segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Salsa e Coentros

O Salsa e Coentros, em Alvalade, é um restaurante de matriz alentejana, com boa comida assente em matérias-primas de qualidade.
Visitei-o em duas ocasiões próximas. Da primeira houve sopa de beldroegas com ovo escalfado e queijo de cabra (boa), míscaros com ovos mexidos (bom) e rosbife (no ponto, cortado como mandam as regras, só podia ter um pouco mais de sal).
A segunda refeição, foi mais à base das entradinhas, que merecem nota (e também estiveram na primeira refeição, mas não vale a pena repetir): pimentos assados, as famosas e deliciosas empadas miniatura, presunto Pata Negra, favinhas, e depois uma alheira (muito boa).

O Salsa e Coentros tem uma clientela fiel e famosa. Das duas vezes que lá estive vi Maria de Belém com o Padre Milícias (1.ª) e Vasco Graça Moura (2.ª). É um restaurante que mantém a qualidade em padrões muito elevados mas que, quanto ao Comilão, não chega a àquele ponto de deslumbrar. Ainda assim, uma aposta sempre segura a preços razoáveis.
as entradinhas

o presunto Pata Negra, finamente fatiado

a sopa de beldroegas com ovo escalfado (é prato principal)

o rosbife - no ponto

Jantar de restos

Aqui fica uma foto de um jantar de restos:
ervilhas sem ovos escalfados
favas com chouriço (e cogumelos, uma 'invenção' que não resulta mal)
salada de ovas de pescada, feita com as sobras do almoço





Só posso dizer que foi uma bela refeição.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Walker, Spiritual and Demonic Magic from Ficino to Campanella


Há muito que o Comilão ambicionava ler este clássico sobre a magia no Renascimento. Já o havia tentado, mas as abundantes notas de rodapé com trechos em latim acabaram por fazê-lo desistir. Pois bem: desta vez decidi ignorar as ditas notas e avançar para uma leitura mais escorreita.

O livro começa com uma explanação da teoria da música de Marsílio Ficino, o grande humanista e filósofo neoplatónico (1433-1499), que acreditava que era possível, através da música, atrair as influências benignas dos planetas. O facto de tanto a música como o espírito serem elementos aéreos fazia, segundo Ficino, com que aquela interagisse directamente com este.

O primeiro sublinhado aparece numa nota de rodapé (p. 20), uma informação curiosa:
«[Ficino] descreve como na Apúlia aqueles que são mordidos por uma tarântula são curados por uma música especial que os põe a dançar»

Mais adiante, no capítulo sobre Lazarelli (p. 69):
«Isto é novamente a analogia com a a criação divina através da Palavra, mas na versão cabalística segundo a qual Deus criou o universo através das 22 letras do alfabeto hebraico. Confirma o que já se podia adivinhar no preâmbulo ao hino - que Lazarelli mantém uma teoria mágica da linguagem, que acredita que as palavras têm uma ligação real e não convencional, às coisas, e podem exercer influência sobre elas».

Depois da música planetária, o poder mágico das palavras, capazes de actuar sobre o real.

Novo sublinhado na página seguinte:

«Pois Joannes Mercurius era de facto muito estranho. Apareceu em Roma em 1484 usando uma coroa de espinhos com a inscrição: 'Hic est puer meus Pimander quem ego elegi', pregando e distribuindo folhetos; em Lyon, em 1504, usando o mesmo adereço, realizou milagres de magia natural e prometeu a Luís XII um filho e mais vinte anos de vida. Era um magus milagreiro, que havia sido, como nos diz Lazarelli, regenerado pelo próprio Hermes Trimegisto».

Um excerto já do último capítulo (p. 205):
«Em 1599 Campanella foi posto na prisão em Nápoles, após o falhanço da sua revolta, que deveria ter estabelecido a sua utópica e altamente heterodoxa Cidade do Sol. Em 1603, após torturas abomináveis, foi condenado a prisão perpétua, como herético; havia escapado à pena de morte simulando loucura. Continuou em Nápoles, escrevendo profusamente, até 1626, quando foi libertado pelos espanhóis. Mas após alguns meses era de novo detido e colocado numa prisão em Roma. A sua última esperança estava largamente depositada no Papa, como antes havia estado no Rei de Espanha e no futuro haveria de estar no Rei de França»

