É este o título de um livrinho de Jacques Bonnet, detentor de uma biblioteca com mais de 20 mil volumes (!). E o Comilão que pensava que tinha muitos livros... A palavra 'fantasma' aparece definida no capítulo 9. O que se segue é uma citação de uma citação:
«Fantasma: Folha ou cartão que se coloca no lugar de um livro tirado de uma prateleira de biblioteca, de um documento que foi retirado.» Petit Larousse
Este Bibliotecas Xheias de Fantasmas (nova grafia do Comilão) é um livro curiosíssimo sobre bibliomanias, leitores vorazes, coleccionadores de livros açambarcadores (aqui designados por 'acumuladores') e escritores peculiares. Curiosamente, o livro começa com estas palavras:
«A 1 de Setembro de 1932, o jornal O Século publica um anúncio para o preenchimento do lugar de conservador-bibliotecário no Museu Condes de Castro Guimarães, em Cascais, a 30 quilómetros de Lisboa. A 16 de Setembro, Fernando Pessoa envia a sua carta de candidatura, um documento de seis páginas [...]». A carta era tão peculiar que Pessoa não ficou com o emprego.
O autor, proprietário dessa colossal bibliopteca, é um homem imensamente erudito. E não perde uma ocasião de o mostrar, o que resulta, por vezes, num exercício de exibicionismo. A melhor passagem, quanto ao Comilão, é a seguinte, e encontra-se nas págs. 67-68:
«Em cada livro que se abre pela primeira vez há um efeito de «cofre arrombado». Sim, é exactamente isso, o leitor frenético é como um assaltante que passou horas e horas a escavar um túnel para chegar à sala dos cofres de um banco. Ele encontra-se perante centenas de cofres todos parecidos e vai abrindo-os um a um. De cada vez, o cofre finalmente perde o seu anonimato para se tornar único: há um que tem quadros lá dentro, outro esconde maços de notas, um outro jóias, ou cartas atadas com uma fita, gravuras, objectos sem valor, baixelas de prata, fotografias, moedas antigas, flores secas, dossiês, copos de cristal, brinquedos de criança, etc.Há qualquer coisa de inebriante sempre que se abre um novo, ao descobrir o seu conteúdo, e qualquer coisa de exaltante ao compreendermos que não estamos, ao fim de um tempo, face a uma sequência de cofres mas sim em presença das riquezas e das miseráveis banalidades a que se pode reduzir a existência humana».
«Fantasma: Folha ou cartão que se coloca no lugar de um livro tirado de uma prateleira de biblioteca, de um documento que foi retirado.» Petit Larousse
Este Bibliotecas Xheias de Fantasmas (nova grafia do Comilão) é um livro curiosíssimo sobre bibliomanias, leitores vorazes, coleccionadores de livros açambarcadores (aqui designados por 'acumuladores') e escritores peculiares. Curiosamente, o livro começa com estas palavras:
«A 1 de Setembro de 1932, o jornal O Século publica um anúncio para o preenchimento do lugar de conservador-bibliotecário no Museu Condes de Castro Guimarães, em Cascais, a 30 quilómetros de Lisboa. A 16 de Setembro, Fernando Pessoa envia a sua carta de candidatura, um documento de seis páginas [...]». A carta era tão peculiar que Pessoa não ficou com o emprego.
O autor, proprietário dessa colossal bibliopteca, é um homem imensamente erudito. E não perde uma ocasião de o mostrar, o que resulta, por vezes, num exercício de exibicionismo. A melhor passagem, quanto ao Comilão, é a seguinte, e encontra-se nas págs. 67-68:
«Em cada livro que se abre pela primeira vez há um efeito de «cofre arrombado». Sim, é exactamente isso, o leitor frenético é como um assaltante que passou horas e horas a escavar um túnel para chegar à sala dos cofres de um banco. Ele encontra-se perante centenas de cofres todos parecidos e vai abrindo-os um a um. De cada vez, o cofre finalmente perde o seu anonimato para se tornar único: há um que tem quadros lá dentro, outro esconde maços de notas, um outro jóias, ou cartas atadas com uma fita, gravuras, objectos sem valor, baixelas de prata, fotografias, moedas antigas, flores secas, dossiês, copos de cristal, brinquedos de criança, etc.Há qualquer coisa de inebriante sempre que se abre um novo, ao descobrir o seu conteúdo, e qualquer coisa de exaltante ao compreendermos que não estamos, ao fim de um tempo, face a uma sequência de cofres mas sim em presença das riquezas e das miseráveis banalidades a que se pode reduzir a existência humana».
Mais uma consideração nada marginal para os apreciadores de livros: como objecto é muito bonito, com a sua capa baça que parece coberta por uma poeira fina.
Jacques Bonnet
Bibliotecas Cheias de Fantasmas
Quetzal
164 págs., €14,50
3,5-4 estrelas
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