram também defensores de uma vida simples ou daquilo a que se referiam como «singeleza», materializada num conjunto de regras que ainda hoje vigoram, o chamado «Testemunho de Simplicidade».
Os quacres como Woolman usavam roupas escuras feitas de tecido sem tingimento e rejeitavam ornamentos vistosos como fivelas, rendas ou fitas. Minimizavam os bens materiais, preferindo poucos móveis de madeira a colchões estofados e cortinas de veludo. Comiam alimentos simples e até falavam com simplicidade, evitando títulos honoríficos referindo-se aos dias da semana como «Primeiro Dia», «Segundo Dia» e por aí fora.
No início do século XVIII, muitos quacres estavam incomodados com o número crescente dos seus confrades que andavam a quebrar as regras - de que era exemplo o próprio fundador da Pensilvânia,
William Penn, que vivia numa casa majestosa e tinha uma predileção por ótimos vinhos e por cavalos puro-sangue. Na década de 1740, Woolman encabeçou um movimento para devolver o quacrismo às suas raízes espirituais e éticas de singeleza e piedade. Viajou incansavelmente pelo país, pregando as virtudes da simplicidade e incitando os outros quacres a combater injustiças como a escravatura, tema acerca do qual publicou numerosos ensaios.
Não sendo nem um grande orador nem um intelecto brilhante a principal razão para a sua fama era, segundo um historiador, a de ser «o mais nobre exemplo de vida simples que a América alguma ver
produziu». Woolman transformou a vida simples num desporto radical. Depois de se estabelecer como comerciante de tecidos, para obter meios de subsistência, deu por si a ganhar tanto dinheiro que tentou reduzir os seus lucros pedindo aos clientes que comprassem menos tecidos e de peças mais baratas - o que não é algo que nos ensinem na Harvard Business School. Por fim, em vez disso, passou a tratar de um pomar de macieiras. Woolman foi também pioneiro do comércio justo, boicotando os artigos de algodão produzido em plantações com escravos e insistindo em pagar diretamente, com moedas de prata, aos criados escravizados das casas que visitava. E também era um vegetariano praticante. Certa vez, sendo-lhe oferecida carne de aves, respondeu: «O quê? Querem que eu coma os meus vizinhos?». Ao viajar como missionário para Inglaterra, em 1771, Woolman ficou tão incomodado com luxo da sua cabina navio que decidiu dormir, durante as seis semanas seguintes, no húmido e sujo convés, com os marinheiros. Ao chegar a Inglaterra, decidiu visitar York, onde planeava observar, em primeira mão, as pobres condições sociais do país. Mas, ao ouvir dizer que teria de viajar numa carruagem puxada por cavalos, Woolman decidiu evitar essa crueldade para com os seus irmãos equinos, preferindo, em vez disso, ir a pé - mais de duzentas milhas. Por fim, chegou a York, mas nunca mais de lá saiu. Enquanto ali esteve, apanhou uma dose mortal de varíola e foi enterrado numa campa de mendigo.» pp. 71-73E agora sobre o Japão:
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