sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
A catedral subterrânea (Victor Hugo)
«Na Idade Média, quando um edifício ficava concluído, havia quase tanta construção dentro da terra como fora dela. A menos que fossem erguidos sobre pilotis, como Notre-Dame, um palácio, uma fortaleza, uma igreja tinham sempre um duplo fundo. Nas catedrais, era de alguma forma uma outra catedral subterrânea, baixa, sombria, misteriosa, cega e muda, sob a nave superior que regurgitava de luz e retinia de órgãos e címbalos noite e dia; por vezes era um sepulcro. Nos palácios, nos bastiões, era uma prisão, por vezes também um sepulcro, por vezes as duas coisas juntas. Estas poderosas edificações [...] não tinham apenas alicerces, mas, por assim dizer, raízes que se iam ramificando no solo em salas, em galerias, em escadas, como a construção de cima. Assim, igrejas, palácios, bastiões tinham terra até meio do corpo. As caves de um edifício eram um outro edifício onde se descia em vez de se subir, e que assentava os seus pisos subterrâneos sob as camadas dos pisos exteriores do monumento, como estas florestas e estas montanhas que se reflectem na água espelhada de um lago sob as florestas e montanhas da margem»
Victor Hugo, Notre-Dame de Paris (foto: cripta da igreja d'Anzy-le-Duc)
Existe uma passagem do Baudolino, de Umberto Eco, situada numa cisterna de Istambul, que também explora esta simetria.
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