quarta-feira, 23 de julho de 2025

A história do boi e do asno

Excerto de O homem mais rico da Babilónia, de George S. Clason (pp. 72-73)


«Nunca ouviu falar do agricultor de Nínive que conseguia entender a linguagem dos animais? Suponho que não, pois não é propriamente o tipo de história que se conta a alguém que se dedica à fundição do bronze. Mas vou contar-lhe para que saiba que pedir emprestado e emprestar vai muito para além do simples facto de o ouro passar das mãos de uma pessoa para as mãos de outra. 

«Esse agricultor, que conseguia entender o que os animais diziam uns aos outros, detinha-se todas as noites no quintal da sua propriedade para os ouvir a conversar. Uma noite ouviu o boi queixar-se dos rigores da sua sorte:

- Trabalho que nem um mouro, puxando o arado de manhã à noite. Por mais quente que esteja o dia, por mais cansadas que estejam as minhas pernas, por mais que o jugo esfole o meu pescoço, tenho que continuar. Tu, no entanto, és uma criatura que tem as suas horas descanso. Cobrem-te com um manto colorido e nada mais fazes do que transportar o nosso amo aos lugares aonde ele deseja ir. Quando ele não sai, ficas o dia todo a comer relva. 

«O asno, apesar dos teus famosos coices, era bom companheiro e simpatizava com o boi. 

- Meu bom amigo - replicou -, o teu trabalho é de facto muito pesado e gostaria de te ajudar. Por isso, dir-te-ei como podes fazer para ter um guia de descanso. De manhã, quando o escravo vier amarrar-te ao arado, deita-te no chão e geme o mais que puderes, para que ele diga que estás doente e não estás em condições de trabalhar.

«O boi assim fez e no outro dia o escravo foi ter com o agricultor para comunicar que o boi estava doente e que não podia puxar o arado.

- Nesse caso - disse o agricultor - use o asno, pois o serviço não pode ficar por fazer.

«Durante o dia todo, o asno, que só quisera ajudar o amigo, viu-se obrigado a dar conta do recado do outro. À noite, depois de o desamarrarem do arado, tinha o coração amargurado, as pernas bambas e o pescoço todo esfolado. 

«O agricultor deixou-se ficar no pátio da quinta a ouvir a conversa entre ambos. 

«O boi foi o primeiro a falar:

- És um bom amigo. Devido ao teu sábio conselho, tive um dia de descanso.

- E eu - retorqui o asno - sou como essas pessoas de bom coração que começam por ajudar o amigo e acabam por ser obrigadas a fazer as tarefas dele. A partir de agora, puxa o teu próprio arado, pois ouvi o amo ordenar aos escravo que tem envie para abate se ficares novamente doente. Oxalá que faça mesmo isso, pois és um preguiçoso.

«A partir de então não se falaram mais, tendo o episódio posto um ponto final a amizade entre os dois. Sabe qual é a moral desta história, Rodan? [...] Apenas isto: se deseja ajudar um amigo, faça-o mas de modo que os fardos dele não sejam colocados sobre os seus ombros.»

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