quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017
Casa Luciano, Ayamonte
É uma falha imperdoável não ter ainda falado aqui da Casa Luciano, em Ayamonte. Aliás, em Ayamonte come-se bem: calamares, presunto, tortilla campera, gamba blanca com sal grosso, ensaladilla russa e outros petiscos. Mas a Casa Luciano, além de tapas de grande qualidade, serve também uma bela paleta de cordero lechal assada no forno.
Ler os clássicos
É sobejamente conhecida a definição de clássico proposta por Italo Calvino: «Um clássico é um livro que nunca acaba de dizer o que tem a dizer». Tornou-se ela própria um clássico. E, de tão citada, acabou por perder alguma da sua força e do seu significado.
Pois também eu tenho refletido sobre o assunto e cheguei a outra conclusão:
Um clássico é um livro cujo conteúdo toda a gente conhece, mesmo quem não o leu. Diria mesmo mais: sobretudo quem não o leu. Porque esses têm uma ideia esquemática e estabilizada, enquanto quem leu tem uma ideia de proximidade, mais escorregadia e menos hierarquizada, que habitualmente obsta a essas generalizações, definições e conceitos.
É um pouco como se uns conhecessem o mapa e os outros tivessem andado mesmo no território.
Pois também eu tenho refletido sobre o assunto e cheguei a outra conclusão:
Um clássico é um livro cujo conteúdo toda a gente conhece, mesmo quem não o leu. Diria mesmo mais: sobretudo quem não o leu. Porque esses têm uma ideia esquemática e estabilizada, enquanto quem leu tem uma ideia de proximidade, mais escorregadia e menos hierarquizada, que habitualmente obsta a essas generalizações, definições e conceitos.
É um pouco como se uns conhecessem o mapa e os outros tivessem andado mesmo no território.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2017
O peixeiro de Agustina
Por estes dias voltei a abrir o Dicionário Imperfeito de Agustina, editado pela Guimarães de Paulo Teixeira Pinto em 2008. E deparei-me com esta entrada de que gostei imenso:
«Pessoa comum
Uma vez, estando na praça do peixe, o peixeiro, que era uma pessoa muito viva - e eu sou péssima para contas, fui sempre, o que me inferiorizava mais era dizerem-me que a matemática é a ciência que está mais perto de Deus, e eu sentia-me a uma distância dele que me vexava imenso... - Mas, como ia dizendo, perguntei quanto era, ele disse: 'É tanto', e eu estava, enfim, a fazer as contas muito lentamente, e ele pegou numa lousa e perguntou: 'Sabe ler?' Mas não o disse por malícia nem por agressão. Aquilo saiu-lhe naturalmente. Fiquei feliz, ao concluir que não tenho realmente a cara de uma intelectual. Sou uma pessoa tão comum, que até se lhe pode fazer esta pergunta.»
«Pessoa comum
Uma vez, estando na praça do peixe, o peixeiro, que era uma pessoa muito viva - e eu sou péssima para contas, fui sempre, o que me inferiorizava mais era dizerem-me que a matemática é a ciência que está mais perto de Deus, e eu sentia-me a uma distância dele que me vexava imenso... - Mas, como ia dizendo, perguntei quanto era, ele disse: 'É tanto', e eu estava, enfim, a fazer as contas muito lentamente, e ele pegou numa lousa e perguntou: 'Sabe ler?' Mas não o disse por malícia nem por agressão. Aquilo saiu-lhe naturalmente. Fiquei feliz, ao concluir que não tenho realmente a cara de uma intelectual. Sou uma pessoa tão comum, que até se lhe pode fazer esta pergunta.»
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