Fui buscar à estante o magistral KL: a história dos campos de concentração nazis, de Nikolaus Wachsmann. Deixo alguns apontamentos apanhados um pouco ao acaso que me impressionaram tanto hoje como na altura em que o li.
«Durante semanas, no outono de 1942, os SS obrigaram os presos do Sonderkommando a desenterrarem todos os cadáveres enterrados em Birkenau; trabalharam dia e noite, com as mãos nuas, e (segundo uma estimativa de Rudolf Höss) desenterraram mais de 100 mil cadáveres. Um dos presos do Sonderkommando, Erko Hejblum, descreveu posteriormente a sua tarefa: «Andávamos num mar de lama e corpos putrefactos. Deveríamos ter estado equipados com máscaras de gás. Os cadáveres pareciam subir para a superfície - era como se a própria terra estivesse a rejeitá-los». Muitos dos presos do Sonderkommando não conseguiram suportar o pesadelo.» p. 326
«O departamento de contrafacção de Sachsenhausen passou gradulamente de 29 para mais de 140 judeus. A maioria deles chegou de Auchwitz. Um deles, Adolf Burger, sentiu-se «como se tivesse vindo do inferno para o céu». Os presos não eram espancados, tinham comida suficiente, trabalhavam em salas aquecidas, tinham tempo para ler, jogar às cartas e ouvir rádio, e dormiam em camas verdadeiras. A sua tarefa principal era falsificar moeda britânica (as tentativas para copiar dólares americanos nunca passaram da fase experimental). Os presos estimaram posteriormente que tinham produzido notas de banco no valor de 134 milhões de libras. O RSHA só considerou uma fração suficientemente boa para adquirir ouro e bens estrangeiros e para pagar a espiões; uma parte das notas restantes foi largada de avião sobre Inglaterra para desestabilizar a moeda. [...] No fim, graças a uma série de acasos felizes, os presos sobreviveram aos KL. O produto do seu trabalho, que acabou por lhes salvar a vida, também sobreviveu, dado que muitas das notas falsificadas permaneceram anos em circulação.» p. 345
«Alguns formulários chegavam a ter vinte páginas e os reclusos amanuenses dactilografavam dia e noite para dar vazão à papelada. Por seu lado, os médicos SS de Auschwitz queixavam-se de cãibras nas mãos por causa de assinarem tantas certidões de óbito; para facilitar a coisa, encomendaram carimbos com as suas assinaturas.» p. 350
«A partir de 1940, em conformidade com uma ordem de Hitler, reclusos especialmente seleccionados nos KL e nas prisões foram obrigados a despoletar bombas aliadas não detonadas; muitos homens foram pelos ares à frente dos seus camaradas aterrorizados.» p. 416
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