terça-feira, 15 de outubro de 2024

Octavio Paz, Trabalhos do poeta (sobre a desaprendizagem)

 XIV

«Com dificuldade, avançando alguns milímetros por ano, abro um caminho entre as rochas. Há milénios que meus dentes se gastam e minhas unhas se quebram para chegar além, ao outro lado, à luz, ao ar livre. E agora que minhas mãos sangram e meus dentes oscilam, mal seguros, numa cavidade gretada pela sede e pela poeira, detenho-me para contemplar minha obra: passei a segunda parte de minha vida a partir as pedras, a perfurar as muralhas, a rachar as portas e a separar os obstáculos que interpus entre a luz e eu durante a primeira parte de minha vida.»

in Antologia Poética, ed. Círculo de Leitores, p. 41


O poeta e ensaísta mexicano Octavio Paz (1914-1998),
prémio Nobel da literatura em 1990


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