É também o autor de O Dilema do Omnívoro. Mais recentemente foi editado em Portugal Em Defesa da Comida (ambos os livros pela Dom Quixote), que o comilão anda a ler. Aqui fica um excerto para abrir o apetite:
«Não deverá tardar muito até que as barras de chocolate anunciem na embalagem os seus benefícios para a saúde, com a aprovação do FDA [Food and Drugs Administration]. (Quando isso acontecer, o nutricionismo terá certamente entrado na sua fase barroca.) Felizmente para todos os envolvidos neste jogo, os cientistas conseguem encontrar um antioxidante praticamente em qualquer alimento de origem vegetal que decidam estudar.
No entanto, regra geral, é muitíssimo mais fácil pespegar um anúncio de 'benéfico para a saúde' numa caixa de cereais açucarados do que numa batata ou numa cenoura crua. O perverso resultado disto é que os alimentos mais saudáveis à venda no supermercado são remetidos ao silêncio da secção de frescos, mudos como vítimas de um AVC, enquanto, alguns corredores à frente, na zona dos cereais, os Cocoa Puffs e os Lucky Charms gritam os seus 'benefícios de cereais integrais' aos consumidores hesitantes.
Cuidado com esses anúncios.» (págs. 54-55)
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
o sentido do equilíbrio
No seu célebre e admirável conto Funes el memorioso, Jorge Luis Borges fala de um índio dotado de uma memória prodigiosa. Este homem não se recorda apenas de imagens, lugares, pessoas, conversas. Recorda-se também de cheiros, sabores, sensações térmicas (o Comilão considera essa referência ao frio e calor um contributo inestimável de Borges para a literatura). E, nessa mesma linha, o Comilão gostaria de dar mais uma achega. Além dos sentidos tradicionais, há um aspecto que muito contribui para a nossa percepção do mundo: a sensação da gravidade e o equilíbrio. A anulação do peso do corpo, a sua 'levitação', constitui um dos grandes prazeres que a vida pode proporcionar ao homem, ainda que pouco reconhecido. Por isso as crianças adoram pular em colchões, por isso os rapazes passam horas nas ondas, por isso boiar é tão relaxante, por isso as pessoas não gostam de viajar de costas para o comboio, por isso os velhos apreciam as cadeiras de baloiço, que imitam o movimento pendular de um navio.
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
uma falha no português
A palavra 'vegetariano' nem sempre se refere a uma pessoa que se alimente exclusivamente de vegetais. Um 'vegetariano' pode comer ovos ou peixe. Ou seja, a palavra refere-se a todo aquele que não come carne. Por isso o Comilão gostaria de arranjar uma palavra que substituísse vegetariano nessa acepção, de forma a que vegetariano se refira a uma pessoa com uma alimentação realmente vegetariana. Assim, a palavra indicada para aquele que não come carne deveria ser... sarcófobo (de sarkos, carne em grego, mais fobos. Aquele que não gosta de carne).
o livro que pode ter mudado a minha vida
O Comilão acaba de ler um livro sobre a figura absolutamente inspiradora de Steve Jobs: iSteve - na mente de Steve Jobs (esta é a capa da edição inglesa). Aqui fica uma síntese.
Tem a alcunha de Hatchett (machadinho) Jobs por ser perito em despedir pessoas (embora o boato de o fazer nos elevadores não passe disso mesmo). Com a venda da Pixar por 7.600 milhões de dólares, tornou-se o maior accionista individual da Disney. Tinha adquirido a empresa (que em 95 fez o primeiro filme de animação a computador) a George Lucas em 85 por 10 milhões.
Foi entregue pelos pais biológicos a outro casal. Na adolescência roçou os limites da marginalidade. Nunca acabou o curso e experimentou uma dieta de maçãs para não ter de tomar banho.
