segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

'Às vezes gosto de pensar que sou um bocadinho sábio, mas quanto mais penso, menos acredito nisso'

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Marinheiros, artesãos e mercadores

Aqui ficam a primeiras linhas do Prólogo de Na Esfera do Mundo, o IV volume da História de Portugal de António Borges Coelho:

«Uma força social poderosíssima arrastava para fora de Portugal homens aos milhares, poucas mulheres. Eram homens de 50 soldos, esfarrapados e descalços, pescadores, marinheiros, artesãos ligados à construção naval e ao fabrico das armas, mercadores, escudeiros, fidalgos, clérigos. A torrente carreava para dentro riqueza de fora: as drogas, o ouro, as pérolas, os têxteis; aumentava dentro o número dos escravos de África, da Ásia e da América; atraía europeus. As formas, os cheiros, os sabores chegavam nas velas e nos corpos. Aumentava o tráfego à escala do mundo. Recorria-se ao crédito, iniciava-se a corrida ao padrão de juro. Os campos perdiam mão-de-obra jovem, crescia o número das viúvas».

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Cais da Pedra

No passado dia 3 de Outubro (já lá vão uns meses) ao almoço, o Comilão e família foram ao Cais da Pedra, a hamburgaria de Henrique Sá Pessoa em Santa Apolónia. É um espaço enorme, um armazém bem recuperado. Para começar, pão, azeitonas e uns croquetezinhos de bola muito bons - o pão também era bom, mas de certo modo supérfluo num restaurante deste tipo.

A seguir, o prato forte, ou seja, os hambúrgueres. Um bacon & ovo e um Cais da Pedra (com cebola caramelizada, queijo da ilha e compota de tomate e manjericão). À primeira dentada pareceu muito bom, depois apenas bom. A carne poderia ser melhor em termos de sabor. Belas batatas.

Para sobremesa, um brownie com gelado para partilhar com a aniversariante. Dose exagerada.

Exagerado também foi o preço: cerca de 40€. 20€/ pessoa para comer um hambúrguer é demasiado. Não admira que tivesse pouca clientela, embora seja um espaço muito agradável.

O carro estava estacionado em frente à loja de design, não a da Atalaya, mas a Nord, que tem objectos de origem escandinava. Ali vi o livro Hanne Kjaerholm - Houses, com que fiquei encantado. Viria a recebê-lo umas semanas mais tarde, no meu aniversário.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Entrecosto no tacho à moda do Comilão

(para dizer a verdade, até poderia combinar bem com o camarão do post anterior)


A receita não tem grande segredo: barra-se o entrecosto com um pouco (mas só um pouco) de massa de pimentão e frita-se em azeite e alho, chama suficientemente forte para não ficar a cozer, mas não tão forte que comece a queimar, até porque o entrecosto deve ficar bastante tempo ao lume.
Pode acrescentar-se uma folhinha de louro, regar-se com um pouco de vinho branco e mexer-se de vez em quando para os pedaços ficarem cozinhados por igual, com esta crostazinha por fora e uma cor quase dourada.
E pronto. A panela faz praticamente o trabalho sozinha (optei por este tachinho mais fundo para ficar entre o frito e o estufado, mas também para que a carne absorvesse bem o tempero). Acompanhou com arroz branco e feijão de lata Heinz (baked beans) - o adocicado do molho do feijão liga lindamente com o entrecosto. Uma boa opção para o jantar.

Camarão frito à moda do Comilão


fotos nocturnas






sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O quarto onde a minha avó dormia

Tudo naquela casa sussurrava viuvez:
o corrimão frio e liso das escadas,
a vizinha da frente sempre à espreita,
o telefone preto na entrada.

O cheiro das alcatifas e cortinados,
os naperons,
o quadro da Última Ceia,
os bifes de peru com arroz,
o som dos botões da televisão
quando se mudava de canal,
o pó debaixo do sofá,
onde passava o fio do candeeiro.

Quem diria que já houvera vida naquela casa,
que outrora fora habitada por crianças,
correrias e brincadeiras,
que nem sempre tinha sido uma casa condenada?

Mas o mais triste,
o mais desamparado
era o quarto mal iluminado
com um roupeiro alto onde eu não entrava.
A cama sem um vinco
demasiado vasta para uma pessoa só.

Numa das mesas-de-cabeceira,
um despertador metálico.
Na outra (para dormirem lado a lado)
a fotografia de um jovem fardado –
o retrato tirado em África
a preto e branco do meu avô.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

As adagas de Borges (excertos de artigo da NYRB)

http://www.nybooks.com/articles/archives/2014/jan/09/daggers-jorge-luis-borges/?page=1

Artigo muito interessante de Michael Greenberg na NYReview of Books, a propósito de Professor Borges, um livro com transcrições das aulas do escritor feitas por alunos.

