Há quem me chame de louco
há quem me ache chanfrado
hoje ao pequeno-almoço
comi um ovni estrelado
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
domingo, 13 de novembro de 2011
Barry Miles, The Beat Hotel
Foi um presente de aniversário. E o Comilão, em vez de o deixar a definhar na prateleira, em lista de espera durante meses ou mesmo anos, atirou-se logo à leitura. E não se arrependeu. The Beat Hotel é um retrato apaixonante de um hotel de segunda da Rive Gauche por onde passaram nomes maiores da literatura americana. Era dos poucos onde se podia cozinhar nos quartos. O pano de fundo é a vida intelectual e boémia na Rive Gauche no final da década de 50, início da de 60.
Barry Miles é um jornalista com gosto pelo detalhe: questões de dinheiro, como comiam, onde cozinhavam, como se vestiam, que drogas tomavam, com quem dormiam, que cafés frequentavam, que livros liam e, claro, o que escreviam, nada é omitido.
Depois, abundam as histórias, contadas sempre com mestria e domínio do ritmo. Como aquela em que Ginsberg e Corso conhecem Marcel Duchamp numa festa elegante em casa do pai de um amigo (Jean-Jacques Lebel) e se põem a beijar as mãos do artista e a rastejar atrás dele.
O resultado é uma espécie de biografia de um lugar, enriquecida por incursões laterais, contexto, e micro-biografias dos protagonistas. Por exemplo, aqui fica um excerto sobre a mãe de Allen Ginsberg.
«Naomi era uma naturista praticante e andava frequentemente nua pela casa. Não era bonita: tinha excesso de peso e a barriga com cicatrizes de operações. Allen defendia que tinha sido a visão da sua mãe que o tornara homossexual, e queixava-se de que eram geralmente mulheres parecidas com ela que se sentiam atraídas por ele».
Sobre Gregory Corso, conta-se que foi abandonado pela mãe e que aos 12 anos foi preso por roubar um rádio. Passou praticamente toda a juventude em prisões, até ter ido para uma onde leu um dicionário de A a Z e descobriu a literatura, que lhe abriu as portas da regeneração.
William Burroughs, por seu turno, vinha de uma família abastada, mas acabou por desenvolver um fascínio pelo submundo, mergulhando nele até ficar preso na teia. Na Cidade do México viveu um episódio que o marcou para sempre quando matou a mulher numa brincadeira com uma arma de fogo. Foi para Tânger. Recebia da família um estipêndio mensal considerável de 200 dólares.
Com a saída de Ginsberg de Paris, Burroughs aproxima-se de Brion, pintor e poeta, e juntos fazem experiências com drogas, magia e espelhos. Criam uma máquina que provoca visões e expande a percepção, a Dreamachine (para experimentar com os olhos fechados). Inventam a técnica dos recortes, que aplicam à escrita. Nessa altura, Ginsberg já está longe e o gangue do Beat Hotel dissolvido, mas tinham aberto o caminho a todas as revoluções da década de 60.
Barry Miles
The Beat Hotel
Grove Press
275 págs., preço desconhecido (deve rondar os 16-18 euros)
4,5 estrelas
altamente recomendado pelo Comilão
Barry Miles é um jornalista com gosto pelo detalhe: questões de dinheiro, como comiam, onde cozinhavam, como se vestiam, que drogas tomavam, com quem dormiam, que cafés frequentavam, que livros liam e, claro, o que escreviam, nada é omitido.
Depois, abundam as histórias, contadas sempre com mestria e domínio do ritmo. Como aquela em que Ginsberg e Corso conhecem Marcel Duchamp numa festa elegante em casa do pai de um amigo (Jean-Jacques Lebel) e se põem a beijar as mãos do artista e a rastejar atrás dele.
O resultado é uma espécie de biografia de um lugar, enriquecida por incursões laterais, contexto, e micro-biografias dos protagonistas. Por exemplo, aqui fica um excerto sobre a mãe de Allen Ginsberg.
«Naomi era uma naturista praticante e andava frequentemente nua pela casa. Não era bonita: tinha excesso de peso e a barriga com cicatrizes de operações. Allen defendia que tinha sido a visão da sua mãe que o tornara homossexual, e queixava-se de que eram geralmente mulheres parecidas com ela que se sentiam atraídas por ele».
Sobre Gregory Corso, conta-se que foi abandonado pela mãe e que aos 12 anos foi preso por roubar um rádio. Passou praticamente toda a juventude em prisões, até ter ido para uma onde leu um dicionário de A a Z e descobriu a literatura, que lhe abriu as portas da regeneração.
William Burroughs, por seu turno, vinha de uma família abastada, mas acabou por desenvolver um fascínio pelo submundo, mergulhando nele até ficar preso na teia. Na Cidade do México viveu um episódio que o marcou para sempre quando matou a mulher numa brincadeira com uma arma de fogo. Foi para Tânger. Recebia da família um estipêndio mensal considerável de 200 dólares.
