Lê-se em dois ou três dias este Uma Visita Politicamente Incorrecta ao Cérebro Humano, do neurologista Alexandre Castro Caldas. O título não é 100% rigoroso: Castro Caldas mostra-se descontraído na forma como apresenta o tema, em dez capítulos com títulos sugestivos; quanto a ser politicamente incorrecto, penso que nem sempre o é, revelando alguns preconceitos sobretudo nos capítulos dedicados às diferenças entre homens e mulheres (com uma argumentação do tipo 'são diferentes, mas isso não quer dizer que os homens sejam melhores') e no das experiências de quase morte, onde tenta a todo o transe arranjar explicações que encaixem no saber científico actual para justificar fenómenos que se calhar são isso mesmo - inexplicáveis.
Dito isto, deve reconhecer-se que se trata de um livro que se lê com prazer e onde se aprende factos interessantes - não apenas sobre o nosso cérebro. Como este: «As baleias e os golfinhos não podem dormir com o cérebro todo ao mesmo tempo porque corriam o risco de se afogar. Assim, dormem alternadamente com cada metade do cérebro para poderem vir à superfície respirar» (pág.22)
«A primeira reflexão que é necessário fazer [...] é a do constrangimento económico da sua função. O cérebro é totalmente dependente do resto do corpo para sobreviver, não tem qualquer reserva energética e, por isso, tem de receber tudo a partir do metabolismo do corpo». Por sua vez, «é o cérebro [...] que faz com que o corpo se disponha a desencadear os processos naturais para o corpo o alimentar» (pág. 36)
Nas págs. 76-77 há uma informação preciosa para a mulher do Comilão:
«As lesões no hemisfério direito têm uma grande probabilidade de provocar um sinal clínico muito perturbador, a chamada inatenção para o hemiespaço esquerdo. Estes doentes deixam de dar atenção a tudo o que se passa do lado esquerdo do espaço. Em geral, têm tendência para ter os olhos e a cabeça rodados para a direita. [...] A inatenção para o lado esquerdo do espaço inclui também a inatenção para o lado esquerdo do corpo. Os doentes com esta perturbação deixam de saber que existe lado esquerdo do corpo. Não só não utilizam os membros desse lado, como não reconhecem que neles existem problemas e ao negá-los tentam andar, caindo naturalmente sem compreender porquê» (sublinhado meu)
Alexandre Castro Caldas
Uma Visita Politicamente Incorrecta ao Cérebro Humano
Guerra & Paz
142 págs.
3 estrelas
(emprestado por RN)
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