Aqui ficam os excertos:

According to his biographer, Edwin Williamson,1 Borges’s father handed him a dagger when he was a boy, with instructions to overcome his poor eyesight and “generally defeated” demeanor and let the boys who were bullying him know that he was a man.
Swords, daggers—weapons with a blade—retained a mysterious, talismanic significance for Borges, imbued with predetermined codes of conduct and honor. The short dagger had particular power, because it required the fighters to draw death close, in a final embrace. As a young man, in the 1920s, Borges prowled the obscure barrios of Buenos Aires, seeking the company of cuchilleros, knife fighters, who represented to him a form of authentic criollo nativism that he wished to know and absorb.
With its harsh consonants and open vowels, and its unambiguous vocabulary of things that “correspond to fire, metals, man, trees,” Anglo-Saxon was perfectly suited to the poetry of battle.
Borges had been reading English translations of the epics throughout his life, but when he was fifty-nine, he set out to teach himself Anglo-Saxon, a process he called “the pure contemplation of a language at its dawn.” The epics provided him with a kind of literary ideal: concrete, precise, and suffused with the glow of the sword as a magical object.
When he was in his late seventies, he still lived in the modest Buenos Aires apartment he had shared with his mother until she died. His biographer, Edwin Williamson, describes his bedroom as resembling “a monk’s cell with its narrow iron bed, single chair, and two small bookcases where he kept his collection of Anglo-Saxon and Scandinavian books.” Those ancient books were an integral part of the ethos that sustained this most modern of writers.

O Talho parte e reparte

Já lá comprei umas salsichas - e gostei. Desta vez decidimos ir lá jantar.

Ao contrário do que previa, a ementa é curta em termos de oferta de carnes. Pensava eu que a pessoa escolhia o tipo de bife - entre 20 opções diferentes - e dizia o peso que queria. Qualquer coisa como um talho em que depois também cozinhavam. Puro erro.

Há um prato de pato, dois bifes, outro que se chama 'O Sr. Quer Alheira' (que desconfio tratar-se de um trocadilho de mau gosto) e pouco mais, num total de talvez meia dúzia de opções.

A proposta 'Viagem na Carne', com um nome pouco apetecível e o preço ainda menos apetecível de 38€ pessoa, sendo que todos na mesa ficam vinculados a essa escolha, é afinal um 'faça você mesmo', ou seja, é o cliente que escolhe cinco pratos que mais lhe saltam à vista e eles preparam em modo de degustação.

O amuse-bouche: simpático, mas insignificante


Como amuse-bouche vem uma salsicha (merguez qualquer coisa) simpática, mas quase insignificante. Para entrada pedimos uma horta do talho - um bocadinho de presunto (muito bom) com legumes baby cozidos, tudo sobre uma 'areia negra' (uma espécie de farofa que depois leva tinta de choco). Resumindo: no capítulo das entradas, muita modernice e pouca substância.

a entrada de 'presunto crocante'

A grande estrela era o bife de carne Maronesa. Pedi médio/mal ('Mas vem com sangue', avisou o empregado). Ao contrário do aviso, a carne vinha quase bem passada. Na minha opinião, era boa, mas não extraordinária, e faltava sal. Já para não dizer que não apreciei o facto de a carne vir 'aparada' - fez-me lembrar a fruta normalizada e afins. Para ser honesto e justo, devo dizer que a minha senhora gostou muito do bife. Acompanha com boas batatas fritas, parecidas com as da Brasserie (ou mesmo iguais).



o bife: saboroso, sem ser excepcional

O tinto sugerido pelo empregado - este bastante mais profissional e descontraído do que o primeiro, que, além de outras argoladas, nos colocou na situação pouco confortável de nos interrogar qual o colega que tinha cometido uma falha) - o vinho do Talho (4,5€ o copo) revelou-se muito bom.

A sobremesa foi um óptimo leite creme. Delicioso mesmo.


leite creme delicioso com bola de gelado de abacate

Tudo somado, foi uma boa refeição, mas com um preço um bocadinho puxado (no meu entender) para o que se comeu, sem dúvida muito por culpa dos bifes (22€ cada). Total 80€

Veredicto do Comilão: 3 estrelas - bom, preço um pouco excessivo, pouca escolha de carnes, serviço irregular, precisa de ser afinado