«Sou um evadido,
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.
Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não cansar?
Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte.
Oxalá que ela
Nunca me encontre.
Ser um é cadeia,
Ser eu, é não ser.
Eu vivo fugido
Mas vivo a valer.»
Ricardo Reis, 5-4-1931
in Fernando Pessoa, Sobre a Heteronímia, Assírio & Alvim