Com a saída de Ginsberg de Paris, Burroughs aproxima-se de Brion, pintor e poeta, e juntos fazem experiências com drogas, magia e espelhos. Criam uma máquina que provoca visões e expande a percepção, a Dreamachine (para experimentar com os olhos fechados). Inventam a técnica dos recortes, que aplicam à escrita. Nessa altura, Ginsberg já está longe e o gangue do Beat Hotel dissolvido, mas tinham aberto o caminho a todas as revoluções da década de 60.
Barry Miles
The Beat Hotel
Grove Press
275 págs., preço desconhecido (deve rondar os 16-18 euros)
4,5 estrelas
altamente recomendado pelo Comilão
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
Julien Green, Paris
Hoje, sexta-feira dia 11/11/11, o Comilão levantou-se mais cedo que costume (mais propriamente às 06h30) e dedicou as primeiras horas do dia à leitura de Paris, de Julien Green, um livro da colecção de literatura de viagens que Carlos Vaz Marques (que também traduz e prefacia, e bem, a obra) coordena para a Tinta da China. Trata-se de um conjunto de pequenos ensaios dedicados a aspectos particulares e menos conhecidos da cidade, a memórias íntimas, a estados de espírito (associados a condições atmosféricas) e a descrições melancólicas. Os grandes monumentos, por exemplo, são deixados de parte. Em compensação, há curiosidades como o artigo sobre a Igreja de S. Julião o Pobre ou o dedicado às escadas da metrópole:
«Paris é uma cidade de escadarias que excitam a imaginação. Não estou a pensar nesses velhos palacetes, cujas escadas orgulhosas são como um discurso aristocrático em que cada patamar marca uma pausa entre dois períodos, mas sim naquelas escadarias burguesas ricas em segredos, desavenças, planos, ao ponto de um romancista não poder aproximar-se do primeiro lanço sem que uma personagem lhe venha sussurar uma palavra e revelar alguns traços do seu rosto. Conheço uma determinada escadaria em espiral no bairro do Templo onde a ideia de perseguição nos surge de forma irresistível. Numa outra, estreita e curva, a questão que se coloca é saber se um caixão passaria por ela sem danificar as paredes e a que pacientes manobras seria necessário entregarmo-nos para não incomodar o ocupante da grande caixa negra». pág.61
Julien Green nasceu em Paris em 1900, filho de pais americanos, e ali viveu sempre, exceptuando os anos de universitário na Virgínia, onde estudou Grego, Latim, Alemão, Literatura Inglesa e História, e os anos da II Guerra, em que se alistou no exército americano (durante a I Guerra havia lutado ao lado do exército francês). Foi o primeiro não francês a ser admitido na Academia Francesa (dados retirados da Nota Bibliográfica no final).
Julien Green
Paris
124 págs.
Tinta da China
3 estrelas
«Paris é uma cidade de escadarias que excitam a imaginação. Não estou a pensar nesses velhos palacetes, cujas escadas orgulhosas são como um discurso aristocrático em que cada patamar marca uma pausa entre dois períodos, mas sim naquelas escadarias burguesas ricas em segredos, desavenças, planos, ao ponto de um romancista não poder aproximar-se do primeiro lanço sem que uma personagem lhe venha sussurar uma palavra e revelar alguns traços do seu rosto. Conheço uma determinada escadaria em espiral no bairro do Templo onde a ideia de perseguição nos surge de forma irresistível. Numa outra, estreita e curva, a questão que se coloca é saber se um caixão passaria por ela sem danificar as paredes e a que pacientes manobras seria necessário entregarmo-nos para não incomodar o ocupante da grande caixa negra». pág.61
Julien Green nasceu em Paris em 1900, filho de pais americanos, e ali viveu sempre, exceptuando os anos de universitário na Virgínia, onde estudou Grego, Latim, Alemão, Literatura Inglesa e História, e os anos da II Guerra, em que se alistou no exército americano (durante a I Guerra havia lutado ao lado do exército francês). Foi o primeiro não francês a ser admitido na Academia Francesa (dados retirados da Nota Bibliográfica no final).
Julien Green
Paris
124 págs.
Tinta da China
3 estrelas
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Riverside
Comida e livros: estes são dois dos grandes prazeres do Comilão. Pois bem, o Centro Comercial Monumental, no Saldanha, oferecia, até há bem pouco tempo, um pouco de cada. No que toca a comida, o Riverside, um self service (comida ao peso) de gabarito. No dia do seu aniversário, foi lá que o Comilão se lembrou de ir almoçar, com a sua esposa e o pequeno Comilãozinho. E a comida esteve à altura das circunstâncias: maminha (bife, carne tenra, saborosa e bem confeccionada) com batata gratinada e um crepezinho de espargos. Uma combinação vencedora. Sendo este restaurante propriedade de brasileiros com origens italianas, oferece carnes grelhadas (maminha, picanha, salsicha), mas também massas, os ditos crepes, e ainda pratos de peixe, como óptimos filetes panados. Um local recomendado pelo Comilão.
