quarta-feira, 15 de março de 2017

O exibicionismo de um crítico (há quem goste; eu não)

Não é costume fazer aqui crítica à crítica, mas neste caso não consegui ficar indiferente perante tanta tontice e exibicionismo.

http://observador.pt/especiais/uma-noite-no-novo-restaurante-cabaret-de-jose-avillez-atencao-este-artigo-contem-spoilers/

Claro que o artigo de Tiago Pais tem aspetos engraçados, nomeadamente a forma como introduz a pessoa que o acompanhou e depois a transforma num leitmotiv ao longo do texto:

Decidi que não vou escrever “companhia/companheira” no resto do texto. Haja paciência. De agora em diante, passará a ser identificada como Nini, que dos hipotéticos diminutivos do seu nome verdadeiro é o que me parece mais apropriado à temática cabaret-gourmet.

Mas o artigo também tem aspetos irritantes - e de que maneira! A começar pelo título, onde surge o tão em voga 'contém spoilers'. Talvez funcione com o tipo de gente que anda atrás destas modas - e por isso vejo comentários do género "que delícia de texto". Mas não comigo.

Pior do que os modismos, porém, é a vaidade que revela esta narrativa sobre o 'privilegiado' a quem é concedida uma espécie de entrada VIP para um espaço ultra-sofisticado e secreto.

apenas umas horas depois, receberia um telefonema da sua assessora de comunicação, Mónica Bessone, com uma notícia e um convite:
 Tiago, o novo espaço já está em soft opening. Não posso revelar grande coisa, para já, mas queríamos muito que viesse conhecê-lo e jantasse cá uma noite destas.

UAU!, este tipo recebe telefonemas da assessora de comunicação do Avillez!

Outra coisa ridícula é o autor querer mostrar a erudição do seu palato, quando diz isto:

Já as pedras têm, no recheio, um estranho sabor a peixe. Discutimos o que será. Fígado de tamboril? Quase: “É fígado de bacalhau”, esclarecem-nos.

Ou esta passagem, talvez ainda mais patética:

Mais um desafio: que é pombo, disso não há dúvidas, que traz lascas de foie gras também não. O puré que acompanha não é tão fácil de identificar. Será cheróvia? Será nabo? Nabos somos nós e a cheróvia não sabe assim. Fui ver, era tupinambo.

Quanto ao restaurante em si, pareceu-me ser tudo aquilo que não me encanta: muito investimento num ambiente artificial, muitos maneirismos, uma comida cheia de efeitos. Tal e qual como o texto do crítico do Observador.

Sem comentários:

Enviar um comentário