Rembrandt van Rijn, o grande pintor holandês, viveu entre 1609 e 1669 (ano em que foi inventado um sistema de iluminação pública eficaz), um período que praticamente coincide com o século de ouro. É esse século que este livro pretende descrever e caracterizar, através dos espaços (públicos e privados), dos costumes e dos personagens. O resultado é uma história próxima, atenta aos detalhes e pintada com realismo, como a pintura da época.
Aqui ficam alguns excertos saborosos:
«No começo do século XVII o solo da maioria das cidades ainda era de argila ou areia , mas as municipalidades começam a pavimentar a praça principal e as ruas mais importantes que lhe dão acesso: procuram assim favorecer o tráfico comercial»
«Encontram-se ainda ruas não calçadas, verdadeiras cloacas; sobretudo nos bairros velhos e pobres com casas de madeira de tipo medieval [...] que ficam tão próximas no topo que de uma a outra é possível um aperto de mão»
«Já não se construía se não em tijolo, um arenito claro serve comumeente para a ornamentação das fachadas»
«O clima exerce uma acção corrosva tão rápida que é comum alcatroar o exterior das paredes; com isso a cidade ganha uma tonalidade sombria»
«A igreja protestante não é um lugar santo no sentido em que a entendiam os católicos. Nelas se passeava-se quando fazia mau tempo. Ali se faziam assembleias , davam-se concertos»
Os guardas nocturnos e os polícias não gozavam de boa reputação. As diligências usavam velas para aproveitar o vento
»Nas moradias burguesas a cozinha foi promovida a uma dignidade fabulosa e tem algo de templo e de museu»
«Há quase um século utilizam-se facas de mesa. O uso de colher é mais raro. Na casa de muitos pequenos burgueses são consideradas jóias [...] come-se com os dedos e a faca. O garfo só aparecerá por volta de 1700, e por muito tempo será um luxo. Desse modo não se pode dispensar o guardanapo»
«Só os muito pobres, ou alguns camponeses, ainda utilizam, segundo a tradição medieval, uma baixela de madeira» 90
«A batata, introduzida na colecção botânica de Leiden por Clusius a partir do final do século XVI, era tida como venenosa; ricos amadores a cultivavam em seus jardins, assim como o tomate, a título de planta ornamental» 96
«o consumo nacional de cerveja é enorme» 97
«Passadas as dez horas, só ficam nas ruas os guarda nocturnos, os malfeitores em seus cantos escuros e alguns debochados mais ou menos clandestinos» 107
«Os pregadores condenavam até o costume dos passeios no campo [ao domingo] [...]. Desse modo, o domingo é sinistro» 112
«Junto da mãe em trabalho de parto cuida-se para que as velas tenham uma chama azul, sinal de que nenhum mau espírito ronda as cercanias. Logo se enterrá no pátio a placenta»122
Golius «passou três anos no império otomano e de lá trouxe a mais importante colecção de manuscritos orientais na Europa»145
Paul Zumthor
A Holanda no Tempo de Rembrandt
Colecção A Vida Cotidiana
Companhia das Letras (Brasil)
4 estrelas
sexta-feira, 6 de abril de 2012
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