quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Tolstói e os 'instrumentos involuntários da História'

De ora em diante tentarei reanimar o blogue colocando salpicos das leituras que vou fazendo (ainda por cima descobri um software óptimo chamado Text Scanner que passa da fotografia para processador de texto). E começo com um excerto do segundo volume de Guerra e Paz, de Tolstói, que li há uns 15 anos e agora revisito:

«Napoleão iniciou a guerra com a Rússia porque não pôde evitar ir a Dresden, nem inebriar-se com as honras, nem vestir a farda polaca, nem ficar impressionado com o estado de ânimo que, na manhã de Junho, o incitou à aventura, nem conter a explosão de ira na presença de Kurákin e, depois, na de Balachov.

Alexandre recusava-se a quaisquer conversações porque se sentia pessoalmente insultado. Barclay de Tolly tentava comandar o exército da melhor maneira para cumprir o seu dever e ganhar a fama de grande cabo-de-guerra. Rostov lançou-se ao ataque porque era incapaz de conter o desejo de galopar por campo raso. E da mesma maneira agiam, por força das suas características pessoais, dos seus hábitos e das suas condições e objectivos, todos os inúmeros personagens participantes desta guerra». 


E agora o excerto mais genial (itálico meu):

«Eles tinham medo, eram vaidosos, alegravam-se, indignavam-se, raciocinavam, sempre com a convicção de que sabiam o que estavam a fazer e que o faziam em seu proveito próprio, mas todos eles eram instrumentos involuntários da história e levavam a cabo um trabalho obscuro para eles mas claro para nós. Este é o destino imutável de todos os agentes práticos, que são tanto menos livres quanto mais alta é a sua posição na hierarquia humana

Lev Tolstói, Guerra e Paz, volume II (trad. Nina e Filipe Guerra)

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