Nesse mesmo centro comercial existiu até há coisa de um mês uma livraria muito apreciada pelo Comilão e sua família. BookIt, penso que era assim que se chamava. Infelizmente parece que fechou, ou tranferiu-se para o Saldanha Residence, mas com muito menores dimensões. Foi lá que o Comilão encontrou KGB - A Face Oculta, de John Barron, que procurava há muitos e muitos anos, e que a sua mulher finalmente encontrou um livro de Antonino Ferro que também há muito cobiçava. O último livro que o Comilão ali comprou chama-se A Holanda no Tempo de Rembrandt, de Peter Zumthor, da série Vida Quotidiana, da editora Companhia das Letras (Brasil). Uma obra muito interessante de que em breve o Comilão fará aqui uma pequeno resumo/ recensão.
Nesse mesmo centro comercial existiu até há coisa de um mês uma livraria muito apreciada pelo Comilão e sua família. BookIt, penso que era assim que se chamava. Infelizmente parece que fechou, ou tranferiu-se para o Saldanha Residence, mas com muito menores dimensões. Foi lá que o Comilão encontrou KGB - A Face Oculta, de John Barron, que procurava há muitos e muitos anos, e que a sua mulher finalmente encontrou um livro de Antonino Ferro que também há muito cobiçava. O último livro que o Comilão ali comprou chama-se A Holanda no Tempo de Rembrandt, de Peter Zumthor, da série Vida Quotidiana, da editora Companhia das Letras (Brasil). Uma obra muito interessante de que em breve o Comilão fará aqui uma pequeno resumo/ recensão.
Lisboa Antiga e Pontão: duas cervejarias
O Lisboa Antiga fica numa zona da cidade de Lisboa que o Comilão conhece mal - Benfica. Foi, por assim dizer, o primeiro restaurante que encontrou (e cujo aspecto lhe agradou). Reconheça-se que para isso também terá contribuído o nome. É uma casa despretensiosa, tipo cervejaria, mas que em certos aspectos até pode assemelhar-se a um snack bar.
Para começar, uns salgadinhos (secos, que se comeram com grande expectativa e pouco proveito) e uns carapauzinhos fritos (decepcionantes, sequíssimos). Pão e manteiga. Excelente saladinha de ovas, abundante e bem temperada. Depois, uma boa carne de porco alentejana (dose generosa) e um óptimo linguado grelhado, com legumes cozidos. Serviço muito simpático e atencioso. Enfim, uma refeição que deixa boas memórias. O preço ter-se-á aproximado dos €40, um valor muito aceitável tendo em conta as quantidades de comida que vieram para a mesa. Veredicto: 3,5 estrelas
Poucos dias antes, o Comilão tinha jantado (já passava da uma da manhã) numa outra cervejaria, desta feita em Linda-a-Velha. A essa hora tardia, o Pontão, assim se chama a casa, estava com grande movimento. O Comilão pediu um prego, mas este demorou tanto tempo a chegar à mesa (incompreensível, mesmo tendo em conta a grande afluência de clientela), que não resisitiu a mandar vir uma saladinha de ovas. Resultado: a salada estava quase insuportavelmente avinagrada (o Comilão só a comeu porque estava com tanta fome que até pedras da calçada era capaz de comer) e chegou à mesa apenas uns instantes antes do prego, esse sim muito bom. Serviço algo negligente. Preço: €10. Veredicto: 2,5 estrelas (merece uma segunda oportunidade)
Para começar, uns salgadinhos (secos, que se comeram com grande expectativa e pouco proveito) e uns carapauzinhos fritos (decepcionantes, sequíssimos). Pão e manteiga. Excelente saladinha de ovas, abundante e bem temperada. Depois, uma boa carne de porco alentejana (dose generosa) e um óptimo linguado grelhado, com legumes cozidos. Serviço muito simpático e atencioso. Enfim, uma refeição que deixa boas memórias. O preço ter-se-á aproximado dos €40, um valor muito aceitável tendo em conta as quantidades de comida que vieram para a mesa. Veredicto: 3,5 estrelas
Poucos dias antes, o Comilão tinha jantado (já passava da uma da manhã) numa outra cervejaria, desta feita em Linda-a-Velha. A essa hora tardia, o Pontão, assim se chama a casa, estava com grande movimento. O Comilão pediu um prego, mas este demorou tanto tempo a chegar à mesa (incompreensível, mesmo tendo em conta a grande afluência de clientela), que não resisitiu a mandar vir uma saladinha de ovas. Resultado: a salada estava quase insuportavelmente avinagrada (o Comilão só a comeu porque estava com tanta fome que até pedras da calçada era capaz de comer) e chegou à mesa apenas uns instantes antes do prego, esse sim muito bom. Serviço algo negligente. Preço: €10. Veredicto: 2,5 estrelas (merece uma segunda oportunidade)
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