quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Fires




O Comilão acaba de ler Fires - Essays, Poems, Stories, de Raymond Carver. «You should read Fires now», pode ler-se na contracapa e o Comilão seguiu esse conselho. O livro começa com o ensaio My Father's Life, que tem esta particularidade: não contando nada de extraordinário ou fora do comum, é um relato fascinante de uma relação entre pai e filho. O segundo ensaio é sobre o percurso do escritor. O terceiro é sobre o professor (já mencionado no segundo) que encorajou Carver a escrever e lhe emprestava o escritório para ele o poder fazer tranquilamente. Um professor da velha guarda, exigente mas também generoso.

O Comilão estava a pensar ontem à noite que uma das características da escrita de Carver é ater-se aos objectos, às coisas, ao mundo material, com descrições precisas. Não elabora muito sobre sentimentos ou outras coisas impalpáveis, mas eles estão lá (projectados nas coisas?).

Depois dos ensaios vêm os poemas - têm passagens interessantes, mas não é, para o Comilão, o género mais conseguido - e depois dos poemas as histórias. A que o Comilão guarda melhor na memória chama-se Too Much Water So Close to Home, sobre um grupo de amigos que vão pescar e encontram no rio o corpo de uma rapariga morta. O Comilão já a conhecia, por ter lido e por ter visto um filme nela inspirado (Jandabyne), mas foi instrutivo relê-la.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Lixo

O escritor estava à procura daquelas páginas que tinha acabado de rever a altas horas na noite anterior. Tinha-lhe dado um trabalhão. Em cima da secretária havia duas versões: uma limpa, sem as alterações feitas, outra com as alterações e emendas a caneta encarnada. Como não encontrava a versão que tinha sido revista, já desesperado foi perguntar à empregada:
- Natacha, viu aqui umas folhas corrigidas? Eram iguais a estas - mostrou-lhe as folhas 'limpas' - mas já tinham umas alterações feitas a caneta encarnada.
- Ah, essas deitei fora, disse a empregada muito segura de si. Achei que não ia precisar delas, quando tinha essas tão direitinhas.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Live Forever



O Comilão recebeu como presente atrasado (do seu amigo o Venerável JB) o há muito desejado Live Forever, dedicado à artista norte-americana Elizabeth Peyton (n. 1965). E, quanto mais explora o livro, mais deliciosa acha a obra desta artista da qual se diz que se tornou célebre pelos retratos de amigos do meio da moda e da música. Essa descrição omite a subtileza e mestria com que Peyton usa a técnica da aguarela ou a dignidade que imprime ao simples lápis de cor. Os seus retratos - que trazem algo de novo a um género tão difícil para o artista de hoje - são simplesmente brilhantes, em mais de um sentido. Respeitam e estão imbuídos de toda a tradição retratística, mas ao mesmo tempo regeneram-na e dão-lhe uma frescura e leveza muito actuais.


O belíssimo livro da Phaidon, inspirado numa grande exposição do New Museum de Nova Iorque (que o Comilão já visitou) faz inteira justiça a essa obra notável. Em 2002 o Comilão tinha visitado outra exposição da artista no MoMA quando este se encontrava deslocado em Queens (NY), mas não encontra referências relativas a essa mostra.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Fornos do Padeiro

Na passada sexta-feira o Comilão e família, a convite de seus pais, foram jantar leitão da Bairrada a... Paço de Arcos. Os Fornos do Padeiro ficam numa zona algo incaracterística e devem o seu nome a uns fornos em tijolo notáveis (possivelmente reconstrução de uns anteriores que ali houvesse) que há no interior. Cá fora, o restaurante é assinalado por uma grande chaminé, também de tijolo. O espaço é amplo e agradável, com apontamentos típicos, como cadeiras em verga, que fazem lembrar um pouco a decoração d'O Madeirense. O couvert inclui bom pão (e broa de milho), azeite para molhar o pão, azeitonas, queijo de Azeitão e croquetes-bola de leitão (o Comlião comeu um e não ficou fã). O prato-forte é mesmo o leitão da Bairrada, feito como manda a lei. Acompanha com o molho de pimenta, óptimo, batatas fritas às rodelas, óptimas, rodela de laranja (aconselhável) e salada de alface juliana. O leitão não fica atrás do que se come nas famosas casas da Mealhada. O Comilão não pagou a refeição, mas deve ter rondado os €30 por pessoa, até porque vieram para a mesa duas garrafas de Murganheira tinto (óptimo).

Fornos do Padeiro
Estrada de Paço de Arcos, 6 B
Tel.: 21 4694148
Encerra à segunda-feira
Especialidade: leitão da Bairrada
Veredicto: 4 estrelas

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

The Paris Review Interviews




O Comilão acaba de receber uma encomenda da Amazon amaricana (sic) há muito aguardada: os quatro volumes das entrevistas da Paris Review em coffret. Agrada-me particularmente a cor dos livros: amarelo, azul turquesa, encarnado quase laranja e roxo. Quanto às entrevistas propriamente ditas, o Comilão só leu a de Truman Capote e o início de outra (Robert Stone), mas delicia-se com o texto de enquadramento cheio de detalhes de reportagem. Ficou por cerca de €40 (na Fnac cada volume custa cerca de €25 e obviamente não existe o coffret).