Trabalhou na Atari (jogos) até ter dinheiro suficiente para fazer uma viagem de busca espiritual à Índia. Quando regressou fundou a Apple com o génio informático Steve Wozniak. Montavam computadores à mão na garagem dos pais de Jobs. O primeiro Mac nasceu em 1984. Jobs queria blindá-lo, de forma que o dotou com parafusos especiais que só podiam ser tirados com uma chave de 30 cm. Sai da Apple em 85. Entretanto funda a NeXT, onde desenvolve um sistema operativo que vende à Apple em 96. Dois anos depois acaba por se tornar CEO quase naturalmente. Reduz a oferta da empresa a quatro produtos: dois desktops e dois portáteis. Vocaciona-a para o segmento alto: assim consegue obter 25% de lucro em cada computador que vende, em vez dos 5-7% das outras empresas.
«Como os operacionais da CIA, os funcionários da Apple não falam sobre o que fazem, nem mesmo com as pessoas de mais confiança: cônjuges, namorados ou pais. Muitos nem se referem à empresa pelo nome. Alguns empregados da Apple referem-se-lhe como 'a companhia da fruta'».
Em Outubro de 2001 lança o iPod (o nome foi inspirado no filme de Kubrik 2001, Odisseia no Espaço). A sua obsessão pelo perfeccionismo é tão grande que manda substituir a ficha dos phone do iPod por não produzir um clique satisfatório. Quando lhe colocaram obstáculos a fazer uma placa mais bonita e alegaram que nem seria visível ao cliente comum, ripostou: «Um bom carpinteiro não usa madeira de segunda para construir as costas de um armário, mesmo sabendo que essa parte do móvel não ficará à vista».
É vegetariano (dos que comem peixe), budista e costuma andar descalço, mas viaja num jacto particular de 90 milhões de dólares. Um alto quadro da Apple que foi a sua casa diz que esta estava quase despida porque Jobs não encontrava mobiliário que lhe agradasse. Tinha uma grande foto de Einstein na parede e um piano alemão. Quando teve de substituir a máquina de lavar roupa Jobs envolveu toda a família numa discussão que durou 2 semanas. Acabou por optar por um modelo alemão. Considera a maioria dos produtos ridículos de tão mal concebidos e a maioria das pessoas burras. Diz que o grande problema de Bill Gates é nunca ter tido uma trip de LSD. Acerca da sua doença em 2004 disse: «O médico aconselhou-me para ir para casa pôr as coisas em ordem, que é o código que os clínicos usam para nos preparamos para morrer. Significa tentar dizer aos nosso filhos tudo o que pensávamos dizer-lhes nos dez anos seguintes, mas só dispomos de uns meses para o fazer». A verdade é que Jobs já vivia obcecado com a morte desde que andava na casa dos 20 anos. Contou a Scully estar convencido de que teria uma vida muito curta. (pág. 22)
Dois episódios japoneses: «Morita [o lendário patrão da Sony] presenteou o par [Scully e Jobs] com um dos primeiros walkman que saíram da linha de produção. 'Steve ficou fascinado. Por isso a primeira coisa que fez foi desmontar o aparelho e observar os componentes, peça por peça'.» (pág. 153)
Acerca do alumínio: «Passámos algum tempo no Norte do Japão, onde falámos com um mestre do trabalho em metais, de forma a conseguir um certo nível de aperfeiçoamento» (pág. 85)
Charlie Booker, comediante britânico, odeia os Mac: «Se acredita mesmo que precisa de um telemóvel que 'diz algo' sobre a sua personalidade, não se preocupe. Talvez sofra de uma doença mental - mas não tem personalidade» (pág. 116)
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Não sei o que quero
À noite, quando me deito,
desejo que a manhã chegue depressa
para continuar a aprender, a trabalhar, a instruir-me.
De manhã, quando o despertador toca,
só queria que ainda fosse noite
para poder continuar a dormir.
desejo que a manhã chegue depressa
para continuar a aprender, a trabalhar, a instruir-me.
De manhã, quando o despertador toca,
só queria que ainda fosse noite
para poder continuar a dormir.
Ratso
The Midnight Cowboy (1969), de John Schlesinger, foi o único filme X-rated (para maiores de 16, depois passou a 18) a vencer o Óscar de Melhor Filme. Tem uma das grandes cenas do cinema americano. Enquanto abre o frigorífico, que usa como armário para proteger os alimentos dos ratos, Dustin Hoffman (Ratso) diz na sua voz nasalada para Jon Voight:
«There are two basic items necessary to sustain life: sunshine and coconut milk»
Informação práctica
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