quinta-feira, 25 de setembro de 2025

A percepção silenciosa - Boulevard du Temple, de Daguerre

 «A perceção absolutamente silenciosa assemelha-se a uma imagem fotográfica com um tempo de exposição muito grande. A fotografia do Boulevard du Temple de Daguerre apresenta na realidade uma rua parisiense muito movimentada. Contudo, devido ao tempo de exposição extremamente longo, típico do daguerreótipo, tudo o que se move desaparece. Só é visível o que permanece parado. O Boulevard du Temple irradia uma calma quase aldeã», em que todo o ruído está proscrito. «Além dos edifícios e das árvores, apenas se vê uma figura humana, um homem a quem limpam os sapatos, e por isso está parado.» Apenas o longo e o lento se tornam realidade. «Tudo o que se apressa», tudo o que tem pressa – e todos nós temos pressa –, «está condenado a desaparecer. O Boulevard du Temple pode ser interpretado como um mundo visto através de um olho divino. Ao seu olhar redentor apenas aparecem os que permanecem em silêncio contemplativo [ou a engraxar os sapatos, acrescento eu]. É o silêncio o que redime.»

[VARIAÇÕES GOLDBERG, BWV 988, VAR. 25 E 21] Byung-Chul Han, A tonalidade do pensamento, p. 49 (ed. Crítica)


Boulevard du Temple, Louis Daguerre, 1838

O homem a engraxar os sapatos




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