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

No primeiro lugar

«O segundo maior prazer da vida é ler livros.
O primeiro é comprá-los»
anónimo

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Últimas aquisições

O Comilão aproveitou os saldos da Fnac para comprar meia dúzia de livros. Aqui fica, a quem interessar, a sua enumeração:
- Walt Whitman, Selected Poems (Dover Thrift Editions) €2,80, de quem o Comilão nada tinha
- Justin Kaplan, Walt Whitman, a Life (Perennial Classics) €10, uma biografia por um escritor vencedor do Pulitzer e do National Book Award
- Great Short Works of Herman Melville (Perennial Classics) €10
- Aldous Huxley, The Perennial Philosophy (Perennial Classics) €10, uma obra que o Comilão procurava há muito tempo
- Gustave Flaubert, Madame Bovary (Flammarion, GF) €1,50, só adquirido por estar danificado de uma forma curiosa (mal cortado em cima)
- G. W. Sebald, História Natural da Destruição (Teorema) €10, um autor que o Comilão tanto admira

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Bibliotecas cheias de fantasmas





É este o título de um livrinho de Jacques Bonnet, detentor de uma biblioteca com mais de 20 mil volumes (!). E o Comilão que pensava que tinha muitos livros... A palavra 'fantasma' aparece definida no capítulo 9. O que se segue é uma citação de uma citação:
«Fantasma: Folha ou cartão que se coloca no lugar de um livro tirado de uma prateleira de biblioteca, de um documento que foi retirado.» Petit Larousse

Este Bibliotecas Xheias de Fantasmas (nova grafia do Comilão) é um livro curiosíssimo sobre bibliomanias, leitores vorazes, coleccionadores de livros açambarcadores (aqui designados por 'acumuladores') e escritores peculiares. Curiosamente, o livro começa com estas palavras:

«A 1 de Setembro de 1932, o jornal O Século publica um anúncio para o preenchimento do lugar de conservador-bibliotecário no Museu Condes de Castro Guimarães, em Cascais, a 30 quilómetros de Lisboa. A 16 de Setembro, Fernando Pessoa envia a sua carta de candidatura, um documento de seis páginas [...]». A carta era tão peculiar que Pessoa não ficou com o emprego.

O autor, proprietário dessa colossal bibliopteca, é um homem imensamente erudito. E não perde uma ocasião de o mostrar, o que resulta, por vezes, num exercício de exibicionismo. A melhor passagem, quanto ao Comilão, é a seguinte, e encontra-se nas págs. 67-68:

«Em cada livro que se abre pela primeira vez há um efeito de «cofre arrombado». Sim, é exactamente isso, o leitor frenético é como um assaltante que passou horas e horas a escavar um túnel para chegar à sala dos cofres de um banco. Ele encontra-se perante centenas de cofres todos parecidos e vai abrindo-os um a um. De cada vez, o cofre finalmente perde o seu anonimato para se tornar único: há um que tem quadros lá dentro, outro esconde maços de notas, um outro jóias, ou cartas atadas com uma fita, gravuras, objectos sem valor, baixelas de prata, fotografias, moedas antigas, flores secas, dossiês, copos de cristal, brinquedos de criança, etc.Há qualquer coisa de inebriante sempre que se abre um novo, ao descobrir o seu conteúdo, e qualquer coisa de exaltante ao compreendermos que não estamos, ao fim de um tempo, face a uma sequência de cofres mas sim em presença das riquezas e das miseráveis banalidades a que se pode reduzir a existência humana».


Mais uma consideração nada marginal para os apreciadores de livros: como objecto é muito bonito, com a sua capa baça que parece coberta por uma poeira fina.



Jacques Bonnet
Bibliotecas Cheias de Fantasmas
Quetzal
164 págs., €14,50
3,5-4 estrelas

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Uma mulher muito fácil

A Tânia era uma rapariga tão fácil, tão fácil, mas tão fácil, que os amigos lhe chamavam (à boca fechada) 'Instantânia'.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Mercearia do Peixe, Caxias

No dia 24 de Dezembro o Comilão tinha passado por ali e visto uma grande algazarra. Assim, no dia 31 de Janeiro o Comilão e sua família para lá se dirigiram. O espaço é agradável: uma tenda, com chão de calçada, dando para o jardim em frente, embora à altura dos olhos haja uma barra da estrutura que tapa a vista para o exterior (no caso das mesas encostadas à janela). A primeira impressão, contudo, foi olfactiva: um cheiro desagradável que parecia a peixe frito. Aos poucos fomo-nos habituando, mas nunca desapareceu.

Comida: há entradinhas na mesa (para o Comilão apenas pão e manteiga). Mandámos vir pregado grelhado para duas pessoas (29 euros, dez euros mais barato que o robalo ou a dourada de mar): «É um peixe tipo solha, com carne muito branca. Eu trago para verem», disse o empregado. A propósito, o serviço é prestável e simpático (empregados portugueses). Voltando ao peixe: o Comilão já tinha visto pregado frito, assim grelhado nunca. Mas a verdade é que estava muito bom. Confirmou-se a carne branca e tinha o bom sabor da grelha. A pele desprende-se bem (ao contrário da do linguado, que às vezes fica agarrada). Acompanhou com meia garrafa de Quinta da Aveleda (verde).

O Mercearia do Peixe gaba-se de ter «peixe fresco todos os dias e carnes de excelência».

Mercearia do Peixe (Cascata Real)
Av. António Florêncio dos Santos,7
Caxias (perto do Jardim da Cascata)
Estacionamento fácil
Veredicto: almoço agradável, boa comida, serviço simpático e preço razoável. Pena o cheiro
Pontuação do Comilão: 3,5 estrelas