terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Margarida Acciaiuoli, Casas com Escritos - uma história da habitação em Lisboa

Excertos de Ribeiro Colaço:

«Na construção do prédio moderno há um grande deus que está sempre presente em toda a parte, e de quem tudo depende: é o cimento armado. Mas nada pode alterar a doçura dos nossos costumes; e o cimento só é armado, armado até aos dentes, lá fora; entre nós é o cimento armado para 'armar ao efeito'; - e deve dizer-se que o resultado não é brilhante.» p. 443

«as pedras, por terem sido sempre pedras, «não estranham muito ao verem que estão metidas numa parede dura», ao passo que o cimento, sendo «um pó muito fino, e a areia, segundo dizia uma quadra popular, um elemento que parecia estar consorciado com o Oceano», quando misturados por mão humana, «não fazem outra coisa senão chorar». E choravam tanto que, frequentemente, os moradores de alguns prédios recentes tinham que dormir com a cabeça embrulhada numa mantilha de lã, no caso de não quererem que na manhã seguinte os seus cabelos lhes escorressem até à cintura» p. 445

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Paulo Otero, Os Últimos Meses de Salazar

Alguns apontamentos da leitura desta obra publicada pela Almedina (2008):

Salazar exige que o incidente (a queda da cadeira, a 3 de Agosto) não seja divulgado (p. 33-34). Mas, a 5 de Setembro, a governanta, vendo-o tomado por uma extrema palidez, desobedece-lhe e chama o médico. Salazar queixa-se de dores de cabeça (p. 43)

Finalmente acede a ser observado no hospital.

Uma enfermeira de serviço vira-se para o médico e pergunta: «Quem é este velhinho?» p 49

Quando lhe perguntam se quer que se chame um confessor, interrompe: «Isto é um hospital ou uma igreja?» p. 56

A operação termina às 6h30 da manhã. Às 8h, a BBC e a RN Espanha dão a notícia. Às 9h é a vez da Emissora Nacional, mas omitindo a intervenção cirúrgica. Dia 16, após recuperar da operação, sofre AVC e fica às portas da morte.

A 26/09 Thomaz exonera-o do cago de Presidente do Conselho (p. 72)

A agência Magno é contactada e chama-se um escultor para fazer a máscara fúnebre (p. 74).

A partir do AVC fica votado a «uma existência sub-humana, sustentada por fios, aparelhos e cuidados médicos [...]. Do ponto de vista clínico já devia ter morrido mil vezes» (p. 77)

A 5 de Fevereiro regressa a casa. Permanece diminuído, isolado do mundo exterior. Só o deixam ver notícias seleccionadas. (p. 83-85)