quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

A Maldição do Marquês, romance histórico de Tiago Rebelo

«O Paço Real da Ribeira desapareceu debaixo de água e a onda gigante, carregando consigo veleiros, barcaças e faluas, embateu com um troar de canhões na primeira linha de edifícios em chamas, infiltrou-se com maior pressão ainda nas ruas estreitas da Baixa e só parou muito depois da praça do Rossio. A esta onda seguiram-se duas outras igualmente destruidores, que tudo e todos arrastaram numa fúria bíblica».

«Depois, o homem tirou-lhe o lenço que trazia ao pescoço e ela protestou.
– Não me descomponhas – disse, num tom gelado. E essas foram as últimas palavras que proferiu.
O algoz vendou-lhe os olhos com o lenço.
Caiu um silêncio de horror quando o algoz ergueu o cutelo, suspenso um momento no ar, e, num só golpe de grande destreza, decepou-lhe a cabeça sem lhe dar um segundo de sofrimento. A lâmina afiada atravessou-lhe o pescoço como uma corrente de ar. Foi tal a perfeição do golpe, que passou a ilusão de ter falhado, pois a cabeça manteve-se no seu lugar e só rolou para o chão do patíbulo quando o corpo sem vida de D. Leonor se inclinou para a frente, e do pescoço cortado ao meio espirrou uma fonte de sangue muito vermelho».

D. Leonor foi a primeira supliciada no processo dos Távoras, tema de A Maldição do Marquês. A esta carnificina escapou apenas um criado do duque de Aveiro, José Policarpo de Azevedo. É ele o protagonista deste excelente romance histórico bem escrito e bem documentado.


Tiago Rebelo
A Maldição do Marquês
Ed. Asa
574 págs., €19,90

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