Coloquei o título no original porque o português pareceu-me algo 'sensacionalista' (No bunker de Hitler - Os últimos dias do Terceiro Reich). Abri um pouco ao acaso e logo me deparei com esta passagem tremenda:
«Na capital reinava uma grande confusão. Todas as manhãs punham-se em marcha comandos de emergência, reunidos apressadamente, para reforçar as barreiras das ruas, cavar fossos antitanques, levantar defesas rudimentares com madeira e cimento. Apesar de, à volta da cidade, existirem letreiros que diziam 'Proibido aos refugiados manterem-se na capital do Reich!», nas ruas ainda acessíveis dos subúrbios passavam filas intermináveis de pessoas com cavalos, carroças ou gado, que muitas vezes se metiam nas zonas de combate. As estações estavam a abarrotar com comboios de mercadorias detidos, carregados de alimentos, de tropas de reforço e de feridos. Não havia dúvida de que os bombardeamentos tinham cessado desde que o Exército Vermelho estava perto. Mas a cidade continuava iluminada por novos incêndios e pelo turbilhão de pó incandescente e de partículas de cinza que caía como uma chuva fina e que cobria com uma capa de cal as fachadas, as árvores e as pessoas. Aviões russos sobrevoavam incessantemente a cidade. Os enervantes gritos das sirenes prosseguiam desde há semanas, mas agora tinham um som estridente e constante a assinalar o «alarme de tanques». Por todo o lado viam-se veículos militares queimados ou abandonados por falta de combustível. A artilharia soviética, que se tinha posicionado à volta da cidade, alcançava já todos os bairros incendiando casa antes de avançar com a infantaria. Até algumas ruínas voltaram a ser atacadas pelo fogo, como observam relatos dessas semanas.
Em cada dia que passava, havia uma fábrica, uma oficina ou um serviço de abastecimento que deixava de trabalhar. Muitas vezes faltava a água durante várias horas e, desde o dia 22 de Abril, era condenado quem utilizasse eletricidade para cozinhar. No asfalto amolecido acumulavam-se destroços e lixo, que, juntamente com o cheiro omnipresente da carne queimada, provocam um fedor insuportável. Especialmente nos bairros no interior da cidade, as pessoas não saíam durante dias das caves e das passagens subterrâneas do metro. Aquelas que tentavam sair, cobriam as caras com panos molhados para se protegerem contra os vapores cáustico de fogo e fósforo. A simples sobrevivência era muito difícil. Os últimos jornais, assim como os cartazes afixados nas colunas de anúncios, continham uma mistura de palavreado de vitória e ameaças, em conjunto com bizarros conselhos acerca da maneira de superar os perigos da vida diária. Para melhorar 'a base de proteínas', dizia um desses conselhos, a população devia ir aos inúmeros lagos da cidade e caçar rãs, o que facilmente conseguiam 'ao arrastar trapos de cores na superfície da água perto da margem'.» pp. 85-86