À frente, vamos encontrar Campanella e o Papa juntos a praticar rituais 'suspeitos':
«Primeiro isolavam o quarto do ar exterior, depois borrifavam-no com vinagre de rosa e outras substâncias aromáticas, e queimavam louro, mirtilo, rosmaninho e cipreste. Penduravam panos brancos de seda e decoravam o quarto com ramos. Então, duas velas e cinco tochas, representando os sete planetas, eram acesas; [...] Havia música Jovial [Júpiter] e venérea, que servia para dispersar as qualidades perniciosas do ar infectado pelo eclipse e, simbolizando os bons planetas, expulsar as influências dos maus» (p. 205)

D.P. Walker
Spiritual and demonic magic from Ficino to Campanella
258 págs.
35,80€ (na bookdepository, o meu exemplar foi adquirido através da Amazon)
2,5 estrelas (todo o livro anda muito à volta de Ficino e dos seus seguidores ou comentadores)

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Assador by Olivier

(foto tirada do Facebook. Ao contrário do que acontece com frequência, corresponde à realidade)

Não é uma personagem com a qual o Comilão simpatize (há outro post dedicado ao seu restaurante do Tivoli). Mas o seu restaurante de grelhados, no CC Monumental, tem um aspecto muito tentador, pelo que o Comilão trocou a costumeira refeição no Riverside (que infelizmente nos últimos tempos parece ter perdido qualidades) pelo dito. As propostas eram: franguinho, rosbife, piano de vitela de leite, qualquer coisa de porco preto (manta).
O Comilão pediu o franguinho, partido em pedaços pequenos e com um tempero argentino - a que eles chamam qualquer coisa como 'chimichurri', muito bom -, acompanhado por boa batata assada no forno com alecrim e um arroz árabe com um belo tom castanho que prometia muito mas não convenceu.
Pena a pouca quantidade de frango (1/2 pequenino). Ainda assim, nota bastante positiva para este Assador. É para repetir. Da próxima o Comilão vai querer experimentar o piano.

Actualização (06/01/2014): Da segunda vez comi a manta. Estava excelente. O rosbife, pelo que me foi dito, assim-assim. Da terceira vez, a manta tinha acabado de esgotar e não havia o piano, tive de ir para o franguinho, muito bom, dentro do que já foi dito. E desta vez o arroz árabe também estava bom. Só as sobremesas é que não convenceram: arroz doce (fraco) e mousse de chocolate (abaixo da média). Também fazem muito alarido com o pastel de nata mas pareceu-me relativamente banal.


manta de porco preto com arroz árabe: muito bom (esta foto já é de minha autoria)

Assador by Olivier
CC Monumental (Saldanha)
preço da refeição ronda os 8€
nota do Comilão: 3,5 estrelas
Atenção que as doses são pequenas!

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Atira-te ao rio

Jantar memorável na passada sexta-feira. Um fim-de-tarde glorioso, com uma temperatura ideal, um pôr-do-sol maravilhoso, uma vista de Lisboa soberba... começam a faltar-me os adjectivos.

E boa comida. Apesar da situação única (não é exactamente única porque há o Ponto Final, mas pouco importa), o Atira-te ao Rio mantém a qualidade da comida, não se encostando à sombra da bananeira.

Para começar, bom pão, manteiga de alho e ervas e uma pasta (atum?, já não me recordo). Azeitonas com alho e orégãos. Houve quem provasse o gaspacho e o considerasse 'divinal'. O Comilão optou pelo porco preto na grelha (a habitual carne muito gorda que quase se desfaz na boca), bastante bom, com batatinhas assadas e arroz. O carré de borrego tinha óptimo aspecto, JB comeu a picanha e não se queixou, as gambas al ajillo mereceram elogios.

Já as sobremesas não convenceram quem as pediu (não foi o meu caso).

Uma palavra para o serviço: a cozinha está muito longe das mesas, o que atrasa os pedidos mais simples. Começou mal, mas depois chegou um empregado que deu conta do recado.

Tudo somado, um lugar que merece ser visitado mais vezes, assim as condições climatéricas ajudem, e as condições financeiras o permitam (não é barato). A vista é o grande trunfo - e que trunfo - mas não o único.

Atira-te ao Rio
Cais do Ginjal
32 euros (190 euros refeição para seis pessoas)
4,5 estrelas (comida 3,5)

Rounders: a vida é um jogo

Belo filme sobre os dilemas de um jogador de póquer, com um grande elenco: Matt Damon (Mike), Edward Norton (Worm), Martin Landau (professor) e John Malkovich (KGB). Houve uma deixa que o Comilão fixou: «Podes tosquiar uma ovelha vezes sem conta, mas só a podes esfolar uma vez».