Aqui ficam dois excertos de grande interesse:
“A representação visível da curiosidade – o ponto de
interrogação […] curvado sobre si mesmo, contra o orgulho dogmático – chegou tarde
à nossa História. Na Europa, a pontuação convencional só foi estabelecida no
final do Renascimento, quando, em 1566, o neto do grande impressor veneziano Aldo
Manúcio publicou um manual de pontuação para tipógrafos, o Interpungendi ratio. [...] Um dos primeiros exemplos desses pontos de interrogação encontra-se numa cópia do século IX de um texto de Cícero, agora na Biblioteca Nacional de Paris; parece uma escada que sobe para a direita, numa diagonal serpenteante de um ponto, em baixo, à esquerda. Perguntar eleva-nos" p. 12
Desde que tenho memória, acredito que a minha biblioteca contém resposta a qualquer pergunta. […] Às vezes, procuro um autor ou livro ou espírito
solidário específico, mas o mais das vezes deixo que seja o acaso a guiar-me: o
acaso é um excelente bibliotecário. Os leitores na Idade Média usavam a Eneida
de Virgílio como ferramenta de adivinhação, fazendo uma pergunta e abrindo o
livro em busca de uma revelação; Robinson Crusoé faz basicamente a mesma coisa
com a Bíblia, para encontrar orientação nos seus longos momentos de desespero.
Todos os livros podem ser, para o leitor certo, um oráculo”
Alberto Manguel
Uma História da Curiosidade
Tinta da China
398 páginas, €24,90