sexta-feira, 25 de março de 2011

Tarcísio Vazão de Campos e Trindade (1931-2011)

Vista da Livraria Campos Trindade, na Rua do Alecrim. Há grandes semelhanças entre esta foto tremida e outra tirada pelo Comilão, do primeiro piso da Rizzoli, em NY (post de Novembro de 2010) O 100.º post do Comilão é dedicado a Tarcísio Trindade, antigo presidente da Câmara de Alcobaça (último antes do 25 de Abril) e livreiro de Lisboa. Nasceu na ala Sul do Mosteiro de Alcobaça e cursou Direito. Oriundo de uma família de antiquários, foi como comerciante de livros raros que se destacou. Em 1965 descobriu em Espanha o mais antigo livro impresso português, o Tratado de Confissom, impresso em Chaves em 1489, seis anos antes do Vita Christi, que se pensava até então ser o mais antigo (Lisboa, 1495). Esse exemplar que venderia por 400 contos estava, segundo uma pessoa próxima, a servir de calço, juntamente com outros livros, alguns deles também raros e já irremediavelmente estragados pela humidade, numa lareira. Apesar de 400 contos já ser uma soma avultada para a época, segundo essa mesma fonte próxima o exemplar seria vendido posteriormente à Biblioteca Nacional por 20 mil contos. Pela livraria Campos Trindade têm passado outras preciosidades, como uma primeira edição do Dom Quixote completa e intacta (o filho, Bernardo, descobriria um dos dois volumes da primeira edição em Vila Real). Tarcísio vendeu a obra cervantina a um livreiro espanhol, que por sua vez a vendeu a um magnate árabe, que por sua vez a ofereceu ao Rei de Espanha. Embora praticasse sempre preços modestos (e assim continua), com o lucro da venda Tarcísio pôde pagar o casamento com a «lindíssima Mafalda Oriol Pena»*. A loja da Rua do Alecrim (dois irmãos, António e João, abriram antiquários na mesma rua) foi fundada em 1976, e ali a família viveu ainda um ano. Por lá passaram também gravuras de Albrecht Dürer. O Comilão ainda viu Tarcísio, já muito diminuído, mas nem por isso menos cordato, na Campos Trindade. Faleceu de Parkinson no passado dia 15 de Março. Paz à sua alma e longa vida à sua livraria. Escrito com base em impressões pessoais recolhidas no local e em dois artigos publicados no semanário Sol: «Páginas de História» (Emanuel Costa, Guia Essencial de 23 de Abril de 2010) e *necrológio «Em Paz» (Pedro d'Anunciação, 1.º caderno de 25 de Maço de 2011)

Sem comentários:

Enviar um comentário